UMA CARTA AO PAPA JOÃO
PAULO II
Um grupo de pseudo-intelectuais dos anos
1960 em Belo Horizonte, eu
incluído, combinamos de assistir ao filme Veridiana, do fabuloso Luis Buñuel e,
depois de todos assistidos, nos reunirmos para os comentários num bar chamado
Porão, numa velha casa tombada da Av. João Pinheiro.
Esta casa, aliás, havia sido a moradia de
uma parenta do papai que chamavam de vovó
Petronília, que não conheci. O sugestivo
nome do rústico bar justificava-se porque fora montado no porão da casa, que
ficava ao rés da rua. Era um porão alto, de porta pesada de madeira. Está lá
até hoje onde funciona uma clínica de fisioterapia.
Cerveja farta e conversa solta, passamos a
discutir o filme, cada um com uma interpretação mais esdrúxula e o Luís,
professor de cinema no Curso Comunicação da UFMG, era o moderador/coordenador
dos debates.
Particularmente, eu estava muito confuso
pois,
recentemente, havia começado a frequentar as missas da igreja católica, por
influência do meu namoro com a Carminha.
Aos domingos toda a família dela ia à missa
na capela do Colégio Loyola e eu também embarquei nessa. Não largava a namorada
por nada!
No entanto, minha formação religiosa
pregressa havia passado por fases absolutamente distintas e variadas. Mamãe me
contou que fui batizado na igreja e a partir dali, nunca mais havia frequentado
qualquer igreja mas havia sido induzido a fazer minha primeira comunhão em São Paulo, por costume da época.
Logo depois, nos mudamos para Belo Horizonte
onde fui morar com um tio solteirão, espírita praticante, onde toda
quarta-feira participava dos cultos inclusive cantando os “pontos” dos
espíritos que baixavam nas sessões láem casa. Para quem não sabe, os “pontos” são as
músicas dos espíritos que, cantadas pelos presentes, atraem as almas para virem
baixar nas sessões espíritas. E atraem mesmo. Lembro-me de que numa das sessões
cantamos o ponto de um espírito, o índio Guarani, que baixou e falou que era
meu protetor. Perguntou se eu tinha algum pedido a fazer e respondi que queria
que ele acompanhasse a mamãe, que estava viajando sozinha naquele dia
para os Estados Unidos.
Acreditem! Uma semana depois ele voltou à sessão e contou que o avião da mamãe,
um Douglas DC-6, havia parado um dos motores, em cima do Mar do Caribe e ele o
havia segurado até fazerem um pouso de emergência em Trinidad&Tobago,
mudando o curso que era para Miami.
Mamãe confirmou por carta o episódio, um mês
depois. Naquele tempo, este era o tempo dos Correios para as correspondências
internacionais.
E mais este acontecimento favoreceu minha
confusão religiosa.
Voltando ao Porão, confuso com a ideia da
existência de Deus y otras
cositas más, resolvi escrever para Sua Santidade para
obter uns esclarecimentos. E assim fiz, com a absoluta perplexidade dos
companheiros de mesa.
No dia seguinte, coloquei no Correio uma
carta com o seguinte destinatário:
Vossa Reverendíssima Papa João Paulo II
VATICANO II - Itália.
Algum tempo depois recebi, também por carta,
uma resposta, através do Bispo Dom João de Araújo Costa, que me informou que o
Santo Padre havia recebido minha singela missiva e que me recomendava a leitura
dos anais do Concílio Vaticano II, à disposição na biblioteca da Capela
Sistina.
Lógico que lá estive, no entanto, em Latim,
não consegui entender as respostas às minhas dúvidas religiosas que persistem
até hoje.
(Foto Google)
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Quando estou fraco fico mais
forte. São Paulo