domingo, 2 de março de 2014

                                                 PUTNEY, VERMONT
Numa manhã gelada, - 35º, saímos para comprar um esquenta-peito e aperitivos para a apresentação que faríamos à noite, num abrigo/estação de inverno em Putney, Vermont, USA, na fronteira com o Canadá.
Estávamos reunidos naquela cidade, todos os estudantes do programa Experiment in International Living, no ano de 1965 nos Estados Unidos, para uma reunião de congraçamento. Para animar o encontro e fazer um shaking hands coletivo, eram mais de mil estudantes, os organizadores do evento sugeriram que cada país, através dos seus representantes, montasse uma apresentação como julgasse melhor, pela música, literatura, história, dança, ou o que fosse, que bem representasse a sua terra.
Decidimos contar a nossa história recente, éramos mais de cinquenta, mostrando o país no Século XX através da leitura de um texto que falasse sobre a nossa localização, tamanho, população, economia, política e relações internacionais, tudo em momentos pontuais, tendo a música como referência, que ficaria em back-ground.
Os dez estudantes do Itamarati, iriam contar a história, eu faria a música de fundo com o violão e voz, e outros encenariam uma movimentação no palco de acordo com a época e o assunto, andando, dançando, fazendo barulho, cantando comigo, enfim, dramatizariam com caras, bocas e corpos, de acordo com a história. O momento era delicado pois estávamos em plena ditadura militar e isto marcava com um especial interesse dos espectadores para saber como era viver num país sob aquelas coindições.
Preparei um roteiro para a minha participação começando com “Mamãe eu quero”, “Aquarela do Brasil” e “Na Baixa do Sapateiro”, já conhecidas internacionalmente através da Carmen Miranda e outros músicos que haviam migrado para os Estados Unidos na década de 1940, até chegar à bossa-nova que vinha despontando na América de costa a costa. Há pouco tempo, um grupo de bossanovistas havia se apresentado no Carneggie Hall em New York, o João Gilberto vinha fazendo apresentações em algumas cidades grandes como Chicago, Boston e Filadélfia e o Sergio Mendes estava se instalando na Califórnia. Era, portanto, um bom momento para a música brasileira.
Nossa apresentação era a última daquela noite e fomos tão aplaudidos que permaneci no palco por mais duas horas, tocando e cantando as músicas que conhecia dos outros países: França. Inglaterra, Argentina, Israel, Alemanha, Itália e até uns fados portugueses. Foi uma noite de glória total.  
O mais curioso desta história é que, naquela saída, andamos pela cidade toda e não encontramos nenhum bar, nenhuma loja de bebidas. Assim, reclamando, nos sentamos pra tomar um chocolate quente quando a atendente, muito gentil, nos explicou que Putney era uma dry-city, denominação americana das cidades que não vendem bebidas alcoólicas, e que, se quizéssemos mesmo, era só andar mais uns três quarteirões que, do outro lado daquela rua, apontou, é uma outra cidade e lá, vendem bebidas à vontade. Ufa!
Belo Horizonte, fevereiro/2014
 
FRASES. PENSAMENTOS E AFORISMOS
Eu sempre trabalhei com uma coisa linda chamada esperança. Henfil