sexta-feira, 10 de agosto de 2012

UM CAIPIRA EM JUIZ DE FORA

Nos últimos cinquenta anos, em nossa rota para o Rio de Janeiro, Juiz de Fora sempre esteve no caminho. Nós, viajantes, passávamos pelo centro da cidade, quando ainda não havia um anel rodoviário de contorno. Assim, habituées de férias no Rio e adjacências vimos acompanhando o crescimento da cidade durante este meio século de viagens.
E a cidade cresceu muito. A “Manchester Mineira” é hoje uma metrópole com mais de 400 mil habitantes, com vida bastante agitada, comercial e socialmente. É um espanto!
Na segunda-feira, numa rápida estada para a 29ª Expomaq, evento promovido pela Epamig, através do Instituto de Laticínios Cândido Tostes, hospedei-me no Real Palace Hotel, nome pomposo para uma hospedagem muito precária, em plena Av. Rio Branco, a principal da cidade. No Brasil, é incrível como os serviços públicos e privados não acompanham o desenvolvimento das cidades.
Isto não acontece nos Estados Unidos. Venho hospedando-me no Brown Palace Hotel, em Denver, no Colorado, há mais de trinta anos e, em cada nova visita, um melhoramento qualquer registra uma atualização constante dos equipamentos e dos serviços, sem aumentar um centavo no custo da hospedagem, ou seja, room single = US$ 90.
Naquele dia, em Juiz de Fora - e com algum tempo para comparecer à abertura da exposição -, resolvi comprar um blazer, uma camisa de colarinho e uma gravata para comparecer a caráter, pois não havia sido avisado do protocolo para a solenidade. Na recepção do hotel, me indicaram um Shopping Center, distante  um quarteirão. Segui pela própria rua do hotel e me deparei com a entrada dos fundos do Vila Rica Shopping. Aqui, vale uma observação. Por dentro, todos os shoppings são iguais no mundo inteiro: vitrines feéricamente iluminadas, corredores abarrotados de gente por todos os andares, áreas de alimentação cheias, as mesmas lojas de marca espalhadas por todo lado, enfim, tudo igual em “Oropa, França e Bahia”.
Meti-me pelos corredores como qualquer comprador e fui naquele pra frente e pra trás, sobe e desce, até encontrar uma loja com as roupas que buscava. Encontrei uma e experimentei alguns paletós, até bonitos, de veludo, camurça e tweed, bem apropriados para o frio local, em torno de 8ºC, mas não consegui nada para o meu manequim. Assim, desisti da compra, pois o adiantado da hora já me preocupava para chegar a tempo na solenidade.
Na primeira saída, pus a cara na rua fria e não reconheci nada. Não havia marcado nenhuma referência do nome da rua por onde havia entrado, nem me lembrava de qualquer loja ou algum sinal que tivesse chamado minha atenção no caminho de vinda.  Entrei novamente no Shopping e busquei outra saída. A mesma coisa. Não era a porta por onde eu havia entrado nem reconhecia qualquer coisa mais familiar. Mais uma vez, fui buscar a próxima saída, com a esperança de ser a tal da minha chegada e, dali, correria para o hotel, pois já estava apertando a hora da abertura da feira. Nada de novo. Era tudo diferente do que tinha visto, e aí, pensei, tenho de reconhecer que estou bancando o caipira mesmo, perdido aqui em Juiz de Fora. Fiquei envergonhado comigo mesmo, pois nunca havia acontecido de me perder em Londres, em Nova Iorque ou em Paris, só mesmo havia cometido um pequeno erro de direção no metrô em Atenas, na Grécia. Nada demais!
E agora, que vexame, um filho da terra, mineirão de Belo Horizonte, perdido num shopping em Juiz de Fora... Que horror! Mas, não esmoreci. Busquei a primeira porta disponível, achei um táxi, e informei ao motorista: “Senhor, estou totalmente perdido e preciso chegar ao Real Palace Hotel bem rápido. Pode me levar?” Ele sorriu e disse, apontando: “Posso levá-lo, sim, com muito prazer, mas se o senhor seguir reto nesta rua, por um quarteirão e meio, chegará à porta do hotel que procura, em dois minutos”.
Agradeci a atenção dele, meio encabulado, tomei o rumo indicado e em dois minutos mesmo, já estava congelando debaixo do chuveiro. Que tristeza, o meu quarto no Real Palace Hotel tinha um defeito no encanamento do banheiro e a água não esquentava, nem mornava, como falam no interior. Assim, heroicamente, meti-me debaixo da ducha fria.
Juiz de Fora, 16 de julho de 2012. RHB.

FRASES. PENSAMENTOS E AFORISMOS
Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir passar o vento, vale a pena ter nascido. Fernando Pessoa
A "Manchester Mineira", de hoje.