TO DRINK OR NOT TO DRINK, THAT`S THE QUESTION
Que encrenca essa agora! A gente passa a vida se comportando de forma até bem razoável, bebendo, fumando, etc. e tal e, de repente, o legislador decide sobre qual a quantidade mínima tolerável para se beber. Devo confessar que tenho entornado litros e litros de cerveja, whisky e vinho há mais de cinquenta anos e só me aconteceram poucos acidentes, apesar da bebedeira. Alguns ocorreram, é certo, porém, eu sempre estive sóbrio em todos eles. Com a cara cheia têm, até, alguns casos, bem pitorescos, sem acidentes, como no dia em que fomos almoçar no sítio do Eloy, na Pampulha, onde tomei diversos daqueles litros citados e preparei uma elogiada lasanha de bacalhau, uma das minhas especialidades. Na volta, o Eloy me pediu que trouxesse o garçom até o centro da cidade. O rapaz se aprontou e sentou-se apertado no banco de trás do Escort conversível, junto com o Pedro e o Frederico. A viagem transcorreu normal, até que, não sei por que, parei em frente ao Mineirão, puxei o freio de mão e continuei guiando, como se estivesse em pleno trânsito, porém, com o carro estacionado. Creio que deve ter sido por influência da música que estava tocando no som do carro: Big Yellow Taxi, maravilhosamente interpretada pela Joni Mitchel. Fiz questão de cantar com ela até o final. Eu vivo cantando no carro, mas não precisava parar e fingir que estava guiando só para desfrutar da música. É mania de músico frustrado e não de cachaceiro e demonstra bem o meu comportamento no trânsito, mesmo com a cara cheia. Até mesmo quando resolvo cantar ao volante, paro o carro e “no accidents at all.” O garçom, claro, pediu para descer no próximo ponto de ônibus e saiu rápido e pálido.
Numa outra vez, capotei meu Gordini na estrada do Rio. Voltávamos de Itacoatiara, bela praia de Niterói, onde havíamos passado dez dias, com todos os litros e peixes disponíveis. Depois do almoço de um belo dia, quatro horas da tarde, resolvi voltar para Belo Horizonte. Fizemos as malas e partimos às seis e meia. Tudo bem até Congonhas, quando lá pela meia noite, sonolento, resolvi tirar uma soneca, acompanhando a Carminha, que estava dormindo encostada na porta apoiada num travesseiro. Saí da estrada, demos umas três cambalhotas e fomos cuspidos para fora do carro, então, totalmente destroçado. Conseguimos sair das ferragens, pegamos as malas espalhadas pela estrada e ganhamos uma carona num enorme caminhão vermelho. Desembarcamos uma hora depois em casa. Meno male. Vendi o Gordini para um ferro-velho, minha mulher passou um mês de cama com uma lesão na coluna, sem consequências graves, eu quebrei algumas costelas e cortei a cabeça em nove lugares, três em cada capotada. Registre-se: não havia álcool nem no carro, pois, na época, só abastecíamos com gasolina e os carros ainda não tinham cintos de segurança. Uma lástima!
Ah! Alguns anos antes, papai viajou para São Paulo e, pela primeira vez, deixou o Mercury comigo. Fui levá-lo ao Aeroporto da Pampulha e fiquei motorizado somente por um dia, pois à noite, radiante, fui namorar na Cidade Jardim, seguindo despreocupado pela Av. Paraúna, hoje Getúlio Vargas, quando um amigo passou de carro do outro lado da avenida e abanou a mão me saudando. Cumprimentei-o efusivamente e enfiei o Mercury numa árvore, daquelas que ficavam no meio da rua. Foi uma batida e tanto. Amarrotei a frente do carrão e sentei-me chorando no passeio, pois não sabia como contar ao papai sobre o acidente. Ele adorava o Mercury, que ficou recolhido por seis meses numa funilaria, lá do bairro Prado. Once, no alcohol at all.
Depois, certa manhã, quando tomei um táxi, indo jogar peteca na casa do Flávio, na Pampulha, um tresloucado, ao volante de um Ford, acertou-nos em frente à Churrascaria Fiesta Brava. Sem trocadilho, a coisa foi braba mesmo. Saí do ar por uns seis meses, devido a um traumatismo craniano, e só. Rinnovo: meno malle, anche. E até achei que ficar doido por seis meses foi até bom, pois, no período, aproveitei para refletir muito sobre o meu sobrevôo na Av. Antônio Caram, indo enfiar a cara num monte de terra da obra do Mineirinho. Só perdi uma jaqueta e passei uma temporada fora do ar, mas foi ótimo. Sem álcool, novamente.
Não vejo, assim, nenhum motivo para parar de beber, pois nenhum daqueles acidentes ocorreu devido ao uso ou abuso do álcool. Todos aconteceram no meu estado de total sobriedade. Assim, “vamos a beber porque para no beber hay siglos...”
Roberto H. Brandão – 16/07/2008
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS