domingo, 20 de março de 2011

MERENGUERO EN PUERTO PLATA

(Uma viagem musical pelo Caribe)

A República Dominicana é a capital do merengue, ritmo delicioso que movimenta toda a população da Ilha de Dominica, primeira parada de Cristóvão Colombo, no mar do Caribe. De lá, ele partiu para o descobrimento de todas as Américas. Como Colombo, também começo pela Dominica o relato das minhas peripécias musicais.
Nessas andanças caribenhas, patrocinadas pelo programa Partners of the Américas, me envolvi, em cada país, num imbróglio musical. Os fellows, bolsistas como eu, dos Companheiros das Américas, tinham como meta envolver-se com as populações locais, num exercício de convivência internacional.
Na capital do merengue, nos aventuramos a participar de um concurso desse ritmo frenético que, curiosamente, o dançarino só movimenta a parte de baixo do quadril. No popular, a bunda. Devia chamar-se, então, bundengue. Sem jogo de cintura, desisti no primeiro confronto. Pudera! Com este corpinho de toureiro aposentado e duas hérnias de disco!
O Caribe é, talvez, a maior e mais variada região musical do planeta. Vejam só! Na Jamaica, o reggae; em Cuba a rumba; no México, os mariachis com suas baladas românticas; em Trinidad&Tobago, o calipso e as steel bands (bandas de tambor de petróleo). Ainda, o mambo, ritmo plenamente distribuído em todos os países da América Central, e mais o citado merengue, que se estabelece como a trilha sonora do Golfo do México. Ah! Também vêm dos Estados Unidos, os blues, originários das cidades anglo/francesas banhadas pelo mar do Caribe, como New Orleans, principalmente.
Em Trinidad, por exemplo, nos metemos a praticar a dança da altura, onde colocam um sarrafo horizontal de bambu, amparado nos extremos, e os dançarinos vão se enrolando para passar por baixo da estaca sem derrubá-la, dançando ao ritmo do calipso. Fui um fracasso, derrubei o sarrafo de cara. E teve gente que passou abaixo de oitenta centímetros. Neste caso, minhas hérnias de disco foram também decisivas.
Em Tobago, fui convidado a acompanhar, com um violão acústico, uma steel band, na música What´s going on. Impossível! A banda, com mais de cinquenta participantes tocando naqueles tambores de óleo, produzia um som altíssimo, que contaminava toda a ilha. Com o ouvido colado na caixa do violão, eu nem conseguia ouvir o que eu mesmo estava tocando. Sugeri minha substituição por outro fellow, que tocou sax alto com muito sucesso. O som da banda é lindíssimo e contagiante.
Já no México, alguns anos antes, surpreendi os mariachis, numa praça no centro da Capital, com músicas brasileiras de sucesso internacional: Berimbau, Canto de Ossanha, Garota de Ipanema, Samba de Verão, etc. Os quatro, de sombrero mexicano negro, me acompanharam. Numa boa!
Em Cuba, não fui e nem irei.
Em Nassau, nas Bahamas, fui visitar o Peter M. Lesley, um sempre saudoso amigo, e levei um violão brasileiro de presente para a mulher dele, a Kay. Lá, para entrar com o violão, tive que tocar com a banda Blind Blake Trio, que dá as boas-vindas aos visitantes, no aeroporto local. Toquei, mas só para provar que era músico e que não estava contrabandeando o instrumento. Vejam só! E foi ótimo!
Durante toda a minha estada em Nassau, toquei, no presente da Kay, em churrascos e jantares em casas de amigos dos meus anfitriões, o que gerou, ainda, um convite para apresentação de músicas brasileiras num dos cassinos, em Paradise Island.
De volta ao Brasil, convidei o Flávio Simão e o Zuza para montarmos um trio, que apresentaria, no cassino, não só canções brasileiras, como também american folk & country songs, nas quais éramos craques. Voz, violão e gaita. Mas, o contrato foi frustrado porque o cantor/gaitista do futuro trio brasileiro, o Zuza, também conhecido como Braga ou Coromandel, estava com medo de andar de avião. Pode?! Ensaiamos durante três meses e, na hora do embarque, o próprio resolveu comunicar-nos que o Banco Mineiro do Oeste, onde ele trabalhava, não tinha autorizado a viagem. Mentira pura. Eu, heim! Enfiamos o violão e a gaita no saco e por aqui ficamos.
Sobre uma violada em Puerto Plata, amparada pela Via Láctea, já contei, na crônica “A Via-Láctea no Caribe”, onde estão os detalhes daquela aventura noturna.
Na Jamaica, em Ocho Rios, fiquei hospedado numa pousada campestre, onde o reggae corria solto toda noite. Decidi acompanhar os músicos com um violão emprestado. Também não deu. Para dar certo, teria que ter estado possuído pelo espírito do Bob Marley, o que tornaria a coisa mais fácil. Era só pedir ajuda aos nativos, que acreditam e praticam a magia negra em toda a ilha. Em Kingston, a capital, a troco de umas cervejas locais - aliás, excelentes! -, fiz uma apresentação no bar do hotel cinco estrelas, onde estávamos hospedados. Ganhei, ainda, um run jamaicano, num concurso de menor barriga, entre os frequentadores da piscina do hotel. Imaginem o tamanho da barriga dos outros concorrentes!
Numa outra ocasião anterior, tive, ainda, uma parada musical em Puerto Rico: My heart’s devotion, let it stay back in the ocean, frase inicial da música “América”, do grande maestro Leonard Bernstein, na peça West Side Story. Àquela época, estava viajando com um grupo de estudantes brasileiros, para uma temporada de estudos nos Estados Unidos, e tivemos que fazer uma baldeação forçada a caminho de Miami. Trocamos de avião, um velho Constelation, por um potente Boeing 707 da PANAM. Não deu outra, me encaixei numa banda que animava o bar do aeroporto, pois ficamos estacionados uma noite na ilha. A banda se mandou e eu passei a noite tocando violão para os turistas. Foi ali que conheci as deliciosas cervejas Budweiser, por conta do dono do bar. Adotei-as para sempre.