VOOS RASANTES
Contou-me o Zuza que estava no gabinete do presidente de um banco mineiro, no décimo quinto andar do Edifício Comércio e Indústria, à Rua Espírito Santo quase esquina de Afonso Pena, quando um som ensurdecedor foi ouvido. Todos correram para a janela. Eram dois North American, NA T6 (conhecidos como T-Meia), o mesmo tipo do avião de caça usado pela Força Aérea Brasileira, descendo a rua a oitenta metros do solo como se fossem dois carros enfrentando o trânsito dos idos de 1970. Uma loucura!
Da janela eles viram os olhos dos pilotos, um seguindo o outro. O de trás era um comandante instrutor do Aero Clube de Belo Horizonte, em perseguição ao piloto aventureiro, que já havia feito uma série de estripulias com o avião de combate.
A Natália, que participava da conversa, emendou com uma história que também me envolveu. Estava ela na janela do seu quarto, no quinto andar, quando enxergou um avião vindo em direção ao prédio, na Av, Raja Gabaglia, deixando-a assustadíssima. Ela achou que o cara ia trombar no prédio e, como o pai, também chegou a ver os olhos do piloto. No último segundo ele desviou do edifício e foi me encontrar estupefato no quintal da casa onde funcionava a SUPAM – Superintendência de Articulação com os Municípios, onde eu trabalhava, à Rua São Paulo, em frente ao Colégio Estadual. Estava na minha sala, no subsolo da casa, quando ouvi um barulho fortíssimo. Sem saber do que se tratava, corri para o quintal e vi o tal avião vindo em minha direção como se fosse cair à minha frente. Subitamente, o piloto reverteu e subiu. Como eles, também enxerguei os olhos do piloto que exibia, na fisionomia, um sorriso sarcástico. Com certeza, era o mesmo piloto, com o mesmo avião, o T-Meia, que ia tirando rasantes sobre a cidade, fazendo gracinhas para a namorada, que deveria morar nas redondezas.
No caso dele, soube-se mais tarde tratar-se de um conhecido piloto, meio maluco, que costumava roubar aviões do Aero Clube e saía voando por aí, fazendo loucuras até que um dia foi preso no momento em que pousava. E, lá, não houve perdão. Foi preso e algemado até que algum juiz decidisse sobre seu fim.
Belo Horizonte, julho/2013.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS