quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

LINGUAGEM DOS PÁSSAROS

Outro dia, acordei com vontade de conversar. Mas, conversar muito, trocar ideias e confidências. Falar sem parar. Tentei com as paredes, pois, dizem, que elas falam. Nenhuma resposta as minhas indagações.
Tentei entabular uma conversa com um passageiro do elevador, quando fui buscar o jornal. Nada mais do que bom-dia e até logo. O porteiro, Sr. Marcos, só me cumprimentou e passou o jornal, sem qualquer interesse em conversa. Nem olhou pra mim. As faxineiras do prédio, muito simpáticas olham e não pronunciam uma palavra. Estão sempre muito ocupadas e mantém o prédio um brinco. Falei até com o síndico, o Ademar, sobre a dedicação e o cuidado de todos os empregados. É incrível, como ele me disse, que o Ed. Liberty seja um exemplo e motivação para que outros condomínios tenham como exemplo as mesmas rotinas de manutenção adotadas pelo prédio.
Legal, mas, continuo sem interlocutor.
Tentei uma volta na rua, na praça da Liberdade, cheia de gente que não quer conversar, só andar, correr ou ficar contemplando a natureza exuberante completada com fontes,
um coreto lindo e uma alameda lendária cheia de histórias como a que a tia Marina me contou outro dia.
Disse que ela e a mamãe iam para a praça, aos domingos à tarde, para fazer o footing.
Passeio das meninas e meninos na década de 1930, para conhecer, flertar e buscar um namorado/a para um futuro casamento. E lá, conheceu o papai, homem bonito, novinho em folha e solteiro. O bom-partido ideal. Mal sabia ela!
Começaram a namorar, nem sei se a palavra é esta, mas, começaram a se encontrar e ela o levou para conhecer seus pais, vovó Augusta e vovô Manoel, na rua Bernardo Guimarães, 305, onde tudo começou, também, para mim. Ela vinha de uma briguinha com o Nelsinho, meu futuro tio querido, exímio violonista e companheiro do Noel Rosa nas noitadas boêmias de muita cachaça e boa música na insipiente farra belorizontina.
O namoro durou pouco, pois, o tio Nelsinho voltou e o papai já estava interessado, mesmo, era na Lia, irmã da Marina e minha mãe. Discreta, pernas bem torneadas e um charme irresistível, que os acompanhava como vela nos encontros caseiros ou nas matinês do Cine Glória aos domingos. Foi um amor arrebatador! Decidiram se casar rápido e coincidentemente, no mesmo mês da tia Marina e do tio Nelsinho. Diferença de um ou dois dias.
E neste domingo vazio, eu continuava sem ninguém pra conversar. Nem os meninos nem a Iarinha, meu doce de coco, me ligaram.
Resolvi, então, puxar assunto com o Papagueno, um canário belga que me acompanha há muitos anos. Olhei-o fixamente e perguntei: Você está gostando daqui? Do tratamento que estou lhe dando? Das comidas que estou lhe servindo: jiló, mistura e maçã?
Ele me olhou fixamente e levantou as asas. Sempre fixado em mim.
Será que aquilo representaria uma vontade de voar, de ir embora? Ou seria a maneira dos pássaros dizerem que estão felizes?
Aí, me olhou de novo e disparou a cantar.
Roberto H. Brandão – 25/10/2009