Estava distraído
aqui na Toca, ouvindo música e escrevendo, quando escutei uma falação, uma
conversaria danada que parecia vir da rua. Chequei até a varanda e vi uma
verdadeira multidão na porta do meu prédio,
apontando e olhando para cima. Acompanhei os dedos e braços apontados e, como
eles, também fiquei encantado. No alto do belo prédio, meu vizinho, que dá
frente para a Rua Bernardo Guimarães, estava pousado um enorme arco-íris.
Daqueles belos, que iluminam o fim de tarde da nossa não menos bela Horizonte.
Quando todos nós
observávamos a fantástica aparição, surge um avião por detrás do prédio e
atravessa o arco-íris em toda a sua extensão. Parecia que o piloto, também
encantado, queria voar até o fim do arco-íris para descobrir seu segredo. Há
uma lenda que fala sobre alguma coisa escondida atrás do arco-íris, um pote de
ouro, quem sabe?
Muitos incorrigíveis
românticos já andaram na busca que esta lenda excita, porém, nunca ninguém deu
notícia de nada. Voltam sempre de mãos e ideias abanando. Nada além do
arco-íris...
Já eu, que acredito
piamente nesta história, vou continuar buscando o tal pote de ouro.
Lembro-me que estava
na Jamaica, em
Ocho Rios, numa região interessante, onde o rio encontra o mar
numa forte correnteza, sobre a qual os inocentes turistas são induzidos a
escalar, subindo pelas pedras, no sentido contrário ao seu curso. Uma loucura!
Fiquei observando os
intrépidos aventureiros, meus colegas do grupo Fellows II, sentado numa ponte e
rodeado por mais de uma dúzia de latinhas de cervejas jamaicanas, que são bem
razoáveis. Daquele ponto, avistei um arco-íris formado no mar e que entrava
terra adentro, numa mata fechada, que abrigava esta embocadura do rio com o
mar. Eu estava, exatamente, neste ponto de encontro do arco-íris com a mata.
Pensei rápido: é hoje,
estou pertinho do pote de ouro. Comecei a buscá-lo, com tanta crendice, que
passei a enxergar coisas brilhantes em cada toca ou buraco que mexia ou enfiava
o pé. Parecia um caçador da arca perdida! E, quanto mais cerveja, mais as
visões de multiplicavam, claro, não pelo efeito do álcool, mas, pelo fascínio
de estar tão perto da lenda. Sou muito curioso com essas crenças populares e
esta do pote de ouro no fim arco-íris é universal e me fascina! Por todos os
lugares por onde andei, os aborígenes comentavam sobre ela e sempre com o
comentário decepcionante de que nunca tinham encontrado nada.
Ali, achei que era a
minha vez. Continuei enfiando a cara mata adentro, quando surgiu uma borboleta
amarela. Sempre elas a me acompanharem. Fui atrás por uns bons metros,
escorregando mata afora, meio conduzido pela minha guia e pela minha
imaginação, até que cheguei à praia. E o arco-íris entrava pelo mar e sumia no
horizonte até onde a vista não alcançava.
Pensei: esta busca
termina aqui. Não vou me enfiar no mar, primeiro porque nado muito mal e,
segundo,porque não vou conseguir levar as cervejas comigo. E sem cervejas não
ando nem muito menos nado. Ciao,pote
de ouro.
Voltei da Jamaica na
mesma condição em que cheguei: pobre, porém, muito feliz...
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“O preço da liberdade é a eterna vigilância.” Camile DemoulinsFoto Google.