MEMÓRIAS DE SANTA LUZIA
Sem dúvida, o Zuza foi um dos maiores frequentadores da Fazenda Boa Esperança, em Santa Luzia. Desde que começou o namoro com a Sônia, e na companhia do Dr. Célio, passou a desfrutar daquela saudável vida no campo, pelo menos uma vez por semana, aos sábados e domingos. Pouco tempo depois, construiu uma casa à beira do Rio das Velhas e lá montou um sítio da melhor qualidade: piscina, quadra de peteca/vôlei/futebol de salão, mesa de sinuca e pingue-pongue, churrasqueira, enfim, tudo que se quer para um fim-de-semana completo. E assim, foi convivendo com as mudanças crescentes e inevitáveis de uma fazenda tão grande, com tantos proprietários e com tantos episódios vivenciados e registrados na memória, como esse que ele me relatou recentemente.
Num daqueles sábados de lazer, Zuza pegou a Yamaha 125 CC resolveu dar uma volta para visitar os vizinhos: o Luiz Pinto Coelho e a tia Elza no laranjal que haviam plantado; o Celso Renato e os irmãos, no Catitu, onde cuidavam de alguns bois e vacas; o Francisquinho e o Dr. Célio, com a criação de cavalos Mangalarga, no Zé Dias; e o tio Dirceu, na terra dele entre a Carreira Comprida e aquele frondoso pé de Jatobá, onde encontrou tia Almerinda preparando um arroz doce no fogão de lenha, mexendo sem parar e colocando mais água fora do que dentro da panelona.
Hei, tia, tudo bem? Cadê o tio Dirceu? Ela respondeu: Ele saiu sozinho, Zuza, e foi andar por aí, nem sei aonde. - Tá legal, tia, depois eu volto pra experimentar do seu arroz doce. Nem desligou a moto e continuou seu passeio.
Viu uns meninos pescando num riacho perto da cerca do Catitu e, naquele sobe e desce morro, viu o carro do tio Dirceu estacionado à beira do rio. Lá de longe, ouviu o barulho de um motorzinho roncando: tototó, tototó, tototó... Desceu da moto e caminhou na direção do som e viu uma careca brilhando no sol quente de janeiro. Era o tio Dirceu, com uma bateia, catando ouro no jorro d`água, que saía do cano ligado no motor e enfiado no rio. Ele ficou observando até descer para saber o quê o tio Dirceu fazia ali, a quem cumprimentou e perguntou:
- O que é que o senhor tá catando aí, tio?
- Tô catando nada. Aquela draga que passou por aqui já tirou todo o ouro do rio.
- Mas, nada mesmo, tio?
Ele respondeu, desolado:
- Nada, Zuza, só uma poeirinha de ouro que vou levar pra Almerinda. Aqui, agora, só tem areia e cascalho. Mas, da próxima vez, vou trazer um caminhão e, aí, levo tudo!
Zuza montou na moto e continuou seu passeio solitário pela fazenda.
Belo Horizonte, setembro/2012.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
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