quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

ENCHENTES EM BELO HORIZONTE
Certa noite recebi um telefonema do Celinho, meu cunhado, pedindo para socorrê-los na Rua São Paulo com Avenida Álvares Cabral, onde o carro em que estavam ele seus pais, Dr. Célio e dona Santa, havia sido levado pela correnteza abaixo. Imediatamente me dirigi ao local, encontrando os três sob a marquise de um prédio, debaixo de um guarda-chuva preto, ensopados e tremendo de frio. De lá mesmo, desolados com a cena, víamos o Simca Presidente preto entalado numa das muretas de um córrego que corria pela Rua São Paulo. Necessitados de um bom banho quente, levei-os imediatamente de volta para casa. 
No dia seguinte, o carrão foi rebocado para uma oficina, onde permaneceu durante meses. Foi necessário até abrir o motor, que estava cheio de gravetos e folhas. A correnteza enchera o bloco do motor, entre os cilindros, válvulas, juntas, com um monte de plantas, terra, raízes, provocando um odor podre no belíssimo sedan quatro portas. Impossível de ser combatido o mau-cheiro, o carro acabou sendo vendido com a podridão entranhada no seu habitáculo.
Em outro tempo, deixei meu Karman-Ghia vermelho, zero km, num estacionamento em frente ao Aeroporto da Pampulha e viajei para o Rio a fim de acompanhar a gravação de um áudio com o locutor Sérgio Chapelin, para um cliente de BH. Era somente um pernoite, pois a gravação estava reservada para um estúdio às 21 horas, depois que o locutor terminasse o Jornal Nacional da Rede Globo. Ao retornar a BH, no dia seguinte, fui direto ao estacionamento e encontrei-o vazio. Fiquei gelado. Entreguei o comprovante a um rapaz, que me contou desconsolado: “Ih, doutor, caiu uma bruta tempestade ontem à noite, e a enxurrada carregou todos os carros que estavam dormindo aqui. Tá tudo espalhado aí pela praça. Tome aqui a sua chave e vá procurá-lo, por favor.” A Praça Bagatelle estava uma desolação. Barro acumulado por todo lado e alguns carros - uns vinte talvez -, sobre os passeios, trombados em árvores e muros, enfim, um caos. De longe, enxerguei o vermelhinho todo enlameado, mas, felizmente, sem nenhum amassado, pois estava na parte aberta da praça, sobre um daqueles canteiros. Passei um mês lavando o carro todos os dias, mas, sem sucesso. Acabei vendendo o carrinho, também, com cheiro e tudo.  Uma lástima!
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS 
Uma parte de mim é permanente e a outra é um saber de repente.
Ferreira Gullar