domingo, 9 de março de 2014

                      Chardonnay Down Under 2012, da Westend State, Austrália - KMM Vinhos

NAPA VALLEY CHARDONNAY, 1976:
UMA FELIZ COINCIDÊNCIA
Assisti a um filme recentemente, pela televisão, cuja história verídica me remeteu à lembrança de uma experiência feliz.
O filme versava sobre o episódio na vida de uma família americana da Califórnia, cujo patriarca, advogado de sucesso num poderoso escritório de San Francisco, havia resolvido largar tudo e transformar-se num produtor de vinhos de qualidade.
Assim, comprou uma gleba no Napa Valley e uma boa cepa da uva Chardonnay, em cujo terroir já havia apresentado bons resultados. Na primeira safra mobilizou toda a família para uma colheita seletiva, pois estava jogando ali todas as suas fichas. Conseguiram engarrafar umas dez mil caixas, cuja produção havia se apresentado bem satisfatória, e a qualidade do vinho muito bem certificada.
Nisto, surge na vinícola um sofisticado inglês que sabia da intenção do advogado enófilo, propondo fazer uma degustação às cegas na França que, se bem sucedida, ele gostaria de representá-los com exclusividade na Europa. O vinicultor aceitou o desafio e pediu que o filho dele, Bo, acompanhasse o comprador e se dispusesse a ajudá-lo no que precisasse. O rapaz era meio indiferente com os negócios do pai, mas, com a nova missão e instigado por uma linda empregada da vinícola, sentiu-se motivado para ajudar na fazenda.
Assim, o inglês comprou uma caixa e Bo e a namorada foram levá-lo ao aeroporto onde, na fila do check-in, conseguiram que alguns passageiros embarcassem carregando cada um uma garrafa, pois não era permitido ao passageiro sair do país com mais de uma.
Naquele meio tempo, o pai resolveu abrir umas garrafas para apurar a média de qualidade da safra de 1976. Na primeira, ele constatou que a cor do vinho estava  escura, meio marrom; na segunda, idem; e em toda a caixa prevaleciam os tons amarronzados. O cara se desesperou, começou a chorar e, de raiva, quebrou algumas. Ali mesmo, desistiu de ser vinicultor e ordenou a um de seus funcionários que se livrasse daquela tralha. Ato contínuo, foi ao escritório onde havia sido sócio e propôs voltar à sociedade, enquanto o filho Bo e a namorada, sem falar com ele, haviam resolvido fazer uma avaliação melhor sobre o que acontecera. Consultaram o melhor enólogo da região que, num rápido exame de cor e sabor, lhes falou, categoricamente, que não se preocupassem, pois em dois dias o vinho iria clarear.
E, no meio de todo desespero, Bo, confiante, resolveu ir à França para acompanhar a degustação programada, chegando quase ao fim dela, quando já estavam apurando a votação quando o vinho foi considerado o melhor da prova, BEST OF SHOW IN A BLIND TASTING.
Correu para telefonar para o pai que havia entregado a safra inteira à dona de um restaurante de estrada por uma ninharia. Havia, praticamente, dado as dez mil caixas ou o que havia restado delas.
Desapontados, Bo e a namorada aterrissaram na Califórnia e, ainda na estrada, resolveram parar - coisas da vida - num restaurante para tomar uma alguma coisa. Estavam comendo um sanduíche, quando a dona do local os convidou a degustar um vinho que havia ganho. Era o Chardonnay do pai dele e estava perfeito.
Cabreiro, ele disse que havia gostado e indagou se ela teria algumas caixas para vender. Ela respondeu que aquele montão de caixas só estava entulhando o armazém e venderia por qualquer preço, só queria ver-se livre daquela encrenca. Deixe apenas uma caixa e está tudo certo, disse ela.
Assim, os dois alugaram um caminhão e voltaram com o tesouro para a fazenda do pai.
Resumo da ópera: a safra de 1976 daquele Chardonnay do Napa Valley, provavelmente, deve ter sido a melhor do ano.
E agora a feliz coincidência. Estava eu em Denver, no Colorado, para uma visita ao comitê dos Companheiros das Américas quando li no jornal, anunciada para aquela noite, uma apresentação do The Kingston Trio, músicos que eu havia acompanhado desde sua formação. Os três, bons cantores, com dois violões e um banjo, haviam montado aquele conjunto quando estudavam na Jamaica e, animados, gravaram um LP. O lançamento do disco nos Estados Unidos foi um sucesso de costa a costa e gravaram diversos outros LPs, que acabei adquirindo posteriormente.
Meus amigos coloradenses conseguiram os ingressos e, gentilmente, me convidaram para assisti-los. Foi uma performance ótima; nostálgica para mim que já os acompanhava desde rapazes e lá estavam, então, os três velhos, como eu, cantando aquelas músicas deliciosas.
No intervalo, convidaram-me para um Chardonnay californiano e tive o prazer de degustar aquela joia rara, a mesma apresentada no filme da semana passada, pois, um dos meus anfitriões comentou que aquela safra - a de 1976 - havia sido considerada uma safra excepcional etc. À época, eu entendia menos sobre vinhos do que ainda não entendo até hoje, e, sem saber, estava bebendo naquela noite um vinho antológico.
Belo Horizonte, março/2014.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS    

Na cena V do Ato I, de Hamlet. William Shakespeare
"Há no céu e na terra, bem mais coisas do que sonhou jamais nossa 
filosofia."