domingo, 23 de janeiro de 2011

REMENDOS NO RECESSO

Como homem livre e independente, vivo fazendo minhas coisinhas por conta própria e de acordo com indicação de filhos e amigos. De certa forma, sempre tem funcionado a contento, mas, desta vez, aconteceu uma curiosidade.
Levei duas camisas para virar o colarinho. Daqueles aproveitamentos de
camisas boas, ainda com o tecido íntegro em todas suas partes, mas só com os colarinhos puídos. A-pe-nas os colarinhos.
Tentei levá-las num conserto de roupas que conhecia, no Buritis, meu antigo bairro, mas já haviam fechado a loja. Saí meio desapontado e fui olhando e procurando, no caminho de volta, alguma consertadora. E encontrei, sem nenhuma referência, uma loja no bairro Gutierrez, que oferecia o serviço necessário.
Estacionei o carro e entrei na loja, onde tive uma bela recepção por um senhor de meia idade, muito sério e compenetrado. A loja era muito bem arrumada, tudo nos lugares certos. Era um armarinho: botões, linhas, agulhas, etc. e tal. Fiquei bem impressionado. Expliquei o serviço, ele me deu o preço de R$ 15,00 para cada camisa e saí satisfeito. Concluí: se ficar bom o serviço, vou adotar o consertador.
Uns dez dias depois, na data marcada, fui buscar as camisas que me foram entregues emboladas, amarrotadas, numa sacolinha de plástico meio fajuta. Abri a sacola e falei: “O senhor vai me entregar as camisas assim, sem passar?” E ele me respondeu. “Aqui, não passamos, senhor, só costuramos”.
Heim? Vi que não adiantava discutir, pois tinha entregado as camisas limpinhas e bem passadas e estava recebendo-as como trapos velhos, sem o menor cuidado. Pensei, deixa pra lá. Verifiquei a virada do colarinho que estava legal. Dava pra usar durante mais um tempo, sem problema. Discutir pra quê?
E hoje, a curiosidade. Aprontava-me, de manhã, para o trabalho e resolvi usar uma das tais camisas consertadas. É uma camisa americana, daquelas com botões pequenos no colarinho, toda abotoada na frente. Fui abotoando, de baixo pra cima e aí, a surpresa. Eles viraram o colarinho mesmo, mas, simplesmente, costuraram o dito cujo ao contrário, ou seja, viraram a gola para trás e costuraram no lugar, mas, ao contrário. É até difícil de explicar. É como se a camisa fosse toda certinha, com casas do lado esquerdo e botões do lado direito, só que o colarinho estava com a casa do lado direito e o botão do lado esquerdo e ainda virado para dentro.
Como? Também não sei explicar. O costureiro ou costureira virou o colarinho e o pregou no corpo da camisa, só que ao contrário. E não teve o cuidado de casear no lado certo, o esquerdo, e repregar o botão do lado direito. Uma loucura!
Será que vale a pena dar uma lição na loja? Acho que vou perder um tempinho e chegar até lá para pedir meu dinheiro de volta ou a confecção correta do serviço.
Aproveitei o recesso e levei também dois paletós para pequenos reparos. Um azul marinho, para costurar os bolsos internos e o forro das mangas e um verde mescla, para colocar uma pala no forro, puído de tanto ficar pendurado.
Mesmos preços, R$ 15,00 cada, mas numa outra loja, aqui, pertinho da Toca. Esta, até, estava recomendada pela proximidade, não pela qualidade do serviço.
Sobre os paletós, outro descalabro. Foi colocada uma pala de outro tecido, que não o do forro, no paletó verde. Pelo menos, tinha alguma coisa de verde, e como é na parte interna do paletó, vá lá. Sobre o azul marinho, os forros dos bolsos foram, mal e porcamente, costurados com linha preta, que some no escuro do paletó. Mas, as bainhas dos forros das mangas foram feitas com linha branca, cujas laçadas apareciam em toda a volta da manga, na parte externa. Resolvi, com uma caneta esferográfica, pintar os pontinhos aparentes.
Fico pensando: Será que esses profissionais dos consertos têm problemas de visão distorcida, divergente, convergente ou o que valha? Ou qual seria o órgão fiscalizador dessa atividade?
Roberto H.Brandão – janeiro/2011.