A MÃE RAPTADA
Com um mal-estar súbito, a mãe deles foi internada num ótimo
hospital onde conheciam o diretor-clínico. Com esta facilidade, conseguiram a
internação sem maiores burocracias, pois uma vaga hospitalar em Belo Horizonte , na
época, era coisa raríssima. A senhora
foi muito bem assistida, exames clínicos e laboratoriais imediatamente
aplicados e o diagnóstico: pneumonia tripla.
O velho diretor aconselhou aos rapazes: Não se preocupem, vai ficar tudo bem aqui no hospital. Repouso obrigatório,
alimentação balanceada e medicação correta, com uns dez dias ela terá alta.
Os dois irmãos ficaram mais ou menos calmos porque o Natal estava chegando e
seria uma lástima não ter a mãe em casa para as comemorações. Era ela quem
preparava tudo: a ceia, as brincadeiras com os presentes, regia a cantoria,
enfim, era a figura central e mais importante na modesta casa na Floresta. Mas ela vai ficar sozinha?- perguntaram.
O plano dela não autorizava um acompanhante e, conformados, os
filhos foram embora. Saíram pensativos, se entreolhando e maquinando alguma ideia
para raptar a mãe e levá-la para casa a tempo do Natal. Não deu outra. Marcaram
para o dia seguinte, depois das oito da noite na porta do fundo do hospital, os
dois de branco. Encontraram-se como o combinado e formularam o rapto.
Marcaram para o dia seguinte, depois das oito da noite, usando a
porta dos fundos do hospital e ambos vestidos de branco. Entramos pelo
estacionamento, que nessa hora está vazio, pegamos uma cadeira de rodas - há
muitas na porta de trás do hospital -, subimos pelo elevador de macas e, sem
dar satisfação a ninguém, vamos até o quarto, colocamos a velha na cadeira e
nos mandamos. Tudo bem.
O plano saiu perfeito só que ao chegarem à saída dos fundos caiu
uma tremenda chuva. E agora, a velha tá
com pneumonia, como fazemos? Já que viemos até aqui, vamos levá-la de qualquer
maneira, com pneumonia tripla e tudo. Assim, a mãe ensopada foi acomodada no
carro, e a cadeira de rodas foi abandonada no passeio. Rindo muito do sucesso
do mal-feito, eles se mandaram para casa. Lá, acomodaram a mãe na cama com todo
cuidado e foram pitar um cigarrinho no quintal. A chuva já havia passado.
Nisto, o diretor do hospital telefona comunicando o sumiço da paciente - coisa que
nunca acontecera naquele hospital -, e informando que já haviam tomado todas as
providências, enfim, que não se preocupassem, pois logo tudo estaria resolvido etc., etc. O do
telefone falou: Não se preocupe não,
doutor, mamãe está conosco aqui em casa e até foi à padaria comprar uns pães
pra servir com um cafezinho. O senhor aceita?
Belo Horizonte,
outubro/2103.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS