MOMENTOS PARISIENSES
Tempos
atrás, em Paris, pegamos o metrô na estação Bir-Hakeim, a um quarteirão do
prédio onde morávamos, para ir até à Opera a fim de comprar ingressos para o grande
concerto Die Walkuere, de Wagner, que
entraria em cartaz naquele mês. No trem, já imaginávamos o tamanho da fila, mas
quando chegamos à estação o que presenciamos foi uma confusão danada com
pessoas assustadas correndo. Naquele tumulto, conseguimos subir as escadas e
topamos com uma manifestação de rua, do tipo dessas que temos visto acontecendo
em Belo Horizonte
e em todo o país.
A
bandeira bleu, blanc, rouge balançando
à frente de um grupo de figuras
estranhas, suadas, gritando questões de ordem e muito decididas. Pela
roupa, pareciam africanos, mas eram brancos, traços delicados, narizes finos, pele
lisa e estatura mediana, berrando questões de ordem e portando cartazes com
textos “Vamos mudar o mundo”, “Nossos direitos de...?”, e por aí afora.
Comentei
com o Flávio: “Que encrenca, hem. E agora?” Ele, calmo como um árabe de boa
estirpe, falou: “Pois é, cachaceiro,
vamos sair do alvo dos tiros, sentar em algum lugar agradável, beber e aguardar”. Estávamos bem em frente ao
majestoso prédio da Opera e não conseguiríamos romper no meio da multidão para
chegar até lá.
A delícia
em Paris é que há sempre um café aconchegante, com mesas nas calçadas, gente
bonita ao redor, para se fazer hora. Sentamo-nos num daqueles - não me lembro
do nome - e esperamos passar a turba. Só que bebemos tanto e a conversa estava
tão boa que nos esquecemos de atravessar a rua para comprar os ingressos.
Apareceu
por lá um casal de americanos com uma amiga, que pediu para sentar-se conosco. O
café estava lotado e eles também estavam perdidos no meio da multidão. E o papo
foi ficando bom, cada um contando um pouco da própria vida, de onde vinha, o
que fazia, e, curiosamente, as histórias foram se entrecruzando. Num momento, a
amiga deles, Judith, de Chicago, lembrou-se da história de um grupo de estudantes
brasileiros que haviam estado na casa dos pais dela, lá por volta dos anos 1960,
e que, na turma, havia um até bem parecido comigo, que tocava violão. Que
coincidência! Era eu mesmo, então, rapaz de 24 anos, em pleno debut na primeira viagem internacional.
Ela lembrava-se
de tudo, até de um affair que teve com o meu amigo Ivan, que havia
desaparecido quando chegamos a New York, e até desvendou o mistério, contando
que ela e o Ivan haviam combinado um encontro em determinado dia e hora, no
aeroporto La Guardia ,
para voarem juntos para Miami. Disse, ainda, que ficaram hospedados na casa de
uma amiga dela, em
Fort Lauderdale , e passaram aquela temporada juntos, no
bem-bom, com direito à praia e tudo o mais. E nós, pobres mortais do grupo, havíamos
ficado congelando na Big Apple, para prosseguir viagem numa longa jornada de
ônibus até Miami, que era o ponto final da nossa temporada de estudos.
Como
eram arriscadas essas combinações naquela época!
Belo Horizonte, outubro/2013.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
A tragédia da vida é que
ficamos velhos cedo demais e sábios, tarde demais. Benjamim Franklin