Jandira e tia Marina
MAMÃO CURIOSO
Depois que minha mãe se foi, há mais de cinco anos, faço uma
visitinha à minha tia Marina, irmã dela, todos os domingos, no bairro da Serra.
A desculpa é tomar um café coado na hora e comer um bolo especial assado pela
Jandira, que está com ela desde 1962. Haja tempo!
Nessas visitas dominicais, a cada dia conheço um acontecimento
novo sobre a vida dela, um episódio interessante da sua vida de solteira ou quando
casada com o Dr. Nelson Emiliano Orsini, odontólogo, exímio violonista de sambas,
boleros, guarânias, marchas e qualquer outro ritmo que se lhe pedissem.
Muito bem-humorado, brincalhão e amante da vida, ele mesmo havia
se apelidado de Nirsinho de Brito, casado,
brasileiro, dentista, cachaceiro, futebol clube. Um tremendo gozador, que acompanhou grandes cantores e
compositores brasileiros como Sílvio Caldas, Jorge Goulart, Noel Rosa e muitos outros,
na então novata Rádio Inconfidência.
Tia Marina, 96, e Jandira, 84, não esquecem nada quando narram as peripécias dele. E contam com todos os
detalhes. É uma viagem no tempo e na história de Belo Horizonte que torna essas
manhãs muito agradáveis.
No outro dia, por exemplo, me presentearam com um mamão quase
maduro que – disseram - havia nascido na parede da escada para o barracão.
“Como?” - perguntei.
“Venha cá que você vai comprovar com seus próprios olhos” - comentaram as duas em uníssono. Puxaram-me
pela mão e lá fomos nós ver o mamão nascido no concreto. Fiquei estupefato. No
entroncamento do degrau da escada com o chão de cimento, no meio da parede, lá
estava o pé de mamão forte e exuberante que florescia uma safra de uns seis frutos
saudáveis e vigorosos. Veja nas fotos a origem e a fartura da safra. Ofertaram-me
o mais maduro.
Tia Marina explicou: “Nasceu uma plantinha ali no canto e deixamos
crescer pra ver o que era. Aguávamos todo dia como todas as outras do jardim e,
de repente, virou este mamoeiro lindo. Leva um, Bebeto!”
_ Obrigado,
meninas.
Belo Horizonte,
dezembro/2013.