Dia destes, fui convidado a participar de um seminário sobre “Desenvolvimento Internacional” em
Trinidad Tobago Aceitei prontamente, mas fui pego de surpresa.
Todas as companhias aéreas que voam para o Caribe têm que pousar, primeiro, em Miami.
Na ida e na volta. Todos os vôos são via Miami. .
De qualquer forma, pensei, é só para trocar de avião e isto leva, no máximo, uma hora.
Embarquei feliz pois ia conhecer mais um novo lugar no planeta.
Em Miami, a conexão para Trinidad foi imediata. Foi só tirar a mala de um avião e passar para o outro.
A primeira parte do seminário foi em Tobago. Ilha pequena de poucas atrações, praias razoáveis e comida diferente. Alguém já ouviu falar em “ackee”? É uma frutinha que , feita com bacalhau , dá um sabor especial à ilha. Nunca ví nada parecido por aquí. Trocadilho infame ein?
E entre palestras e debates passamos uma semana formidável.
Mas o Natal estava chegando e resolvemos marcar nossas passagens aéreas para a véspera. Assim, cada um estaria de volta para passar o Natal em casa.
No dia 23 de dezembro embarcamos em Santo Domingo para fazer a tal baldeação em Miami e chegar na terra pátria.
Acontece que o meu visto de entrada nos Estados Unidos estava vencido e comecei a viver uma situação bem diferente.
De cara, fui levado para uma sala de espera trancada. Era até bem grande
pois estavam alí, na mesma situação que eu, pessoas de todas as idades, nacionalidades, raças, credos e cores.
Um grupo, bem alegre, parecia de italianos pois ao longe via gesticularem
sem parar. Cheguei mais perto, ouví e ví a deliciosa língua em sons e
gestos. “Tutti buona gente”.
Num canto, um casal sisudo de louros jovens. Alemães, ainda com o cheiro
da batata assada e do “chucrute”. “Sig Heil”.
No outro, um grupo de camisetas e bermudas iguais com a inscrição Barbados. Fiquei pensando... Será que eles estão fazendo uma excursão pelo Caribe?
Que falta total de imaginação. É como se nós, de Belo Horizonte, resolvêssemos pegar uma jardineira e fôssemos viajar pelo roteiro Betim,
Baldim, Partido Alferes, Porto Novo do Cunha e Crucilândia. Que fim de
semana bárbaro!!! “Saludos muchachos”.
Com isto, fui me distraindo e não percebí que o meu vôo tinha sofrido um atraso e que só iria embarcar às duas da manhã, portanto, depois da meia
noite.
Os grupos foram embarcando, a sala foi ficando vazia e restou somente
uma família de japoneses na salona de espera. Impassíveis,
aguardavam o chamado para embarque. Também, não
estavam nem aí para a passagem do dia 24 para 25. Dias normais no calendário budista. “Arigatô” amigos, pela fria companhia nesta estranha noite de Natal.
Já conformado com a situação, tratei de localizar uma daquelas máquinas que fornecem comidas e bebidas variadas. Encontrei algumas. No entanto, elas só
continham sanduíches e gelatinas, com uma boa variedade de refrigerantes.
Nada de perú assado, arrozinho branco, frutas da estação, muito menos
castanhas, avelãs, pistaches “y otras cositas mas”. Quem sabe um bom
champanhe? Nada. Um vinho seco? Nem pensar. Uma zurrapa qualquer?
Nem isto. Cerveja, claro, para tomar um porrezinho leve. “No beer at all”.
Era só refrigerante e suco de laranja, uma verdadeira tragédia.
Subitamente entra na sala uma lindíssima mulher, casaco de pele, saltos muito
altos e extremamente elegante, escoltada por dois guarda-costas que não lhe
tocavam mas tinham os olhos fixos em todos seus movimentos.
Os brutamontes entregaram os documentos dela ao atendente no balcão de
embarque, recomendaram alguma coisa que não ouví e foram embora.
A um chamado para Tóquio, os japoneses atenderam em fila indiana, mulheres na frente, homens atrás e partiram. “Saionara”.
Sobramos, portanto, os dois pois os atendentes também pediram licença
e foram para o escritório do gerente do aeroporto para confraternizarem-se
com os colegas. Trancaram a porta e nos desejaram “Merry Christmas”.
Assim, passamos um Natal a sós e muito bem acompanhados.
“See you”.