domingo, 17 de janeiro de 2016

Estava distraído aqui na Toca, ouvindo música e escrevendo, quando escutei uma falação, uma conversaria danada que parecia vir da rua. Chequei até a varanda e vi uma verdadeira multidão na porta do meu prédio, apontando e olhando para cima. Acompanhei os dedos e braços apontados e, como eles, também fiquei encantado. No alto do belo prédio, meu vizinho, que dá frente para a Rua Bernardo Guimarães, estava pousado um enorme arco-íris. Daqueles belos, que iluminam o fim de tarde da nossa não menos bela Horizonte.
Quando todos nós observávamos a fantástica aparição, surge um avião por detrás do prédio e atravessa o arco-íris em toda a sua extensão. Parecia que o piloto, também encantado, queria voar até o fim do arco-íris para descobrir seu segredo. Há uma lenda que fala sobre alguma coisa escondida atrás do arco-íris, um pote de ouro, quem sabe?
Muitos incorrigíveis românticos já andaram na busca que esta lenda excita, porém, nunca ninguém deu notícia de nada. Voltam sempre de mãos e ideias abanando. Nada além do arco-íris...
Já eu, que acredito piamente nesta história, vou continuar buscando o tal pote de ouro.
Lembro-me que estava na Jamaica, em Ocho Rios, numa região interessante, onde o rio encontra o mar numa forte correnteza, sobre a qual os inocentes turistas são induzidos a escalar, subindo pelas pedras, no sentido contrário ao seu curso. Uma loucura!
Fiquei observando os intrépidos aventureiros, meus colegas do grupo Fellows II, sentado numa ponte e rodeado por mais de uma dúzia de latinhas de cervejas jamaicanas, que são bem razoáveis. Daquele ponto, avistei um arco-íris formado no mar e que entrava terra adentro, numa mata fechada, que abrigava esta embocadura do rio com o mar. Eu estava, exatamente, neste ponto de encontro do arco-íris com a mata.
Pensei rápido: é hoje, estou pertinho do pote de ouro. Comecei a buscá-lo, com tanta crendice, que passei a enxergar coisas brilhantes em cada toca ou buraco que mexia ou enfiava o pé. Parecia um caçador da arca perdida! E, quanto mais cerveja, mais as visões de multiplicavam, claro, não pelo efeito do álcool, mas, pelo fascínio de estar tão perto da lenda. Sou muito curioso com essas crenças populares e esta do pote de ouro no fim arco-íris é universal e me fascina! Por todos os lugares por onde andei, os aborígenes comentavam sobre ela e sempre com o comentário decepcionante de que nunca tinham encontrado nada.
Ali, achei que era a minha vez. Continuei enfiando a cara mata adentro, quando surgiu uma borboleta amarela. Sempre elas a me acompanharem. Fui atrás por uns bons metros, escorregando mata afora, meio conduzido pela minha guia e pela minha imaginação, até que cheguei à praia. E o arco-íris entrava pelo mar e sumia no horizonte até onde a vista não alcançava.
Pensei: esta busca termina aqui. Não vou me enfiar no mar, primeiro porque nado muito mal e, segundo,porque não vou conseguir levar as cervejas comigo. E sem cervejas não ando nem muito menos nado. Ciao,pote de ouro.
Voltei da Jamaica na mesma condição em que cheguei: pobre, porém, muito feliz...
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“O preço da liberdade é a eterna vigilância.” Camile Demoulins
Foto Google.