A Praça da Liberdade é o maior símbolo de Minas. Com esta frase, começo o texto do comercial de apresentação da então Secretaria de Esportes, Lazer e Turismo, no final da década de 80. Na época, a SELT era minha cliente, na Promar Propaganda. Trinta e um anos depois, continuo pensando da mesma forma.
Ontem, quando fui ao Belas Artes assistir a um dos melhores filmes do momento, Meia-noite em Paris, no caminho, deparei-me com o símbolo que, cada vez mais, faz jus a minha antiga declaração.
Os jardins da Praça da Liberdade estão muito bem cuidados, com poda regular, os passeios totalmente revitalizados, as palmeiras imperiais cada vez mais monárquicas e uma gente alegre e descontraída se exercitando, passeando ou só admirando aquela beleza natural. Ali, até o cheiro é bom. De úmido, de terra molhada, de viço.
Foi restaurada sua fonte, que colore as noites com fachos de luz variados sobre uma água límpida e convidativa para se jogar moedas e fazer um pedido, como na Fontana di Trevi, em Roma. O ambiente geral é tão agradável que pode levar os frequentadores a esperar a realização de sonhos distantes. Se alguém começar a jogar moedinhas na fonte, quem sabe a moda pega?
Até o Xodó, a vizinha lanchonete quarentona, continua movimentada como na época do seu lançamento, com jovens sanduicheiros e refrigeranteiros enchendo a esquina da Avenida João Pinheiro com beleza e juventude.
Com a excelente destinação de abrigar um circuito cultural de porte, com museus, casas de cultura, um planetário e prédios residenciais tombados pelo IPHAN, o conjunto da Praça agrada não só aos turistas como aos mineiros, os belo-horizontinos em especial, pela localização privilegiada, paisagismo e clima. Ali, as temperaturas são extremamente agradáveis, corre uma brisa matinal e vespertina, que encanta a todos, e ainda uma maravilhosa fauna passarinheira, que irradia sons e melodias inéditas, dependendo da população avícola do momento.
O Palácio da Liberdade, construção austera e de fino gosto, está aberto fisicamente à população, embora estivesse sempre aberto à política mineira, ali praticada quase sempre com competência e dedicação, em nome da decantada liberdade postulada por certo governador: O compromisso de Minas é com a Liberdade.
Inspirado pelo genial Woody Allen - criador, roteirista e diretor do filme Meia-noite em Paris - o passeio na Praça da Liberdade, depois da sessão no final da tarde, me fez constatar a semelhança dos seus jardins com os do Palácio de Versalhes, mostrados plenamente no filme. Aliás, citações históricas sobre a construção da capital dos mineiros dizem que os jardins da Liberdade são quase uma cópia, em menor escala, daqueles da capital dos franceses.
Ainda fortemente influenciado pelo filme, me enveredei pelos corredores da Praça com a esperança de repetir a aventura do protagonista Gil Pender e encontrar Zelda e Scott Fitzgerald namorando num daqueles bancos; deparar com Ernest Hemingway, recostado no tronco de uma das palmeiras, tomando seu Bloody-Mary; ou mesmo o fabuloso Picasso esboçando um nu da mais nova namorada, uma bela fêmea mineira, e Matisse, com suas telas, retratando o conjunto do Palácio e seus jardins. No coreto, eu quis ter a nítida impressão de avistar Toulouse Lautrec, sozinho numa mesa, rascunhando suas mulheres e escrevendo umas notas. Perto dele, e também se preparando para seus dibujos, os fantásticos Modigliani e Degas, bem discretos, ao lado de um falante Salvador Dalí, que proferiria uma palestra sobre animais. Com certeza, o enfoque seria muito extravagante e o homem do bigodinho faria uma conferência sobre sua mais recente musa inspiradora: o rinoceronte. Já, a crítica literária Gertrud Stein, na escada do coreto, gesticulava com um novo autor, o protagonista Gil Pender, sobre seus originais ainda não publicados.
Enquanto eu me aventurava no êxtase dessas ilusões, os caminhantes não interrompiam suas marchas para prestar atenção nessas maravilhosas figuras tão disponíveis. Azar deles.
Belo Horizonte, junho de 2011.
Uma boa música a acompanhar esta crônica é a excelente Belo Horizonte que eu gosto,
do mineiríssimo compositor Pacífico Mascarenhas, que abre mais um capítulo no blog:
AS BRASILEIRAS DE TODOS OS TEMPOS