segunda-feira, 13 de junho de 2016



VIAJANTE DISPLICENTE
Vai chegando o inverno e me lembro de uma bobeira que dei numa de minhas viagens. Sempre fui chato com minhas roupas, desde quando mamãe costurava minhas camisas. Sentava-me ao lado dela na máquina de costura velha que havia herdado da mãe, vovó Augusta, e ficava dando palpites: a gola tem que ser assim, as mangas podem ser mais compridas, quero dobrá-las até os cotovelos, os botões que gosto são os de quatro furos e assim por diante. Um chato piruando no ouvido dela até que a camisa ficasse pronta. Coitadinha, ela ria e confirmava: você é um chato mesmo, Roberto, mas gosto de costurar pra você. Você sabe o que quer!
Ríamos muito e eu saía na mesma hora com a camisa nova, achando que estava abafando. Um chato vaidoso!
Voltando ao início da prosa do inverno: eu estava em Paris e no último dia resolvi comprar um paletó de couro preto com bolsos, gola e punhos pespontados. O modelo estava na minha cabeça e mamãe estava longe para me atender. Meti-me num táxi e pedi ao motorista para me levar a uma loja de roupas de couro, antes de embarcar. Biensur monsieur, je connais tout.
Na primeira, nada do paletó imaginado; na segunda, na décima até que,  já a caminho do aeroporto, achamos mais uma loja, e foi onde encontrei a “raridade”: napa preta, botões de osso com quatro furos, golas pespontadas e tudo mais. Fiquei radiante! Vesti o bacana, na hora, enfiando logo num dos bolsos dois magazines (pentes de balas) de uma PPK, que o papai havia me encomendado. Enfim, chegamos ao Aeroporto Charles De Gaulle, agradeci ao taxista pela paciência (os franceses geralmente não têm nenhuma) e fui embarcar.
Como já estava muito empacotado, camisas, blusas, capa, etc. - o frio era de 10º. C -, tirei o paletó maravilhoso e aí, burro ou displicente, o enfiei na bagagem de mão, despachando-a com a minha mala.
Depois de vários whiskies, vinhos e um lauto jantar, acordei meio ressaqueado para desembarcar no Galeão. Zonzo, cheguei à esteira de bagagens e vi a minha mala e, junto, a sacolinha, que havia despachado em Paris quase estufando, agora estava murcha. Desapontado, imaginei a cena: o carregador de bagagens percebendo a gordura da sacolinha pensou, deve ter coisa boa aí. Destrancada, foi fácil tirar o maravilhoso paletó, vesti-lo e desfilar poderoso pelos salões do Galeão.
Fica a advertência: nunca despache malas/sacolas sem trancas ou cadeados, elas sempre voltam vazias. (Foto Google)

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS 
“A valsa e o vinho sempre pedem bis.” Joahann  Strauss (1825-1899)