CAINDO NA REAL
Sábado passado, pra variar,
conversando com o Zuza na varanda da casa dele, ficamos observando um
congestionamento formidável ao meio-dia, na Raja Gabaglia. A fileira de carros começava
na Álvares Cabral, bem lá em baixo, em frente ao Banco Central e subia a Raja
até onde víamos, na subida em curva em frente ao quartel do II Exército. E, na
mesma proporção na descida, até a Praça da Assembléia. Naquele emaranhado de
carros de todos os tipos, marcas e anos, surge descendo a avenida uma Ferrari vermelha, modelo novíssimo,
conversível, com seu proprietário impassível ao volante. Comentamos em voz
alta: "Qual será neste momento o prazer desse afortunado piloto a bordo
daquele bólido?"
É zero, claro! Essas maravilhosas
máquinas são boas para serem curtidas na Costa Amalfitana ou na Côte D’Azur,
num belíssimo dia de verão europeu, devidamente trajado com pulôver inglês,
meias e sapatos italianos e lenço de seda pura no pescoço. Mas, na Raja, a 32
graus à sombra e no meio daquela barafunda de gente com a mão nas buzinas e
gesticulando para abrir caminho entre a turba... é o fim da picada!
Lembramo-nos de que também já
havíamos convivido durante um bom tempo com nossas Alfas, MGs, Mercedes,
Oldsmobiles, Jaguares, Karmann-Ghias e
afins. Àquela época, esses possantes nos
remetiam à mesma sensação de um passeio à costa europeia; agora, não dá mais.
Encostamos nossas máquinas e passamos a usar somente carros de serviço: um
Peugeot 205, antigo e um Renault Clio usado. São ótimos para os
engarrafamentos, pois se alguém nos esbarra nem descemos para conferir os
estragos. Caímos na real.
E tome cerveja!
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Ainsi, toujours
poussés vers de nouveaux rivages,
Dans la nuit eternelle emporté sans
retour,
Ne pourrons-nous jamais sur l`ocean
des âges
Jeter l`ancre un seul jour.
Do poema Le Lac, de Lamartine, decorado para a aula de francês da Prof.
Eudóxia, no Ginásio Castro Alves, em São Paulo, na década de 1950.