sábado, 5 de maio de 2012

NOS JARDINS DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS

Pelo menos uma vez por semana eles se encontravam. Davam uns beijos nas escadas do prédio onde ela morava e saíam para dar uma volta. Mas não eram namorados.  Entravam num barzinho, bebiam alguma coisa, geralmente um ou dois cuba libres, encontravam um amigo ou uma amiga, conversavam um pouco e continuavam passeando. Eram encontros sem compromisso. A prosa era boa, os assuntos eram variados, gostavam de ficar se pegando, mas não eram apaixonados. Eles gostavam era de ficar juntos, ao luar, no jardim do Hospital das Clínicas. Sentados ou deitados naquele jardim, cujas árvores frondosas e centenárias encobriam qualquer romance ao ar livre.  Ali ficavam à vontade e era o que queriam.
Ela, uma bonita loura, nascida no Rio de Janeiro. Alta, olhos azuis, pernas finas e bem feitas, corpo e rosto de modelo, mãos delicadas e bem cuidadas, uma menina de dezesseis anos muito apetitosa. Ele, um mineiro boa pinta, cabelo grande e ondulado, moreno de olhos castanhos, magro e elegante, que só andava com um paletó preto surrado, herdado do pai, e calça de lã para enfrentar as noites frias e úmidas de São Paulo. Quando chegavam ao refúgio preferido, a coisa começava a esquentar. Um beijo daqui, um aperto dali, mãos frenéticas buscando a pele um do outro, beijos e apertos cada vez mais voluptuosos, os dois iam explorando ao máximo seus desejos. Em pé, atrás de um grande tronco de árvore, eles sumiam da visão de quem passasse pela rua, que era relativamente próxima.
A noite ia tardando e as pessoas rareando naquelas paragens, o que facilitava o andamento do amor escondido. Já podiam sentar e ir se despindo, sem muito risco de alguém passar. O frio cortava, mas o calor dos seus corpos cobria tudo. Primeiro as roupinhas de cima. Ficavam um bom tempo alisando um ao outro e se beijando. Depois, arriscavam mais umas peças enroscavam-se no chão, sobre as folhas molhadas e a grama. Não tinham pressa, queriam aproveitar ao máximo aquele encontro de todo sábado, quando a noite era a mais longa e a mais livre. Carinhosa, ela retribuía os carinhos na mesma intensidade, uns mais demoradamente, e ela amolecia, virava os olhos e queria mais. E nesse pega e agarra, as últimas peças caíam na grama e se entregavam ao mais profundo amor. Ficavam horas e horas, prorrogando ao máximo o prazer de estar juntos. O sexo forte exalava dos seus corpos e inundava o quarteirão e o bairro, culminando com um berro seco e profundo. 
RHB – fevereiro/2007.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
O melhor movimento feminino ainda é o dos quadris.
Millôr Fernandes