domingo, 16 de fevereiro de 2014

A CASA DA VOVÓ
Na Rua Bernardo Guimarães, 305, bairro Funcionários, em Belo Horizonte/MG, foi a casa onde moramos quando papai e mamãe foram morar nos Estados Unidos em 1947.
Parecia enorme, mas, era uma casa simples, de quatro quartos, duas salas, estar e jantar, um belo jardim com flores cuidadas pela minha avó Augusta que, diariamente, acoplava na torneira uma mangueira verde escuro para aguá-las. Ela era uma velhinha pequena, magrinha, cabelos cinzas amarrados num coque na nuca, vestidinho de tecido florido, cortado e costurado por ela mesma, um chinelinho de couro surrado e uma alegria contagiante quando chamava: Lúcia e Bebeto, venham cá ajudar a vovó.
Empurrávamos os cadernos dos para-casas para o meio da mesa e íamos atrás dela para desenrolar a mangueira, que ficava atrás da porta da cozinha, prendê-la na torneira e regular o esguicho por onde saía a água. Era um serviço diário para os dias sem chuva.
Ela levava, ainda, uma tesoura para cortar as flores velhas e também montar um buquê mais abundante, além de colher uma florzinha para o vaso da mesinha da sala de estar e outra para a mesa de jantar. Eram camélias, rosas, gerânios, bocas-de-lobo, cravos, e as miudinhas que ela chamava de “branquinhas”, só pra completar os vasos. Que carinho singelo com os moradores da casa! Tio José, sempre emburrado e nervoso; tio Tonico, fortão e alegre, jogador do América; a Lúcia e eu. Ah! A Maria Vicentina, empregada que havia vindo conosco do Rio - quando moramos lá no início da década de 1940 - e o filhinho, Zezé, que havia arrumado com um marinheiro carioca. Ela era a cozinheira/arrumadeira/lavadeira/passadeira.
Ainda hoje existem algumas casas no bairro com as mesmas características. Era um belo jardim e o quintal repleto de frutas: bananas, laranjas, mexericas, limões, abacates, mamões, mangas e carambolas. No jardim, um pé de romã e duas goiabeiras. Tomateiro, amoreira e chuchuzeiro, nos muros. Precisa mais?
Entre os paralelepípedos do calçamento da rua havia uma grande árvore de tamarindos azedinhos e bem carnudos. A casa da minha avó era assim mesmo, a própria casa de vó.
Lúcia tinha um gato, “Bichano”, e eu um cachorro vira-latas, “Jipe”, que acabou virando sabão quando foi pego pela carrocinha.
Estudávamos, os dois, no Grupo Barão do Rio Branco, na Avenida. Paraúna, atual Getulio Vargas, bem pertinho, para onde íamos, depois do almoço, de mãos dadas com a tia Marina. Nossos uniformes engomados pela Maria, calça curta e saia pregueada, azul marinho, blusinha branca com o escudo do Grupo no bolso, meias soquete brancas. Nossas pastas pretas eram de couro. Bons tempos!
Belo Horizonte, fevereiro/2014.
 
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
"Ottoline comoveu profundamente a imaginação dos homens, e isso talvez seja o máximo que uma mulher pode fazer." D.H.Lawrence sobre Lady Ottoline Morrel, inglesa, mentora e mecenas de muitos intelectuais, pintores, artistas e escritores no século XX.