domingo, 18 de maio de 2014


PESCARIA EM CABO FRIO
Depois de um churrasco, que varou a noite quente, decidimos contratar um barco para uma pescaria ao largo da Praia do Forte. Eu, marinheiro de primeira viagem e dois marinheiros treinados,  o Marcinho e o Titão, tomamos um café rápido para embarcar bem cedinho, pois o dia havia amanhecido muito úmido e abafado. Pegamos a tralha e passamos no Mercado de Peixes para comprar as iscas. O sol raiava quando  embarcamos numa daquelas traineiras que ficam aportadas ao longo do Canal, debaixo da ponte que liga a cidade às praias do Peró e das Conchas, na época, desertas.
O barquinho era um daqueles de apelido tum-tum-tum, pois este é o barulho do seu motorzinho de um cilindro, instalado no meio. Podemos ir lançando as iscas, pois enquanto não chegarmos aonde vamos parar, a gente talvez consiga alguma fisga de fundo, falou o comandante Titão.  E ele tinha razão, pois ao ancorarmos  já havia um peixe bem razoável na linha de fundo. Os dois embarcaram o bicho e nos instalamos para iniciar a pescaria; eu no meio e cada um numa ponta do barquinho. Para mim, foi  pior.  Comecei a sentir um enjôo horrível, embora já tivesse  tomado três comprimidos de Dramine, indicados para conter os mal-estares marítimos. Noutra feita, a mesma indisposição já havia estragado minha viagem de lua de mel a bordo de um transatlântico para a Argentina. Imagine num barquinho desses! E fui piorando. Alertei aos marinheiros sobre a minha indisposição, dizendo que ficaria encolhido num canto esperando por eles. Nem deram bola, entretidos que estavam em puxar um peixe atrás do outro. E nisso eles eram bons mesmo.
Para não estragar o programa, acomodei-me num cantinho do barco, fechei os olhos para não ver o balanço das ondas e fiquei quietinho, fingindo-me  de morto. E nada de melhorar. Afinal, tomei coragem, levantei-me, dirigindo a eles: "Vocês me desculpem, mas estou péssimo, não consigo nem ficar em pé no barco, quem sabe vamos embora?"  E os dois: "Aguenta aí, Roberto, estamos salvando o nosso almoço e jantar das  férias. Fique firme."  Acomodei-me novamente e tentei ficar firme, mas a sensação era horrível, estava enjoado demais. E os dois, pescando animadamente.
Subitamente, não suportei mais, levantei-me e gritei: "Olha, gente, o trem tá feio, ou vamos embora a-go-ra ou me atiro no mar, não aguento mais." Marcinho olhou pra mim e falou: “Olha o Roberto, Titão, ele está transparente. Vamos embora senão esse cara morre aqui”. Titão, rindo muito, concordou. Em seguida, deram ordem para o pescador voltar o mais rápido que pudesse.
Mas, aí, veio o pior. O motor do barquinho não pegava de jeito nenhum. O barqueiro tentava, tentava e nada. Como consolo, explicou que, de vez em quando, acontecia aquilo mesmo, mas que ele ia limpar a vela do motor e que daria certo. De fato, limpou-a com uma estopa velha, raspou o conector com uma faquinha e tum-tum-tum, o motor pegou. Zarpamos naquela velocidade de tartaruga rumo à praia. Com uma piscada de olho, consegui enxergar os prédios da Praia do Forte, lá bem distante, então me animei um pouco. Na verdade, com o barco em movimento, vento no rosto, o enjôo vai diminuindo e, assim, fui recuperando o bem-estar. Daí pra frente, foi só alegria. Aportamos sãos e salvos e com um estoque de peixes para uma semana de bons pratos. No jantar, rimos muito do acontecido.
Belo Horizonte, maio/2014.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
"Governos mais democráticos produzem melhor capitalismo, que produz mais riqueza - para todos." Eurípedes Alcântara - em crítica ao livro Capital, do canadense Thomas Piketty, livro sensação do momento segundo a revista Veja.