VIZINHANÇA INCÔMODA NA COBERTURA
Dia desses, a cobertura do prédio
onde o Frederico mora e acima do apartamento dele, recebeu uma vizinhança muito
incômoda.
Recentemente, toda vez que o
Frederico saía de casa notava uma sujeira qualquer caindo das gretas do alçapão
no hall da escada, em frente da sua porta. Era uma sujeira estranha, meio
"titica de galinha" misturada com poeira e serragem, sem cheiro, mas
muito pródiga(?), deixando imunda a entrada da casa.
Certa manhã, ele acordou decidido,
pegou a escada e se meteu escuridão adentro no forro do telhado. Ligou a luz do
poderoso celular e deu de cara com esse bichinho, aí retratado: um filhote de
urubu, em pé ao lado do ninho vazio.
Ah! Então é você o responsável por
essa porcariada toda?
Subitamente, percebeu certo
movimento numa fresta no telhado, por onde viu entrar a mamãe urubua, toda empertigada, trazendo no
bico comida pro filhotinho.
Frederico se ajeitou na laje suja
e ficou observando mãe e filho se entenderem. Como todas as mães zelosas,
alimentou o seu bebê, fez-lhe um carinho com o bico e depois partiu para novos
voos e aventuras diurnas. Certamente, voltaria à noite para também se abrigar
por ali.
Frederico já
havia visto urubus sobrevoando o prédio e algumas vezes até pousados no
parapeito do terraço; talvez, por isso não fosse difícil supor que estivessem
por ali vigiando o tal filhote. Ele observou que aquelas aves eram bastante silenciosas, diferentemente de outros
habitantes desses forros como os gambás, morcegos, corujas e outros. Não
piavam, movimentavam-se muito pouco, mas deixavam uma sujeira danada.
Adriana e Iara também acharam
muito estranha a descoberta de Frederico e decidiram buscar orientação na Polícia Ambiental, que aconselhou a retirada do
bichinho do forro do telhado e sua soltura num
lote vago, com a certeza de que a mãe logo o encontraria.
E assim ocorreu o
despejo do inquilino indesejado da cobertura, que saiu andando, puxado por uma
cordinha no pescoço pelado.
Pelo jeito, vida
de urubu não é fácil!
Belo Horizonte, outubro/2014.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“He amado hasta llegar a la locura; y eso a lo que llaman
locura, para mi, es la única forma sensata de amar.” Françoise Sagan