PESCARIA EM
CABO FRIO
Depois de um
churrasco, que varou a noite quente, decidimos contratar um barco para uma
pescaria ao largo da Praia do Forte. Eu, marinheiro de primeira viagem e dois
marinheiros treinados, o Marcinho e o
Titão, tomamos um café rápido para embarcar bem cedinho, pois o dia havia
amanhecido muito úmido e abafado. Pegamos a tralha e passamos no Mercado de Peixes
para comprar as iscas. O sol raiava quando embarcamos numa daquelas traineiras que ficam
aportadas ao longo do Canal, debaixo da ponte que liga a cidade às praias do
Peró e das Conchas, na época, desertas.
O barquinho era um
daqueles de apelido tum-tum-tum, pois
este é o barulho do seu motorzinho de um cilindro, instalado no meio. Podemos ir lançando as iscas, pois enquanto
não chegarmos aonde vamos parar, a gente talvez consiga alguma fisga de fundo,
falou o comandante Titão. E ele tinha
razão, pois ao ancorarmos já havia um
peixe bem razoável na linha de fundo. Os dois embarcaram o bicho e nos
instalamos para iniciar a pescaria; eu no meio e cada um numa ponta do
barquinho. Para mim, foi pior. Comecei a sentir um enjôo horrível, embora já
tivesse tomado três comprimidos de Dramine,
indicados para conter os mal-estares marítimos. Noutra feita, a mesma indisposição
já havia estragado minha viagem de lua de mel a bordo de um transatlântico para a Argentina. Imagine num
barquinho desses! E fui piorando. Alertei aos marinheiros sobre a minha
indisposição, dizendo que ficaria encolhido num canto esperando por eles. Nem
deram bola, entretidos que estavam em puxar um peixe atrás do outro. E nisso
eles eram bons mesmo.
Para não estragar o
programa, acomodei-me num cantinho do barco, fechei os olhos para não ver o
balanço das ondas e fiquei quietinho, fingindo-me de morto. E nada de melhorar. Afinal, tomei
coragem, levantei-me, dirigindo a eles: "Vocês me desculpem, mas estou
péssimo, não consigo nem ficar em pé no barco, quem sabe vamos embora?" E os dois: "Aguenta aí, Roberto, estamos
salvando o nosso almoço e jantar das
férias. Fique firme."
Acomodei-me novamente e tentei ficar firme, mas a sensação era horrível,
estava enjoado demais. E os dois, pescando animadamente.
Subitamente, não
suportei mais, levantei-me e gritei: "Olha, gente, o trem tá feio, ou
vamos embora a-go-ra ou me atiro no mar, não aguento mais." Marcinho olhou
pra mim e falou: “Olha o Roberto, Titão, ele está transparente. Vamos embora
senão esse cara morre aqui”. Titão, rindo
muito, concordou. Em seguida, deram ordem para o pescador voltar o mais rápido que
pudesse.
Mas, aí, veio o
pior. O motor do barquinho não pegava de jeito nenhum. O barqueiro tentava,
tentava e nada. Como consolo, explicou que, de vez em quando, acontecia aquilo
mesmo, mas que ele ia limpar a vela do motor e que daria certo. De fato, limpou-a
com uma estopa velha, raspou o conector com uma faquinha e tum-tum-tum, o motor pegou. Zarpamos naquela velocidade de
tartaruga rumo à praia. Com uma piscada de olho, consegui enxergar os prédios
da Praia do Forte, lá bem distante, então me animei um pouco. Na verdade, com o
barco em movimento, vento no rosto, o enjôo vai diminuindo e, assim, fui
recuperando o bem-estar. Daí pra frente, foi só alegria. Aportamos sãos e
salvos e com um estoque de peixes para uma semana de bons pratos. No jantar,
rimos muito do acontecido.
Belo Horizonte, maio/2014.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
"Governos mais democráticos produzem melhor capitalismo,
que produz mais riqueza - para todos." Eurípedes Alcântara - em crítica ao livro Capital, do canadense
Thomas Piketty, livro sensação do momento segundo a revista Veja.