domingo, 24 de julho de 2011

OS TRÊS Ks DOS VELHOS

O Edgard Melo, meu mestre e amigo, sábio consumidor dos vinhos Oxford Landing, Cab Sauv-Shiraz, demi-bouteille, me disse hoje que velho só morre de três males que começam Com K: Keda, Katarro (Pneumonia) e Kaganeira. Verdade verdadeira para rimar.  A cada dia vemos a idade passando rápida e faceira - rimando de novo – e, muitas vezes, deixando os velhos saudáveis e felizes... até com a idade que têm. Que ótimo consolo! É incrível como todo mundo reclama do tempo que anda passando rápido demais.  Hoje, vive-se muito mais e com a saúde boa... Em termos, é bom que se diga.
O Dr. Francisco Souza Lima, médico pediatra emérito, me falava outro dia – ironicamente, durante um velório de um primo que morreu novo, 62 -, que a vida está sendo prolongada ad infinitum. Segundo ele, em breve, seremos Matusaléns, eternizados pela espetacular evolução da medicina, coisa que ninguém, nem Hipócrates quando prescreveu seu juramento, poderia supor. Contou-me ainda sobre um aparelho que acende uma luz dentro do organismo do paciente. Trata-se de uma injeção de prótons ou elétrons - não me lembro em qual ordem - que, ao se encontrarem, provocam uma reação química, acendendo uma espécie de luz interna. E daí, com esse farol, vai-se vasculhando o interior do corpo humano e descobrindo os seus males: tumores, abscessos, fístulas, hérnias e outros “bichos” mais, ratificando ou desmentindo os diagnósticos.
Parece que, de agora em diante, estaremos revelados por fora, como sempre estivemos, e por dentro também, com esta lâmpada mágica.
Os médicos, com certeza, irão fazer o exame clínico tradicional: pulso, língua, garganta, respiração (fale trinta e três), batimentos, olho vermelho ou branco (anemia), micção (quantas vezes ao dia), e ainda terão a leitura desse super hiper equipamento, para uma viagem interna.
Outro dia, passando por uma revista, antes de embarcar para o Brasil num vôo da United Airlines, de Denver para São Paulo, passei por uma máquina que, acredito, tinha parte desses poderes de ver a gente por dentro e por fora. Na fila de embarque, me deram uma cestinha para colocar alianças, anéis, pulseiras, correntinhas, relógios, celulares e todas as miudezas que pudesse estar portando. Cumpri a ordem perfeitamente e passei sob uma arcada eletrônica que enxerga tudo. E ela apitou. Voltei, passei e, novamente, ela apitou. Enfiei a mão no bolso e descobri uma caixinha de metal, inocente, de guardar pílulas, que os velhos usam para não perder a hora de tomar os medicamentos. Nela, havia dois comprimidos: um para pressão e outro para enjôo. Senti-me redículo, como brincava a Mariana, minha sobrinha. Joguei a caixinha fora e passei ileso. Acho muito bacana essa evolução da medicina, mas estamos cada vez mais expostos por dentro e por fora. E isto me incomoda, embora queira durar eternamente...
Em Belo Horizonte, 25 de junho de 2011.

Uma boa canção para acompanhar a leitura desta crônica, é a belíssima  CON TÉ PARTIRÓ,
magistralmente interpretada pelo Bocelli e a filha. Confira.