SARAIVADA DE POMBOS
Da varanda de um apartamento na Avenida Raja Gabaglia, num feriado de aniversário da apelidada Cidade Jardim, assisti a um espetáculo grandioso. E, não sei por que, naquela hora lembrei-me de certo Presidente da República que talvez dissesse estar vendo uma saraivada de pombos, ao entardecer.
Os pombos voavam em formação sobre casas e árvores floridas naquele recanto da cidade, que continua mais verde do que nunca, apesar dos radicais ambientalistas dizerem que não.
A saraivada subia e descia sobre os centenários fícus australianos que, ao longo do tempo, pareciam não ter perdido uma só folha, de tão exuberantes. Quaresmeiras e flamboyants floridos também compunham o maravilhoso sítio para o voo sincopado dos pássaros. Era uma cena única, tendo ao fundo a majestosa Serra do Curral, perfeitamente delineada como um gigante protetor dos felizes moradores do lugar.
Fascinado pela revoada, notei que os pombos voavam como numa esquadrilha, seguindo seu chefe. Começavam o exercício aéreo bem no alto, flechados num trajeto que quase sempre era o mesmo. Subiam bastante e davam rasantes sobre os telhados e árvores, como se buscassem um refúgio para a noite. Alguns dos ases se acomodando a cada mergulho. Na subida seguinte, outros sumiam, repentinamente. Não estavam mais na formação. Deviam ser os que já tinham encontrado um pouso seguro. Percebi um pequeno grupo continuara voando, voando, sem lugar para pousar. Aí, pensei: devem ser os do movimento dos sem árvore, conhecido como MSA. E eles voaram, voaram até desaparecer na escuridão da noite.
Belo Horizonte, agosto de 2004.
Cenas como aquela me fizeram pensar na beleza de Belo Horizonte, no seu clima agradável com a leve brisa no final do dia, depois de uma chuvinha fria e refrescante. Para mim, então, o lugar ideal para se viver! Naquela minha visão de 2004, talvez fosse muito inocente somente descrever a paisagem.
Hoje, já pensamos com uma consciência muito mais objetiva sobre o meio ambiente e sua conservação. A chuvinha de anteontem ainda não conseguiu trazer de volta o emocionante verde belo-horizontino: constatação deste sábado, neste outubro de 2011, ainda há pouco na mesma varanda da casa do Zuza. Ele me esclareceu, com seus conhecimentos de piloto interrompido, que só o vento sul traz chuva boa e o de agora é vento leste. Nada de chuva pra hoje. Pobres de nós!
Apesar de tudo, BH continua sendo a minha preferida para viver.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS