domingo, 13 de maio de 2012

LIA DAS LINHAS E...
1995
Ao longo do tempo - e já se vão cinquenta e três anos - tenho recebido uma influência muito positiva da mamãe. Ela está sempre com o dedinho de positivo armado, oferecendo para todos nós um ânimo novo para nossas vidas.
E hoje, no Dia das Mães do ano de 1995, quero registrar sua maior habilidade, que me inspirou a escrever esta crônica: o trato com as linhas.
A linha sempre foi parte ativa na vida dela. Ela vive enrolada com as linhas o tempo todo e com o maior desembaraço. Com elas, tece belíssimos trabalhos em tricô e crochê, faz bordados finos de extremo bom gosto e também as utiliza para outras finalidades menos nobres como auxílio fixar uma lâmpada frouxa, firmar a maçaneta da porta, pendurar quadros e avisos, servindo, ainda, alternativamente, como chaveiros, pulseiras, colares e outros badulaques. Para ela, a linha serve pra tudo, até para costurar lindos vestidos e pregar botões.
Pela vida afora, não me recordo de tê-la visto, em qualquer tempo e em nenhuma situação, sem que tivesse um fiapo de linha agarrado na saia, outro enfiado na agulha espetada na golinha da blusa, mais um caído no chinelo e outros tantos espalhados pelo chão. Imagino que, filosoficamente, a linha seja o seu elo de contato com a vida e esse bolo de linhas, ao longo do tempo, represente sua enorme vitalidade e lucidez em plenos 83 anos.
Continue assim, mamãe, você, é a linha da nossa vida.
Obrigado por tudo, querida Lia das linhas. Em 20/04/1995

2005

...E DOS PARAFUSOS!
Como se não lhe bastassem as linhas, dez anos depois, aos 93 anos, mamãe ganhou quatro parafusos pequenos, um grande e uma placa, que, carinhosamente, ela apelidou de bens de família. Assim, o novo equipamento competentemente instalado pelo “anjo-chefe”, Dr. Marcelo, entrou para a história da família.
O parafuso maior ela chamou de Dorival que, realmente, é um legítimo prego italiano, perfeitamente aparafusado na sustentação de uma famiglia feliz. Aos quatro parafusinhos, chamou pelo nome dos bisnetos, em ordem decrescente de idade: Rafael, Marina, Henrique e Iara. E a placa, claro, batizou de Lúcia, significando uma sólida pega de união entre todos desta família feliz. A Lúcia é a placa mesmo, o
elo de ligação, o esteio e a segurança para manutenção da estabilidade e do bom humor familiar. E que humor!  
Ainda no bloco cirúrgico, para instalação das peças, mamãe saiu com uma brincadeira com a equipe médica que a assistia, dizendo: Estou achando que morri e vocês são os anjos que estão velando pela minha entrada no céu. Todos sorriram.
Sucesso total de um grupo de “anjos” competentes e dedicados que contaram, ainda, com a sapiência de um peso-pesado da cardiologia mineira, o Dr. Henrique.
Naquela sua breve passagem pelo Hospital Ortopédico, mamãe deixou uma legião de amigos que, na saída, foram acompanhá-la. Todos com lágrimas nos olhos, inclusive eu e a Lúcia. Foi muito comovente!
Ah! Ela convidou os “anjos” para um pernil assado a ser preparado pelo “parafusão”, que é a especialidade dele.
Assim, estamos todos aguardando o pernil e o próximo encontro para o rega-bofe, em Nova Lima. Em 8/05/2005

2012

O CENTENÁRIO
E hoje, lá se vão mais de três anos que nos despedimos da mamãe, num quarto do Hospital da OAB, onde ela fechou os olhinhos para se encontrar com a Lúcia.
Durante muitos anos, nós a proibimos de morrer e ela nos obedecia cegamente. Mas, desde que a Lúcia se foi, ela ficou sem lugar neste mundo. E naquela noite no hospital, sentei-me ao lado dela, nos demos as mãos e eu a autorizei a juntar-se à Lúcia. Cassei, naquela hora, a proibição que havíamos imposto e falei baixinho no ouvido dela: Você pode ir agora, querida, a Lúcia está esperando-a num lugar muito lindo e também com muita saudade de você. Ela apertou suavemente a minha mão, deu um risinho histriônico, fechou os olhinhos cansados e foi-se embora.
Esta é a minha homenagem a você, no Dia das Mães em 2012, quando você faria 100 anos. Um beijo, querida.
Belo Horizonte, maio/2012

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Alguns levam felicidade aonde vão. Outros, quando se vão. Oscar Wilde