domingo, 10 de novembro de 2013

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PETRIKA E SPINELLI

Na década de 1950, foram inauguradas em São Paulo duas fábricas de sapatos que passaram a oferecer modelos sob medida das suas criações.

A Petrika, de origem grega, mostrava uma linha mais formal, em couro alemão, sapatos sociais na maioria pretos, chiquérrimos mesmo, e a Altemio Spinelli, que apresentava uma linha mais descontraída, baseada nos lindos modelos dos lançamentos italianos. Ela ainda está lá na Rua Oscar Freire, quase esquina de Augusta. O meu amigo Eloy deve se lembrar dessas marcas.

A italiana Spinelli era a minha preferida. E eles duram tanto que ainda tenho dois pares em boas condições de uso, comprados naquela época. Lembro-me, inclusive, de uma bota de cano curto, em desenho inglês tipo Oxford, que levou muitas meias-solas até não suportar mais as costuras e ir pro brejo.

Na nossa turma lá da Rua Arruda Alvim havia os que preferiam os Petrikas - caso do Estácio -, e nós outros que preferíamos os italianos Spinelli. Entusiasmado, ele juntou umas economias e comprou o sapato grego bem estiloso, meias de seda e viajou conosco para a Cidade Ocean, condomínio recém-inaugurado na Praia Grande. O pai do Renato “magro”, também da turma, tinha lá um apartamento para onde íamos, invariavelmente, todo fim de semana. O Renato, eu e o meu violão éramos fixos; os outros da turma se revezavam. E, naquele feriado prolongado, o Estácio era um deles, que não desgrudava do sapato novo nem para ir à praia.

Todos os banhistas descalços ou com sandálias e ele desfilando com o seu Petrika, muito bem engraxado, calçado sobre meias pretas. Acabou virando uma figura folclórica durante aquelas férias.

À noite, quando arrumávamos companhia, promovíamos uns banhos noturnos, tipo Adão e Eva. Numa daquelas noites, o Estácio já bem animado com umas canas descalçou a preciosidade e mergulhou no mar, deixando-a junto com as roupas na areia. Nadou a se fartar e quando saiu do mar para se vestir, os sapatos haviam sumido. Ficou doido, baratinado. Começou a correr de um lado pro outro, gritando: “Fui roubado, pegaram meus sapatos, me ajudem, por favor. Meus sapatos custaram uma fortuna. Chamem a polícia, tem ladrão na praia. Imploro que me ajudem!”

E assim, pelado, ele saiu correndo e berrando, Cidade Ocean adentro. Na rua central, onde ficam todos os prédios, as janelas foram-se abrindo e nós, de longe, morrendo de rir do desespero dele pedindo ajuda para descobrir o ladrão de sapatos pedidndo o....omias nelli.  a de semana.os os prtro, nu  em pelo e gritando: pegaram .

e o Renato Magro tinha um aprtamento. .  Já esgotado, cabisbaixo e triste, voltou vaiado por alguns turistas nas janelas e chegou até às roupas, que vestiu e quase chorando desistiu da gritaria.

Daquele dia em diante, passou a conferir os calçados de todos os hóspedes do belo balneário à beira-mar, mas nunca mais viu o par de Petrikas.

Na gozação, sugerimos a ele que fizesse, toda manhã, um plantão no Mercado dos Peixes para verificar nos pés grossos, cascudos e rachados dos pescadores se havia algum andando desengonçado com os finíssimos sapatos pretos.

Belo Horizonte, outubro/2013.

 

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

 

As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o
presente e encaram o futuro sem medo. Epicuro