Papai acordou mais tarde, pois se levantava todo dia às 4 da manhã, para ir para o Hospital Central do Exército em Maguinhos. Ele pegava um ônibus na Av. Nossa Senhora de Copacabana, ia até a estação da Central do Brasil e, de lá, pegava o trem que ia até Manguinhos, subúrbio do Rio de Janeiro.
Nós morávamos numa pensão na Rua Constante Ramos em Copacabana. Os quatro num quarto de fundo de uma casa que uma senhora alugava. Dona Nina só alugava os quartos para “gente de família”, como ela dizia. A família inteira num quartinho.
E os quatro da família do Primeiro Tenente Médico do Exército Brasileiro, Dr. Helvécio Brandão, se levantaram às sete e meia, para pegar um solzinho no Posto Seis da praia de
Copacabana. O dia estava lindo, como todos os dias do outono. Céu azul, claro, um ventinho morno que vinha com a brisa da praia, onde já estavam acampados diversos habitués da famosa praia.
Deitamo-nos em pequenas toalhas na areia fina e fofa sob um guarda-sol simples e colorido. Cada banda era de uma cor, que a mamãe havia espetado na areia. Ela sempre fazia estes trabalhos “mais duros”, sendo observada pelo papai que ficava em pé, ao lado dela, consentindo com o eficiente serviço da esposa.
Lembro-me de eu que tinha queimado o pulso no ferro de passar roupas e usava uma gase enrolada para proteger o ferimento. Mamãe me aconselhou, não deixe molhar viu filhinho! Senão, demora muito pra cicatrizar...
Vaidoso, como sempre, vesti meu calçãozinho azul marinho, de cinto branco, com uma fivela prateada, que eu adorava, a Lúcia vestiu seu maiozinho inteiro, cor de vinho, que eram as únicas roupas de praia que tínhamos, a mamãe seu maiô de duas peças com flores e o papai seu short verde claro e saímos de mãos dadas para a praia. Mamãe carregava as toalhas e o guarda-sol.
Morávamos a dois quarteirões da praia, era só atravessar a Rua Barata Ribeiro e a Av. Nossa Senhora de Copacabana, para chegarmos na Av. Atlântica, uma única pista estreita que atravessávamos com cuidado, no sinal, até chegarmos ao seu passeio decorado com aquelas curvas nas pedras portuguesas, cheio de banquinhos de marmorite.
De um pulo, estávamos na areia fina de uma praia enorme com alguns banhistas, frequentadores assíduos, mas muito pouca gente. Naquela manhã, juntou-se a nós Mr. Rown, professor de inglês do papai. Pela cabeça dele passavam-se diversos planos que ele não revelava. Alguns anos mais tarde descobrimos que ele pretendia morar nos Estados Unidos. Assim, começou a estudar inglês até ser convidado em 1947, já tendo dado baixa no exército, para lecionar numa universidade em Little Rock , capital do estado de Arkansas.
Sonhos, sonhos e mais sonhos.
Ps. Como a relação de músicas brasileiras ainda não está postada, sugiro ouvirem A Famous Myth, com o The Groop, para ilustrar musicalmente
esta crônica.