sábado, 6 de outubro de 2012

MEMÓRIAS DE SANTA LUZIA
Sem dúvida, o Zuza foi um dos maiores frequentadores da Fazenda Boa Esperança, em Santa Luzia. Desde que começou o namoro com a Sônia, e na companhia do Dr. Célio, passou a desfrutar daquela saudável vida no campo, pelo menos uma vez por semana, aos sábados e domingos. Pouco tempo depois, construiu uma casa à beira do Rio das Velhas e lá montou um sítio da melhor qualidade: piscina, quadra de peteca/vôlei/futebol de salão, mesa de sinuca e pingue-pongue, churrasqueira, enfim, tudo que se quer para um fim-de-semana completo. E assim, foi convivendo com as mudanças crescentes e inevitáveis de uma fazenda tão grande, com tantos proprietários e com tantos episódios vivenciados e registrados na memória, como esse que ele me relatou recentemente.
Num daqueles sábados de lazer, Zuza pegou a Yamaha 125 CC resolveu dar uma volta para visitar os vizinhos: o Luiz Pinto Coelho e a tia Elza no laranjal que haviam plantado; o Celso Renato e os irmãos, no Catitu, onde cuidavam de alguns bois e vacas; o Francisquinho e o Dr. Célio, com a criação de cavalos Mangalarga, no Zé Dias; e o tio Dirceu, na terra dele entre a Carreira Comprida e aquele frondoso pé de Jatobá, onde encontrou tia Almerinda preparando um arroz doce no fogão de lenha, mexendo sem parar e colocando mais água fora do que dentro da panelona.
Hei, tia, tudo bem? Cadê o tio Dirceu? Ela respondeu: Ele saiu sozinho, Zuza, e foi andar por aí, nem sei aonde. - Tá legal, tia, depois eu volto pra experimentar do seu arroz doce. Nem desligou a moto e continuou seu passeio.
Viu uns meninos pescando num riacho perto da cerca do  Catitu e, naquele sobe e desce morro, viu o carro do tio Dirceu estacionado à beira do rio. Lá de longe, ouviu o barulho de um motorzinho roncando: tototó, tototó, tototó... Desceu da moto e caminhou na direção do som e viu uma careca brilhando no sol quente de janeiro. Era o tio Dirceu, com uma bateia, catando ouro no jorro d`água, que saía do cano ligado no motor e enfiado no rio. Ele ficou observando até descer para saber o quê o tio Dirceu fazia ali, a quem cumprimentou e perguntou:
- O que é que o senhor tá catando aí, tio?
- Tô catando nada. Aquela draga que passou por aqui já tirou todo o ouro do rio.
- Mas, nada mesmo, tio?
Ele respondeu, desolado:
- Nada, Zuza, só uma poeirinha de ouro que vou levar pra Almerinda. Aqui, agora, só tem areia e cascalho. Mas, da próxima vez, vou trazer um caminhão e, aí, levo tudo!
Zuza montou na moto e continuou seu passeio solitário pela fazenda.
Belo Horizonte, setembro/2012.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Foi perguntado a um bispo de Sevilha o porquê de sua boa saúde em idade tão avançada. A resposta: - “ Desfruto de boa saúde nessa idade pois todo dia, desde que consigo me lembrar, consumi uma garrafa de vinho. Exceto nos dias em que não me sentia muito bem. Nesses, consumia duas ...”

HEBE CAMARGO NOS ANOS 1950

Quando morávamos em São Paulo, de 1949 até 1959, papai era professor da Faculdade de Higiene e Saúde Pública, que ficava a meia quadra lá de casa, como dizem os paulistas. E como o nosso prédio não tinha garagem, o poderoso Mercury verde escuro 1950 ou dormia na rua Arruda Alvim, na porta do prédio, ou na garagem da Faculdade.
Geralmente ficava lá mesmo, junto com outros carros de professores que também moravam por perto. No entanto, num belo dia, a garagem foi requisitada pois seria ali realizada uma festa de fim de ano, e, naquele lugar, seria montado um palco para algumas apresentações de palhaços e cantores.
A Lúcia e eu nos entusiasmamos porque haveria música ao vivo e nós adorávamos ouvir música. Lembro-me de que ouvíamos à noite uma rádio americana WABC – AM &FM of New York, de onde tirávamos as letras das músicas que gostávamos de cantar: Blue Moon, You send me, You belong to me, Nevertheless, All shook up, Bim-bom-bey, Kisses sweeter than wine e tantas outras. Ela as organizava em ordem alfabética num caderninho, e eu marcava os acordes de violão em cima de cada mudança harmônica.
Nos divertíamos muito com isto. O programa era levado da meia-noite às duas da madrugada.
E no dia da festa da faculdade, lá fomos nós para nos assentarmos na primeira fila.
Quando foi anunciada a nova cantora que faria um dos números era, nada mais, nada  menos do que a menina de 20 anos Hebe Camargo. Com um vestidinho branco rodado com a saia pregueada, ela apresentou-se, muito graciosa cantando alguns de seus sucessos: Que beijinho doce e Meu limão, meu limoeiro. Eram músicas de roda, de brincadeiras de crianças pois, na época, aqui no sudeste, não havia compositores. Já no nordeste vinham despontando algumas músicas de Dorival Caymmi e Luis Gonzaga. E era só!
Esta lembrança é uma pequena homenagem à grande dama da televisão brasileira de todos os tempos.
BH, setembro, 2012.