Neste país, realmente grande e bobo, como diz o philosopho Eduardo Almeida Reis, na sua coluna diária “Tiro e Queda”, no jornal Estado de Minas, pode acontecer de tudo. Com o embuste da maior e melhor novidade, apareceram os lobistas das grandes redes de supermercados que decidiram livrar-se do custo ínfimo das sacolinhas plásticas, justificando a medida com um discurso de proteção do meio-ambiente. Diria mais, para proteger os próprios bolsos, empobrecidos pelas migalhas de reais economizados. Pior de tudo, com essa tese esdrúxula, contaminaram o comércio em geral.
Desde que o mundo é mundo, a embalagem é um item de custo mínimo, na maioria das vezes, previsto e contabilizado pelos comerciantes.
Vocês se lembram daqueles envelopes de papel kraft, de vários tamanhos, que embalavam as compras da farmácia? Eles estão de volta. Outro dia fiz uma compra de remédios, que veio num desses envelopes pardos. Estou pensando em dobrá-lo e colocá-lo no bolso para usos futuros. Vai que, numa emergência, eu compro uns comprimidinhos azuis e eles não me fornecem o envelopinho? Não posso sair exibindo na palma da mão a minha compra secreta... E, se assim for, terei que usar somente aquelas calças-cargo - aquelas de bolsos pelas pernas abaixo até aos calcanhares - ou também camisas com o mesmo conceito de colete de fotógrafo, cheio de bolsos, bolsinhos e bolsões até nas costas.
Fico me imaginando ao sair para o trabalho com os bolsos carregados desses pacotinhos vazios e, no elevador, me encontrando com o vizinho, também todo empacotado de saquinhos vazios. Damos um bom-dia suspeito para o caso de nos encontrarmos, no fim do dia, portando os mesmos saquinhos, só que agora cheios. Muito estranho.
E se, num determinado dia, o pobre do consumidor sair correndo e se esquecer dos saquinhos vazios e, no meio do dia, receber um telefonema da patroa, pedindo para ele trazer umas coisinhas pra casa? Ele anota e vai imaginando: o vidro de xarope pro Júnior ele pega pelo gargalo com a mão esquerda; o pacotinho de protetor higiênico da madame vai, delicadamente, dependurado no dedo mindinho da mesma mão esquerda; nos diversos bolsos da calça e da camisa, as caixinhas de Omeprazol, o remédio para pressão, ácido úrico e colesterol, os pacotinhos de sais de frutas, as duas ampolas de vacina tríplice e mais alguns antibióticos, como reserva. A caixa de leite semidesnatado, no bolsão do meio da perna da calça. Na mão direita, a garrafa pet de refrigerante, dois litros; e, pendurado no indicador da mesma mão, o fardinho de cervejas. Que belíssima e original árvore de Natal o cidadão viraria! Por aí se vê como as sacolinhas são insubstituíveis.
Como é sabido, o custo das embalagens já está previsto na composição do preço para o consumidor final. Esta é uma prática milenar do comércio.
Assim, a minha conclusão é a de que o não fornecimento de embalagens é a antítese do bom atendimento. E o coitado do consumidor, metaforicamente, fica obrigado a fazer malabarismos andando pelas ruas com milhares de itens de compras espalhados pelo corpo.
Fico me lembrando de outros tempos, quando era bom ouvir os feirantes falando para a mamãe: Vai levar o quê, hoje, freguesa?- já com o pacotinho ou o jornal pronto para embalar as frutas ou os doces, que, em seguida, eram colocados nas sacolas que eu carregava. Já pensaram se ela chegasse no peixeiro e pedisse um dourado lindo, para o preparo de um assado no domingo, e o dono da peixaria lhe entregasse o bicho segurando-o pelo rabo? Ela o pegaria, colocaria debaixo do braço - como os franceses carregam as baguettes -, e sairia pela rua pingando água e cheirando a peixe. E todas as freguesas do dia protagonizariam a mesma cena ridícula. E as laranjas, limões e limas compradas às dúzias? E as unidades de ovos, então? Três numa mão e dois na outra? Impensável.
Só existe um remédio para tal excrescência: a maravilhosa e profissional lei e as consequentes regras do mercado. Resumindo: a concorrência. O comerciante sabe que se seu vizinho passar a oferecer aos clientes algumas facilidades, ele vai perder freguesia. Resta-nos aguardar para ver no que vai dar mais esse “golpe do João sem braço”, dito popular para essas maracutaias comerciais.
Não temos notícias de qualquer modificação nos comércios internacionais relativos ao fornecimento de embalagens ou de algum povo que não as forneça mais. Em Nova Iorque , Paris ou Roma ninguém sai das lojas carregando pelas ruas suas compras dependuradas nos braços?
Só aqui mesmo, neste “país grande e bobo”, como diz o cronista.
Belo Horizonte, 25 de julho de 2011.
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FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
A LIBERDADE MATA OS MAUS CASAMENTOS E ALIMENTA OS GRANDES AMORES. (Autor desconhecido)