terça-feira, 8 de março de 2011

NOSTALGIA NO BUONA TÁVOLA

Um almoço à base de frutos do mar é sempre muito gostoso. Principalmente, para nós mineiros, afastados a quatrocentos quilômetros do litoral.
Domingo passado, fiz uma proposta ao Pedro e à Luciana para almoçarmos uma moqueca de badejo com camarões à moda capixaba. E, deste programa domingueiro, regado a muitas cervejas, depois do cafezinho, convidei os dois para um licor, lá na Toca. Falei que era um Amarula geladinho, bem ao ponto para o domingo chuvoso e frio. Eles toparam. Quando descíamos a Rua Alagoas, avistei a cabeleira branca do Eloy, no Buona Távola, restaurante do Edmundo. Pedi ao Pedro que parasse para abraçar o amigo/irmão, que não via há muito tempo. Descemos e fui recebido como um rei. Abraços, beijos carinhosos e confissões de amor eterno e saudade amarga. Na mesa, outro amigo/compadre, o Juarez, com quem também não me encontrava há milênios. Que tarde feliz!
O Eloy, quase que como um ímã, quando me vê, lembra imediatamente do violão. Então, logo pediu licença ao Edmundinho para buscá-lo, no jipe. Concedida a licença, entregou-me a finíssima peça construída por um luthier de Nova Lima, que pode ser comparada com a dos grandes do mundo. Violão excelente, com cordas novas, no ponto para um concerto de domingo à tarde.
Hermano - ordenou ele -, toque aquela música que você compôs para o Pedro.
Calmamente, comecei a entoar uma canção que havia composto quando a Carminha estava grávida e, à época, não era possível detectar o sexo do nascituro, até sair da barriga da mãe.
Assim, imaginando uma filha-mulher, comecei a compor uma canção chamada Lara Pedra, que era o nome que pretendia dar à menininha. Mostrei os primeiros acordes a outro amigo/irmão, o Brant, que, também, começou a rabiscar a letra: “Vens por uma estrada azul, viajas, entre um céu de açúcar, luas, asteróides nebulosas. Teus caminhos de menina te anunciam cá na terra, és flor, és água, és pedra...”
Mas, não nasceu a Pedra, e sim, o Pedro Emiliano. Que alegria! Cara fechada, cabeludo, o ouriço do mato transformou-se num homem bonito, dócil e generoso. O meu Pedrão que, ali no restaurante, com a Luciana, limitou-se aos licores e logo ambos se despediram. Parece que eles sentiram que o novo programa era mais meu.
Assim, os dois, Pedro e Luciana tomaram os licores lá no restaurante mesmo e se retiraram. Eles não confiaram muito naquela improvisada tarde de domingo. Ciao pai!
Voltei ao violão e aos amigos e recomeçamos a cantoria. Em pouco tempo, eu estava abrindo o peito e cantando para toda a Savassi.
Ainda, lembramo-nos de um clube fechado que havíamos fundado há alguns anos atrás chamado Organization des Amis de La Divine Bouteille - OADB. Esta confraria, que alegrou e motivou nossas vidas por muito tempo, é traduzida literalmente como: Organização dos Amigos da Divina Garrafa. Com este nome, é fácil imaginar e prever o que aconteceu durante os anos seguintes. O Juarez, financista de escol, chegou a calcular que tomamos mais de uma tonelada de whisky escocês. Dividido por uma caixa de doze garrafas... façam as contas.
Na época, se usava beber essa bomba atômica chamada Scotch Whisky. Um dia ainda vou escrever somente sobre a OADB. Fiquem atentos, pois o inspirador e fundador dessa organização nobre e bem intencionada é também outro amigo/irmão, o Flávio Simão. Rima rica, heim?
Subitamente, e para nossa alegria, o Pedro e a Luciana voltaram e estacionaram na frente do restaurante. Perguntei: Que bom, Pedrão, voltaram? E eles responderam em uníssono mineiro: Uai, nós não poderíamos perder uma tarde destas...
Realmente, a tarde foi fantástica!
Começamos tocando músicas do velho repertório: Marinheiro Só, Te entrega Corisco,
América, Jamaica Farewell, Dans mon ile, e depois, partimos pra outras mais novas, que só o Eloy conhece: Almir Sater & Friends.
E, parodiando o Garfunkel, no Concerto do Central Park: What a Day.
Belo Horizonte, 7 de março de 2011.

Recomendo escutarem a música Entre dos Águas interpretada pelo Paco de Lucia,
inserida, hoje, no blog.