NEW YORK, here I come
Em meados dos anos sessenta, resolvi passar uma temporada em New York a fim de sentir e conhecer a maior e mais movimentada cidade do mundo.
Considerando a vidinha pacata de estudante universitário em Ribeirão Preto , no interior de São Paulo, que queria viver tudo na vida mesmo dentro de um orçamento limitadíssimo de professor de violão, a ideia era uma loucura. Mas, não me intimidei.
Aceitei o convite de um brasileiro perdido na Big Aple, que me ofereceu um quarto mobiliado numa kitinete do Village. Reconheço que ele era mais corajoso e aventureiro do que eu, pois trabalhava como pedreiro na construção de uma ponte que ligava a ilha de Manhatan ao continente e, naquela época natalina, estava dispensado de comparecer ao serviço, pois a cidade registrava um dos piores invernos no hemisfério norte.
As temperaturas variavam entre vinte e vinte cinco graus abaixo de zero com muita chuva e neve que tornavam impossíveis as obras ao ar livre. Só de atravessar alguns pedaços abertos nas ruas já era terrível. Vivíamos de porta em porta nos escondendo do gelado inverno. E como o meu novo amigo recebia apenas pequeno soldo para suas férias forçadas, resolvi dividir com ele alguns sanduíches, leite quente e umas cervejinhas para distrair. E assim fomos levando a vida. Eu tentava dar aulas de violão nas escolas de música - diversas no Village -, mas a bossa-nova era ainda muito insipiente nos Estados Unidos.
Havia um tal de João Gilberto fazendo apresentações aqui e ali. Muito chato, exigindo salas sem nenhum zumbido de mosca, e um outro brasileiro na costa oeste, com um trio – piano, contra-baixo e bateria – que apresentava um som novíssimo com um grupo de cantoras americanas e brasileiras. Eles acabaram gravando um LP antológico chamado Sérgio Mendes e o BRASIL 66. Uma obra que guardo até hoje na minha preciosa coleção de vinis.
Entre uma aulinha aqui, outra ali, fui ficando para trás do grupo com o qual havia partido do Brasil, para uma bolsa chamada Experiment in International Living, oferecida pelo governo americano, que pagava as passagens de ida e volta e oferecia estadia e refeições em casas particulares. O grupo prosseguiu dentro do roteiro previamente acertado, indo de New York para Virginia e West Virginia, North e South Carolina, Geórgia, Alabama e Florida, hospedados em casas de família o que, no momento, não me interessava. O que eu queria era a tal experiência de viver internacionalmente, ipsis literis, por minha conta e risco.
Fico contando das dificuldades, mas houve também muita coisa boa. Por exemplo, conheci a cidade e, principalmente o Greenwich Village, como poucos. Cheguei até a dar umas canjas nos bares de jazz mais modestos e fui me aprimorando na língua, quase como um pedinte. Alguns anos depois, sentado no banco de uma praia em Miami, sentou-se ao meu lado um senhor americano, um pouco mais velho do que eu, e começamos a conversar. De repente, ele perguntou: “Are you from New York , born there?” Ficou incrédulo quando lhe contei sobre minhas origens. Convidou-me para umas buds e encerramos o papo num bar de piratas, na orla de Miami City.
De lá para cá me encantei com a terra do Tio Sam e vivo nesse vaivém.
Mês que vem estou indo de novo.
Belo Horizonte, julho 2013.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS