OS DEVASSOS DE
GARULHOS
Tem dias que a gente acha que não vai
acontecer nada. E acontece tudo ou quase tudo.
Embarquei num voo atrasado de Washington para São Paulo, que deveria chegar no Brasil às 10:30 e, no entanto, desembarcamos às 11:30, esgotados depois de um voo de nove horas e meia. O avião, um Boeing 777, penúltima geração, muito confortável. Sentado no corredor, ao lado de uma senhora de Lewistown/Montana, a segunda do dia, que falava e perguntava pouco. Do jeito que eu gosto. Tenho horror de quem entra na fila para o embarque e já, na escada ou no finger, começa a perguntar, de onde você é? prá onde você vai? e outras bobagens. Tenho vontade de responder como meu impaciente e neurastênico tio Aureliano: “vou para a China meu amigo!”
Não me interessa nada dessas prosas, pois já viajei com todo tipo de vizinho: industrial de caixas de fósforos, de rodas de liga leve, de camisinhas, comerciante de livros, promotor de eventos, músicos e, mais recentemente, turistas, pedreiros, aventureiros, voluntários para ajudar na luta contra o aquecimento global e outros bichos.
Assim, ao lado da senhora de Montana, fiz uma viagem silenciosa, seca (só uma cerveja a US$ 6,00) e cansativa. Chegamos em Sampa às onze e meia e corri para embarcar no vôo das 12:10 para Belo Horizonte. É claro, perdi o delicioso Duty Free Shop, na corrida passei limpo pela alfândega e, ainda, perdi o avião para BH. Apesar de ser uma conexão, a TAM não me deixou embarcar. Fizeram o favor de me embarcar no voo das 16:45. Reclamei por dentro e por fora, inutilmente.
Fui parar num bar chamado Devassa onde já havia tomado umas, na ida. Que sorte a minha! O bar, nome de recente marca de cerveja, é sensacional. Aliás, o ambiente de qualquer aeroporto é sensacional. É só sentar e ficar vendo o movimento. Gente de todo tipo, de toda raça, de toda língua, com todo tipo de bagagem, passa por ali. E eu adoro isto!
Sentado num canto, tomando conta da bagagem de mão e da indispensável capa de chuva, consultei o cardápio. Existiam três tipos de cerveja: a Devassa Loura, a Devassa Ruiva e a Devassa Negra. Pedi uma Negra e umas batatas fritas pra passar o tempo. Eram 13:00 e havia tempo de sobra. Lá pelas 14:00 entraram duas jovens senhoras, que esperavam para o embarque num vôo para Salvador/BA, como soube depois. Acho que também pediram cerveja, sem especificar o tipo. Acabei a minha e pedi novamente: “Por favor, mais duas Devassas Negras”. As duas olharam pra mim assustadíssimas e perguntaram: “O quê é que o senhor quer?” Brinquei: “Só duas Devassas Negras. Vamos ver como elas vêm.” Aliás, pra quem não está no ambiente ou acaba de chegar, é uma surpresa! O quê será que vai chegar? E a garçonete trouxe as duas cervejas absolutamente normais, engarrafadas long-neck, bem geladas.
Falei com elas: “Estão vendo? Nada de mais”. E as duas dispararam a conversar e a contar suas vidas. Eram duas irmãs que não se viam há algum tempo e resolveram passar umas férias na Bahia para conversarem mais à vontade, sem pai nem mãe, irmãos, tios, sobrinhas e avós. “Free again”, como confirmaram em uníssono. A mais velha tinha cursado uma bolsa de estudos nos Estados Unidos e casou-se com um colega americano intragável, que ela só descobriu depois de casada. Disse que o cara implicava com tudo, desde os sapatos que usava até do penteado mais moderninho. Era um “chato de galochas”, segundo ela. Abandonou o marido, no segundo mês do casamento e fugiu para a Califórnia: Los Ângeles, onde fez de tudo. Peripécias incríveis! Brinquei com ela: “Você, então, é uma devassa branca”. Elas riram muito, pediram outras e a mais nova começou a contar suas aventuras no Brasil. Primeiro saiu muito cedo da casa dos pais e foi morar em Santos, sozinha. “Ninguém para me dar ordens. Odeio ser comandada!”
Mas, encantada com um halterofilista, melhor, fisiculturista, rato de praia, que passava dia e noite na frente do espelho fazendo caras, bocas e músculos. É claro, durou muito pouco tempo o conluio. Separou-se, enquanto não tinham filhos porque o narciso era barra pesada: praia, espelho e cama dia e noite”. Virou “free-lancer”, segundo ela, até que a irmã Rafaella a convidou para uma viagem a Los Angeles. Juntou algum dinheiro e se mandou para a Califórnia.
Na verdade, só me contaram o que achavam que podiam ou deviam, mas, fiquei imaginando as duas free em Los Ângeles. Deve ter sido uma loucura!
Brinquei de novo com elas: “Então, conheci mais uma devassa branca”. E assim ficamos até a hora dos embarques, primeiro o delas, depois o meu, com diversas devassas, as brancas, minhas amigas da última hora e as Negras, minhas amigas de sempre.
Ciao,Guarulhos!
Embarquei num voo atrasado de Washington para São Paulo, que deveria chegar no Brasil às 10:30 e, no entanto, desembarcamos às 11:30, esgotados depois de um voo de nove horas e meia. O avião, um Boeing 777, penúltima geração, muito confortável. Sentado no corredor, ao lado de uma senhora de Lewistown/Montana, a segunda do dia, que falava e perguntava pouco. Do jeito que eu gosto. Tenho horror de quem entra na fila para o embarque e já, na escada ou no finger, começa a perguntar, de onde você é? prá onde você vai? e outras bobagens. Tenho vontade de responder como meu impaciente e neurastênico tio Aureliano: “vou para a China meu amigo!”
Não me interessa nada dessas prosas, pois já viajei com todo tipo de vizinho: industrial de caixas de fósforos, de rodas de liga leve, de camisinhas, comerciante de livros, promotor de eventos, músicos e, mais recentemente, turistas, pedreiros, aventureiros, voluntários para ajudar na luta contra o aquecimento global e outros bichos.
Assim, ao lado da senhora de Montana, fiz uma viagem silenciosa, seca (só uma cerveja a US$ 6,00) e cansativa. Chegamos em Sampa às onze e meia e corri para embarcar no vôo das 12:10 para Belo Horizonte. É claro, perdi o delicioso Duty Free Shop, na corrida passei limpo pela alfândega e, ainda, perdi o avião para BH. Apesar de ser uma conexão, a TAM não me deixou embarcar. Fizeram o favor de me embarcar no voo das 16:45. Reclamei por dentro e por fora, inutilmente.
Fui parar num bar chamado Devassa onde já havia tomado umas, na ida. Que sorte a minha! O bar, nome de recente marca de cerveja, é sensacional. Aliás, o ambiente de qualquer aeroporto é sensacional. É só sentar e ficar vendo o movimento. Gente de todo tipo, de toda raça, de toda língua, com todo tipo de bagagem, passa por ali. E eu adoro isto!
Sentado num canto, tomando conta da bagagem de mão e da indispensável capa de chuva, consultei o cardápio. Existiam três tipos de cerveja: a Devassa Loura, a Devassa Ruiva e a Devassa Negra. Pedi uma Negra e umas batatas fritas pra passar o tempo. Eram 13:00 e havia tempo de sobra. Lá pelas 14:00 entraram duas jovens senhoras, que esperavam para o embarque num vôo para Salvador/BA, como soube depois. Acho que também pediram cerveja, sem especificar o tipo. Acabei a minha e pedi novamente: “Por favor, mais duas Devassas Negras”. As duas olharam pra mim assustadíssimas e perguntaram: “O quê é que o senhor quer?” Brinquei: “Só duas Devassas Negras. Vamos ver como elas vêm.” Aliás, pra quem não está no ambiente ou acaba de chegar, é uma surpresa! O quê será que vai chegar? E a garçonete trouxe as duas cervejas absolutamente normais, engarrafadas long-neck, bem geladas.
Falei com elas: “Estão vendo? Nada de mais”. E as duas dispararam a conversar e a contar suas vidas. Eram duas irmãs que não se viam há algum tempo e resolveram passar umas férias na Bahia para conversarem mais à vontade, sem pai nem mãe, irmãos, tios, sobrinhas e avós. “Free again”, como confirmaram em uníssono. A mais velha tinha cursado uma bolsa de estudos nos Estados Unidos e casou-se com um colega americano intragável, que ela só descobriu depois de casada. Disse que o cara implicava com tudo, desde os sapatos que usava até do penteado mais moderninho. Era um “chato de galochas”, segundo ela. Abandonou o marido, no segundo mês do casamento e fugiu para a Califórnia: Los Ângeles, onde fez de tudo. Peripécias incríveis! Brinquei com ela: “Você, então, é uma devassa branca”. Elas riram muito, pediram outras e a mais nova começou a contar suas aventuras no Brasil. Primeiro saiu muito cedo da casa dos pais e foi morar em Santos, sozinha. “Ninguém para me dar ordens. Odeio ser comandada!”
Mas, encantada com um halterofilista, melhor, fisiculturista, rato de praia, que passava dia e noite na frente do espelho fazendo caras, bocas e músculos. É claro, durou muito pouco tempo o conluio. Separou-se, enquanto não tinham filhos porque o narciso era barra pesada: praia, espelho e cama dia e noite”. Virou “free-lancer”, segundo ela, até que a irmã Rafaella a convidou para uma viagem a Los Angeles. Juntou algum dinheiro e se mandou para a Califórnia.
Na verdade, só me contaram o que achavam que podiam ou deviam, mas, fiquei imaginando as duas free em Los Ângeles. Deve ter sido uma loucura!
Brinquei de novo com elas: “Então, conheci mais uma devassa branca”. E assim ficamos até a hora dos embarques, primeiro o delas, depois o meu, com diversas devassas, as brancas, minhas amigas da última hora e as Negras, minhas amigas de sempre.
Ciao,Guarulhos!
FRASES,
PESAMENTOS E AFORISMOS
“A verdadeira arte de viajar... A gente sempre deve
sair à rua como quem foge de casa, como se estivessem abertos diante de nós
todos os caminhos do mundo...” Mario
Quintana