sábado, 1 de agosto de 2015

Atuá kamba
No final do século XIX, o português Manoel Corrêa da Costa comprou uma gleba de terra no Estado do Mato Grosso, casou-se com uma índia, raptada da tribo dos Apiacás, e reproduziu uma enorme prole de mestiços que se estabeleceram em diversos pontos do Brasil.
O mais velho, a quem registrou com o nome de Manoel Hermeto Corrêa da Costa, se debandou para o Rio de Janeiro, indo  trabalhar numa fábrica de tecidos. Com o tempo, foi chamado para abrir uma filial da fábrica em Lavras, no sul de Minas, onde conheceu Maria Augusta, vinte anos mais nova, menina muito educada e habilidosa na costura e na cozinha. Outra grande prole se formou ali, filhos herdaram o nome próprio do avô: Hermeto. Somente alguns desta nova prole mantiveram o sobrenome da mãe, Pádua Costa, outros mantiveram o do pai, Corrêa da Costa; porém, as gerações seguintes aboliram os sobrenomes compridos e adotaram o Hermeto como nome de família.
Foram onze os irmãos Hermeto que, nesta rápida história de família, resolvi chamá-los de “nucas pretas” em homenagem a minha mãe, que foi quem descobriu essa curiosidade familiar.
Quando os cabelos dos Hermeto vão começando a embranquecer, resta-lhes uma faixa de cabelos mais escuros na nuca. Mamãe havia notado nos cabelos dela, nos da Lúcia, minha irmã, e nos meus.
No domingo passado, quando nos encontramos para um café na casa da Tia Marina, constatamos que a Hyla, a mais velha das primas, ali presente; o meu primo Maurício, o mais velho dos primos homens vivos, e eu também ostentávamos a risca preta na nuca. Então, com cuidado, pesquisei a cabeça da tia Marina e ali descobri uns poucos fiozinhos pretos na nuca apesar das suas 98 primaveras. Marca de família, quem sabe?
Em tempo: “Nucas pretas”, numa versão livre para o tupi-guarani é “atuá kamba”, em homenagem à nossa bisavó india.
Belo Horizonte, julho/2015.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“O homem deve ser reinventado a cada dia.” Jean-Paul Sartre