BRASIL 66
Ouvindo agora o antológico LP Brasil
66, veio-me a lembrança um encontro inusitado em 1965. Atravessava uma rua em
New York, onde morava, quando dei de cara com uma fisionomia
conhecida. Negro, magrinho, cavanhaque grisalho, semblante sonhador. Só podia
ser ele: Dom Um Romão, um excelente baterista brasileiro. Ele havia sumido das
rádios brasileiras e - eu não sabia - se
mandado para os Estados Unidos.
- Dom Um?! Olá, pois não – gentilmente respondeu-me e parou à
minha frente.
Comentei seu sumiço e a surpresa enorme de encontrá-lo. Conversamos
um pouco até que se desculpou: Como é mesmo o seu nome?”
Falei o meu nome, afirmando que o admirava muito pelas suas apresentações
no Brasil, em bares e em alguns festivais de bossa nova. Enfim, eu era um fã,
desconhecido dele, mas que o conhecia bem como excelente baterista, que havia
tocado em ótimas bandas, com uma batida diferente, com solos bastante arrojados.
Atravessamos a rua e continuamos a conversa. Ele convidou-me para
ir a um baile pré-carnavalesco, que estava sendo organizado por brasileiros no
Hotel Paramount, no sábado seguinte. Aceitei o convite e, no tal dia, compareci
ao Paramount para participar da festinha que, na verdade, era uma super festa,
de arromba mesmo.
A colônia de brasileiros em New York era muito grande, e juntando moradores,
turistas e convidados especiais, devem ter comparecido, pelo menos, umas mil
pessoas. Os salões do antigo hotel ficaram superlotados. Havia um grupo de
escolas de samba do Rio, uma orquestra improvisada com os músicos locais e uma
gente muito doida, com fantasias variadas, como no Brasil e outros com as
máscaras típicas do carnaval de Veneza. Foi uma ótima oportunidade para
enturmar-me em New York. Lá
estavam o Booker Pitman e a filha Eliana, que estavam se apresentando numa das
casas do Village e um trio formado pelo pianista Sérgio Mendes, Dom Um Romão na
bateria e Sebastião Neto, no contrabaixo. Este grupo preparava-se para cumprir
extensa programação de apresentações no oeste americano, onde o trio acabou
instalando-se, em Los Ângeles. Lá,
gravaram, posteriormente, o LP antológico (na foto), Brasil 66, que continua fazendo sucesso até hoje.
Naquele começo do ano de 1965, a música brasileira estava começando a
ser, acanhadamente apresentada pelos cantores/músicos, que haviam se
apresentado com estrondoso sucesso no show do Carneggie Hall, um ano antes. João
Gilberto havia iniciado uma turnê a partir de Chicago e Dorival Caymmi havia se
apresentado, cantando, no programa do Andy Williams, que era a maior audiência
na TV americana na época.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Sonhar é acordar-se para dentro. Mário Quintana
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