EPITÁFIO A UM AMIGO ARTISTA
Quero falar hoje de um amigo, um artista, que se foi.
Lembro-me de que, por acaso, quando ainda advogava e tinha um pequeno escritório na Av. Afonso Pena, atravessei a avenida para procurar um alfaiate. A advocacia exigia, como até hoje exige, terno e gravata para o trabalho. Assim, cheguei ao Edifício Sulacap que, no térreo, tinha uma alfaiataria - Diniz & Verona. O Diniz, muito simpático me atendeu e contei-lhe sobre a minha necessidade. Ele falou: Hermano, tire as medidas deste jovem advogado, Vamos deixá-lo muito chique!
Ali, começava uma amizade feliz e verdadeira. O oficial ainda me ajudou a escolher o tecido, um Príncipe de Gales legítimo. Disse ele: Casimira inglesa, um dos nossos melhores panos.
Na verdade, o jovem advogado de 26 anos ficou muito bem vestido, no entanto, destoava dos sisudos colegas no Fórum Lafaiete e no Tribunal de Justiça, com ternos escuros e mal cortados, inclusive o do seu tio Hermeto, com quem ele dividia a banca advocatícia.
Daquele primeiro terno - vaidoso como sempre -, o advogado partiu para outros e foi acompanhando aquele oficial artista que o havia atendido tão bem. O seguinte já foi encomendado na salinha do Ed. Helena Passig, para onde o Hermano havia se mudado, iniciando carreira solo, com a plaquinha “Hermano Alfaiate”. Muitos anos no prédio e o “Tesoura de Ouro”, título que recebeu numa promoção jornalística, resolveu mudar-se para uma casa fora do centrão de Belo Horizonte. Aquela clientela aleatória estava muito fraquinha para o talento dele. Mudou-se para uma casa na Rua Santa Rita Durão, quando lhe ofereci uma placa que está lá até hoje, exibida na coluna da varanda da casa. Estava montado ali o atelier do melhor alfaiate mineiro de todos os tempos, competentemente assistido pelo Oswaldo, outro mestre do corte e da costura. Com bom humor incomparável e uma risada que cativava e inundava todo o quarteirão.
Estive lá por diversas vezes somente para ouvir seus comentários inteligentes sobre a política brasileira e saber de suas acrobacias com os aeromodelos que montava e os colocava no ar. Com aquelas acrobacias ele arejava sua cabeça privilegiada e, naquelas visitas, eu me deliciava com suas risadas irreverentes.
Aqui, minha homenagem ao amigo e mestre da tesoura , que partiu para um voo mais longo.
Um dos herdeiros do mestre, o Marcelo, que vi nascer, está seguindo os passos do pai, com a Blade Runer, etiqueta de sucesso.
Belo Horizonte, setembro/2013.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
(Fernando Pessoa)