A HORA DO BRASIL
Não a conheci pessoalmente. Só de ouvir dizer. E esse ouvir dizer, veio sempre acompanhado de um caso interessante ou uma curiosidade no comportamento, ou até mesmo de uma mania, mas sempre descritos destacando uma grande clarividência e uma inteligência privilegiada. O nome dela é Nora. E é só o que sei. Ou melhor, sei também que ela tem um irmão que ela apresentava assim: Ele se chama Vasington, mas eles trata ele de Uóchito.
Lembrei-me dela hoje porque – agora, com mais tempo e até por interesse - passei a ouvir a Hora do Brasil, disponibilizada obrigatoriamente em todas as rádios do país, das dezenove às vinte horas.
A Nora, segundo seu patrão, meu amigo Aloísio, ouvia religiosamente a Hora do Brasil e os horários dela eram regulados pelo instante em que o programa descrevia no momento. Por exemplo, quando ele chegava em casa e perguntava a que horas seria servido o jantar, ela respondia: Tá na hora da Praça dos Três Poder... daqui a uns quinze minutos. Portanto, ela serviria o jantar às quinze para as oito. Isto porque o locutor da HB, na metade do programa, anunciava: Diretamente da Praça dos Três Poderes...
Lembro-me de que sempre brincávamos com os amigos, lançando o convite: “Dê um pulo lá em casa pra ouvir a Hora do Brasil”. Era um convite/piada para passar uma hora chatíssima, ouvindo as notícias do que havia ocorrido no Brasil, nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, diariamente. Era o que pensávamos mesmo, até que passei a ter tempo e interesse pelo programa e me surpreendi.
Hoje, acho que todos deveríamos ouvir a Hora do Brasil. Não precisa ser um compromisso rigoroso de ouvir todo dia, não, mas, ouvir um resumo das notícias, relatando o que ocorreu nos três poderes da República. É muito instrutivo.
Por exemplo, o que o Ministério da Saúde tem feito como medidas preventivas para diversas doenças com as vacinações em massa, os diversos exames disponibilizados pelo SUS, como as sofisticadas mamografias e outros, com certeza, vem mudando a história deste país. Nos distantes rincões da pátria, lá estão médicos e enfermeiros cuidando da saúde da população. É de impressionar. Outro exemplo, o Ministério da Pesca, disponibilizando equipamento para pescadores individuais que acabam sendo responsáveis pela alimentação diária de enormes populações até então desassistidas.
E a gente só fica sabendo dessas coisas através de um noticiário sem manchetagens como assassinatos, desastres, etc. que são cobertos pelos maiores jornais impressos, rádio e televisivos do Brasil. Na verdade, só mostram as desgraças que são as responsáveis pelos maiores índices de audiência.
A Nora, com certeza, só dispunha de um pequeno rádio de pilha na cozinha para se distrair. Assim, devia acordar, ligar o radinho e só desligá-lo na hora de dormir. Ainda não é o meu caso, mas, quando chego à tarde na Toca, depois do dia trabalhado, sento-me para escrever e ligo o rádio. Vou ouvindo músicas e entra no horário da HB. Antes, desligava-o logo e colocava um cd, mas, tendo ouvido uma vez por acaso, gostei e agora acompanho o noticiário até o fim.
Aliás, com a Nora não só aprendi a ouvir a Hora do Brasil, como também a ser objetivo e curto nas minhas respostas, sem a genialidade dela que, certa vez, perguntada sobre o que havia feito para o almoço, respondeu ao patrão: As pena tá no lixo. Deve ter sido um franguinho e tanto, pois além de inteligente, ela era ótima cozinheira.
Belo Horizonte, novembro de 2012.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
"Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos muito bem."
Millôr Fernandes