Estávamos no famoso bar paulista, à Rua Major Sertório, para ouvir o não menos famoso Pedrinho Mattar, pianista com formação clássica na Alemanha, que vinha se dedicando a tocar Música Popular Brasileira, principalmente bossa nova, e jazz, no qual era especialista em acordes maravilhosos e um dedilhado peculiar.
O seu jeito de tocar era absolutamente excêntrico. Como músico interrompido, sei que cada instrumentista tem estilo próprio, mas o do Pedrinho era especial, ou seja, um piano muito cheio, completamente ocupado. Ele não deixava espaço para nenhum outro instrumento, só mesmo para o piano!
Naquele dia, depois de um almoço que o mestre-cuca Dorival havia preparado na casa dele e da Lúcia, em São Paulo, à Rua João Moura, em Pinheiros, onde mamãe e eu estávamos hospedados, aproveitamos a presença dela, também, para ficar tomando conta da Maria Augusta, ainda pequenininha, e irmos todos ao bar, à noite. (Repetirei isto muitas vezes mais: a Maria Augusta, carinhosamente chamada de Guta, foi o bebê mulher mais lindo que já vi. Hors concours.).
Pegamos o fusquinha do Dorival e conseguimos estacionar quase em frente ao João Sebastião. Noite de sorte, sem dúvida. Também, conseguimos uma mesa sem reserva, portanto, escondidíssima. Mas, o que interessava mesmo era ouvir a boa música do Pedrinho. Pedimos a bebida de praxe, Whisky Drury’s, umas batatinhas fritas e só. A grana era muito curta.
Escondidos, assistimos à primeira parte do show: Pedrinho, no piano; Sabá, no contrabaixo; e Toninho Calça-Curta, na bateria. Um super show! O trio era entrosado demais e o repertório, o da nossa preferência.
Os músicos retornaram para a segunda parte do show, quando o Pedrinho, apontando para a nossa mesa, falou: “Eu queria dizer a vocês que, hoje, temos visitantes ilustres aqui: a Lúcia, o marido Dorival e o irmão dela, Roberto. São amigos meus de longa data e os irmãos, músicos excepcionais.” Levantamo-nos para agradecer o intenso aplauso dos presentes. E ele continuou: “Por favor, venham até aqui.” Fomos, meio encabulados, mas enfrentamos a platéia.
O bar tinha um pequeno palco, elevado, onde os músicos se apresentavam. Tenho que registrar que adoro palmas. Quando subimos no palco, ele falou: “Vou pedir que eles cantem a música que eu os ouvi cantando, lá em Santos, na minha casa, onde éramos vizinhos. Por favor, Lúcia e Roberto, cantem Baby it’s cold outside, e abriu com os acordes clássicos do Ray Charles, na gravação com a Betty Carter. Cantamos como se estivéssemos no Carnnegie Hall e os aplausos vieram fartos e estimulantes.
Mais uma, outra, peguem um violão para o Roberto, e eu já estava sentado num banquinho, mesmo, foi fácil! Saíram muitas músicas lindas e gostosas de tocar e cantar. Encerramos a noitada com a música Ausência de Você, do Carlos Lira e do Vinícius de Morais, da peça Pobre Menina Rica. Sucesso antigo da dupla Lúcia e Maninho.
Roberto H. Brandão – Dezembro/2010.