A CASA DA VOVÓ
Na Rua
Bernardo Guimarães, 305, bairro Funcionários, em Belo Horizonte /MG,
foi a casa onde moramos quando papai e mamãe foram morar nos Estados Unidos em
1947.
Parecia
enorme, mas, era uma casa simples, de quatro quartos, duas salas, estar e
jantar, um belo jardim com flores cuidadas pela minha avó Augusta que,
diariamente, acoplava na torneira uma mangueira verde escuro para aguá-las. Ela
era uma velhinha pequena, magrinha, cabelos cinzas amarrados num coque na nuca,
vestidinho de tecido florido, cortado e costurado por ela mesma, um chinelinho
de couro surrado e uma alegria contagiante quando chamava: Lúcia e Bebeto,
venham cá ajudar a vovó.
Empurrávamos
os cadernos dos para-casas para o meio da mesa e íamos atrás dela para
desenrolar a mangueira, que ficava atrás da porta da cozinha, prendê-la na
torneira e regular o esguicho por onde saía a água. Era um serviço diário para
os dias sem chuva.
Ela
levava, ainda, uma tesoura para cortar as flores velhas e também montar um
buquê mais abundante, além de colher uma florzinha para o vaso da mesinha da
sala de estar e outra para a mesa de jantar. Eram camélias, rosas, gerânios, bocas-de-lobo,
cravos, e as miudinhas que ela chamava de “branquinhas”, só pra completar os
vasos. Que carinho singelo com os moradores da casa! Tio José, sempre emburrado
e nervoso; tio Tonico, fortão e alegre, jogador do América; a Lúcia e eu. Ah! A
Maria Vicentina, empregada que havia vindo conosco do Rio - quando moramos lá
no início da década de 1940 - e o filhinho, Zezé, que havia arrumado com um
marinheiro carioca. Ela era a cozinheira/arrumadeira/lavadeira/passadeira.
Ainda
hoje existem algumas casas no bairro com as mesmas características. Era um belo
jardim e o quintal repleto de frutas: bananas, laranjas, mexericas, limões,
abacates, mamões, mangas e carambolas. No jardim, um pé de romã e duas
goiabeiras. Tomateiro, amoreira e chuchuzeiro, nos muros. Precisa mais?
Entre
os paralelepípedos do calçamento da rua havia uma grande árvore de tamarindos
azedinhos e bem carnudos. A casa da minha avó era assim mesmo, a própria casa de vó.
Lúcia
tinha um gato, “Bichano”, e eu um cachorro vira-latas, “Jipe”, que acabou virando
sabão quando foi pego pela carrocinha.
Estudávamos,
os dois, no Grupo Barão do Rio Branco, na Avenida. Paraúna, atual Getulio
Vargas, bem pertinho, para onde íamos, depois do almoço, de mãos dadas com a
tia Marina. Nossos uniformes engomados pela Maria, calça curta e saia
pregueada, azul marinho, blusinha branca com o escudo do Grupo no bolso, meias
soquete brancas. Nossas pastas pretas eram de couro. Bons tempos!
Belo
Horizonte, fevereiro/2014.
FRASES, PENSAMENTOS E
AFORISMOS
"Ottoline
comoveu profundamente a imaginação dos homens, e isso talvez seja o máximo que
uma mulher pode fazer." D.H.Lawrence
sobre Lady Ottoline Morrel, inglesa, mentora e mecenas de muitos intelectuais,
pintores, artistas e escritores no século XX.
