BOAS LEMBRANÇAS NO BUGRE.
A semana passada poderia ter sido como qualquer outra, mas, com dedicação, carinho e muita vontade, tornou-se uma das mais felizes da minha existência.
Convidado pelo Ronald para ir a São Paulo a fim de atender a um cliente dele, a Gulfstream, maior fabricante de aviões executivos do mundo, embarcamos às 10:30 em Confins, para uma visita à 2012 LABACE, 9th Annual Latin American Business Aviation Conference & Exibition. Para mim, uma experiência extraordinária, pois, como sou aficcionado por aviões, lá estavam expostas setenta joias, entre aviões e helicópteros. Uma exuberância aérea!
Hospedamo-nos no IBIS Aeroporto de Congonhas, a cem metros da super feira. Da
janela do quarto assistimos ao pouso e à decolagem de diversos aviões, como numa outra época, em Amsterdam, na Holanda, em que fiquei hospedado num hotel ao lado do imenso aeroporto de Scchipol, e pela primeira vez vi um Jumbo 747. Para quem gosta, esta visão é fenomenal. Um avião atrás do outro chegando ou partindo, como na música do Fernando Brant, chegadas e partidas, são dois pontos da mesma viagem. O trem que chega é o mesmo trem da partida. A hora do encontro e também despedida...
E com aquela visão, fiquei contando os minutos para reencontrar os meus queridos amigos da turma da Arruda Alvim, hoje uma rua fria, sem casas, cujo único prédio é o Ed. São Miguel Arcanjo, onde morei por dez anos.
Quem iria? Quantos seriam? Será que todos foram avisados? O sonho foi-se transformando em realidade quando tomei um táxi com o Ronald e o filho dele, o Renato, exímio conhecedor de ruas, nomes e trajetos daquela super metrópole. Aportamos o táxi no restaurante “A Caverna do Bugre”, na Rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, lugar de incontáveis encontros e confidências, na gloriosa década de 1950.
A Marília, casada com o Zezé, foi a eficiente e dedicada coordenadora desse encontro feliz, reservando mesa com doze lugares para acomodar uma turma de velhos amigos, na mais perfeita acepção do termo já que o mais novo, o Ruy, está beirando os 66, com barba e cabelos brancos. Quando chegou, logo perguntaram: Quem é este, Maninho, duvido que você saiba? Respondi pronta e seguramente: Este senhor é o Ruy Mendes de Freitas. Naquela década, ele ainda usava calças curtas, mas estava sempre por perto, curioso com os nossos programas e soube até que, já adulto e muito bonito, havia namorado com a não menos maravilhosa Maysa Matarazzo, entre outras. Será?
O irmão dele, o Robertão, chegou um pouco depois com a esposa Sandra. Cumprimentei com muita alegria o Desembargador aposentado e, naquele momento, lembrei-me de que, na nossa juventude frenética tivemos uma briga ferrenha quando ele me ameaçou com uma corrente de bicicleta na garagem da casa dele. Ele avançou para me bater, mas não acertou, pois me desviei e ele deu uma correntada no carro xodó do pai dele, um Rover verde escuro, novinho. Apertados pelo estrago, esquecemos as nossas desavenças e nos empenhamos em corrigir o arranhão que marcou um dos paralamas do Rover, com o Ruysinho ajudando, claro. Bobagens, simples briguinhas de irmãos.
Não os via há mais de cinquenta anos, bem como o Jalil, meu colega de sala no Ginásio Castro Alves, e companheiro do time de basquete da escola. Formamos, junto com o Pique, morto prematuramente, o ala Cláudio e o Pega Balão, como pivô, um dos melhores times da escola. O apelido do pivô justificava a posição. Eu era reserva do Aquiles, jogador baixo, mas muito veloz nas retomadas da bola.
Naquele momento, lembrei-me das barraquinhas juninas montadas em frente à Paróquia do Cristo Redentor, que ia da Cardeal Arcoverde até a Teodoro, onde tomávamos vinho quente e comíamos batata doce e pipoca, paquerando as mocinhas graciosas do bairro. Curiosamente, achei que o Jalil havia encolhido ou eu havia crescido, pois, hoje, estamos do mesmo tamanho e eu sempre tive a impressão de que ele era bem mais alto do que eu.
Apareceu também para o nosso encontro a suave Ana Lúcia, irmã do Maurício Gama, soldadinho do serviço militar, que descia do bonde na Teodoro e atravessava a Arruda Alvim até a Av. Dr. Arnaldo, onde moravam. Ela nos revelou que o Maurício era muito ciumento, não permitindo que ela aparecesse nas nossas reuniões onde havia muito violão, cantoria, e nada mais. Eu nunca desconfiei disto.
O Ná e o Zezé lembraram-me de quando, no quintal da casa deles fazíamos halterofilismo para exibir nossos bícepes, nas tardes de domingo na Rua Augusta, espremidos nas janelas do Volkswagen preto, 1955, alemão legítimo. Pintamos os cubos das rodas de vermelho para personalizar o carro e rodávamos por toda São Paulo até que, numa tarde de muita garoa, descíamos a Via Anchieta para um fim de semana em Santos quando o Zezé alertou o pai dele ao volante: Pai, cuidado, porque o trânsito está parado. Apesar do Dr. Renato ser um bom piloto, com o chão molhado não conseguiu desviar e batemos na traseira de um ônibus. Desapontados, demos meia volta para São Paulo, o Ná e eu tristíssimos no banco de trás.
Apareceu no Bugre, também, o Geninho, com quem não me encontrava há muitos anos. Depois de muitos filés à parmegiana, litros de cerveja e tira-gostos deliciosos, aceitamos uma carona para o hotel, mas o carro dele havia ficado trancado no estacionamento que fechava à meia-noite e já passava de uma hora. Como retribuição à gentileza frustrada, oferecemos uma carona no nosso táxi e o deixamos em casa, bem próxima de Congonhas.
Quero registrar que a felicidade desses encontros é tão grande que tomo a liberdade de sugerir que aconteçam com mais frequência. Por exemplo, se organizarem um churrasco num fim-de-semana, passo a mão no violão, meu companheiro inseparável, e me mando para São Paulo. É claro que isto poderia ser feito aqui também, mas acho que BH não tem o clima para uma reunião tão saudosista. E tenho certeza de que a Lúcia também irá “aparecer” para uns goles!
Belo Horizonte, 19/08/2012.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“Somos donos de nossos atos, mas não donos de nossos sentimentos; Somos culpados pelo que fazemos, mas não somos culpados pelo que sentimos; Podemos prometer atos, mas não podemos prometer sentimentos... Atos são pássaros engaiolados, sentimentos são pássaros em vôo.” Mario Quintana