sábado, 12 de outubro de 2013

                                          Av. Afonso Pena, na década de 1940


                                    MEIA HORA NA AFONSO PENA

Depois de um almoço na Associação Comercial de Minas, oferecido pela missão comercial de Hong Kong, desci para esperar o motorista na porta do prédio e lá fiquei observando os passantes e a situação em geral. Eram 14 horas. De maneira geral, o pessoal que transita por ali é feio, mal vestido e de humor duvidoso, pois todos de cara amarrada.
Um Fiat Dobló estaciona bem na porta e saem dois ocupantes: o que conduzia um carrinho de supermercado e um porta-treco com rodas vira-se para o motorista e fala: “Eu vou demorar, pelo menos, uma hora pra recolher tudo”. O outro responde: “Vai tranquilo, eu dou um jeito”. O jeito dele foi abrir o capô da perua, buscar uma garrafa de água e ficar fingindo que estava arrumando o motor do carro e, muito atento, ficar observando se aparecia algum fiscal de trânsito.
Duas moças - jovens senhoras - param à minha frente e continuam uma conversa que já deviam estar tratando há muito tempo, pois estavam se despedindo e uma tentava convencer a outra.
- Você tem que ir é para casa, eu sei o que você está passando e o jeito é enfrentar a situação.
- Pois é, mas eu queria mesmo era sumir!
Uma grita:  
- Não, senhora. Eu vou levar você pra casa e fim de papo.
- Mas eu não tenho mais ambiente, ele nem olha mais pra mim.
- Bobagem, é só você se ajeitar um pouquinho que ele vem de rastro, podes crer.
- Mas eu não quero, estou sem jeito, muito desapontada.
- Queira ou não, eu vou levá-la pra casa  - falou a mandona, pegando a amiga pelo braço e a arrastando em direção ao carro dela.
Fiquei distraído ouvindo a discussão delas e não vi uma mocinha, até bonitinha, de jeans bem curtinho, pernas finas e botas, que para na minha frente e diz, entregando-me um cartão: “Não sei se sou o seu tipo, mas tenho certeza de você vai gostar”. No cartão impresso com verniz, dizia, “Fulana de Tal” - Acompanhante de luxo – Fone: (31) xyxyxyxy - fulana.com.br/detal E seguiu caminho olhando para ver se percebia alguma reação da minha parte. Nada.
Viro o rosto e vejo um rapaz vindo em minha direção. Aperto o bolso que estava com a carteira e seguro o celular no outro bolso do paletó.  Ele para na minha frente com um papel na mão e pergunta: “Você sabe onde é o xerox?” Disse que não tinha a menor ideia e fiquei prestando atenção numa mulher bem gorda que tentava entrar pela porta do ônibus. Tem um ponto em frente. Não conseguiu, berrou alguma coisa para o motorista, que se mandou acelerando.
Nisto, aparece o Paulão, motorista da Epamig, a pé e abanando a mão, no meio da avenida: “Dr. Brandão, não consegui atravessar pra este lado, o carro está lá em frente”, apontando o outro lado da avenida.
Preparava-me para atravessar a avenida quando fui abordado por Mr. Louis Ho, HKTDC Regional Director for the Américas, que falou sorrindo: “Hei Roberto, with this glasses you look like James Bond”. E eu: “But I’m not a spy, Mr. Ho, be sure. See you in Hong Kong next year”. Ele riu muito e entrou no táxi.

Belo Horizonte, outubro/2013
 
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

A tragédia da vida é que ficamos velhos cedo demais e sábios, tarde demais. Benjamim Franklin