ADEUS PAPAGUENO IV
Herança dos meus
tios José e Tonico, logo que me casei, decidi manter em casa um passarinho. Não
que goste de pássaros engaiolados; mas os canários belgas nascem e são criados
em gaiola para alegrar a vida de quem também vive engaiolado em casas e
apartamentos diminutos. O bichinho é alegre e inofensivo, come alpiste,
vitamina e uma mistura própria para a raça; bebe pouca água e enfeita e anima a
vida dos solitários com seu canto bonito e descontraído.
Quando me mudei
para a Rua Sergipe, carreguei o meu canário, já na geração IV. Desde o primeiro
apartamento da Rua Chicago até agora sempre mantive um pássaro canoro para me
ocupar em tratá-lo todas as manhãs e ficar aguardando seu delicioso gorjeio
durante o dia. Nas minhas chegadas e partidas, dia e noite, eles sempre me
receberam com um canto ou um pio, dependendo da hora. Isto porque os canários
não cantam à noite, só piam.
Nesta semana, foi
a vez da partida do Papagueno IV, que morreu mesmo feito um passarinho, caído
no fundo da gaiola. Coitadinho, até pra morrer não deu trabalho. Embrulhei-o
numa folha de jornal e o coloquei na lixeira. Simples assim.
A toca do Brandão
ficou mais vazia. A presença daquela figurinha me trazia aconchego, um
sentimento de chegar em casa e me sentir
acompanhado, registrado com um simples piado ou com uma sequência de gorjeios e
trinados realmente confortadores e sinceros.
Foram mais de
quarenta anos acompanhado pelos Papaguenos I,II, III e IV.
O nome foi
sugerido pelo meu compadre Flávio Simão, referindo-se a um personagem-pássaro
da ópera “A Flauta Mágica”, de Mozart.
Agora, estou
aguardando ansioso o novo companheiro, o Papagueno V, para suceder o velho que
me foi oferecido pelo meu filho Frederico, também doador do IV, que veio de
Sete Lagoas, quando eles se mudaram para Belo Horizonte. Será que os canários
de BH cantam diferente dos canários de Sete Lagoas?
Belo Horizonte,
dezembro/2015.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“O homem é a mais
insana das espécies. Adora um Deus invisível e mata a Natureza visível, sem
perceber que a Natureza que ele mata, é esse Deus invisível que ele adora.” Hubert Reeves