MINHA HISTÓRIA COM OS KARMANN-GHIA NO CINQUENTENÁRIO DA FÁBRICA NO BRASIL
Logo que nos mudamos de São Paulo para Belo Horizonte, fomos morar no Sion, num apartamento da Rua Pium-í, nome estranhíssimo que depois descobri tratar-se de palavra tupi, que significa rio dos mosquitos,
Ficamos ali por pouco tempo, pois o papai foi convidado para lecionar na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e para lá se mandaram ele, a mamãe e a Lúcia. Eu, rebelde, resolvi ficar em BH. Também , já estava encaminhado num namoro, que acabou dando em casamento.
De casa em casa, morei com o tio José, na Nova Suíça; com o vovô Pedrinho, no Cruzeiro; e ainda passei uma temporada na casa do Dr. Célio, na Cidade Jardim. Nesta ocasião, me deparei com um Karmann-Ghia, na garagem de uma casa, na pracinha da Faculdade de Odontologia e Farmácia. O carro era azul e branco, saia-e-blusa, como chamavam, e pertencia à dona Salomé, mãe da Amélia, namorada do Décio, meu amigo. À vontade, resolvi propor a compra, pois o automóvel vivia encostado na garagem. Uma verdadeira jóia, com menos de 1.000 km rodados.
Aquele modelo havia sido lançado em 1962, com chassis e motor VW, carroceria da Karmann, com design especial do famoso italiano Ghia. Uma fusão perfeita da qualidade, motor e chassis VW, com a beleza de um traço original.
Formalmente, fui à casa do pai da Amélia e propus a compra, que foi aceita e ainda veio com uma história curiosa de que o carro pertencera ao Pelé que, contratado para o lançamento como garoto propaganda, recebeu-o como cachê da promoção. Uma raridade, portanto.
Louco por carros como sou, fiquei baratinado. Era uma delícia para dirigir e uma atração em qualquer lugar que aparecesse. Fiquei um bom tempo com ele e depois, como a capota branca estava muito manchada, resolvi pintá-la de azul na mesma cor do resto da carroceria que, de tanto uso e dormindo no tempo, ficou com a pintura toda queimada, parecendo tinta de caneta esferográfica. No ato, recebeu o carinhoso apelido de “caneta”. Rodei com ele Brasil afora, até que resolvi trocá-lo por um mais novo. Peguei um zero km, vermelho, 1969, numa troca com meu amigo Titão, dono de uma das maiores Concessionárias VW de BH, na época.
Com ele, viajamos para muitas praias: Guarapari, Cabo Frio, Rio, Carapebús, Itacoatiara e outras, sempre com grande prazer de dirigir um automóvel tão perfeito.
Troquei o vermelhinho por um Karmann-Ghia TC, também zero km, branco, com desenho e mecânica nacionais. Era um carro interessante, mas sem a mística dos primeiros modelos, que eram charmosíssimos.
E ainda quase comprei um outro, alguns anos depois, do Luiz Flávio, com motor de Porsche. Na verdade, fiquei com medo pois o carro virou uma bala e quem enfrentou a fera foi o meu cunhado, o José Carlos.
Belo Horizonte, maio/2012