sábado, 22 de novembro de 2014

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APRENDENDO NA HOLANDA

Hospedamo-nos no Schiphol Hotel, na área do aeroporto de mesmo nome em Amsterdã, na Holanda. Era uma noite fria de março e estávamos encarregados de comprar imensos filtros para um laticínio a ser inaugurado em Belo Horizonte. Tomamos uns drinques no bar do hotel e nos recolhemos para enfrentar uma jornada de negociações com os fabricantesdos filtros.
Viajava com um sobretudo que o Ronald havia me emprestado. Ele era verde exército, de pura lã e, por onde passava, tinha a sensação de que as pessoas queriam bater continência para mim. Isto porque talvez inspirasse uma patente de general de qualquer força militar. 
Saímos bem cedo, às sete da manhã para a fábrica, que distava alguns quilômetros do hotel.  Fomos recebidos por um alegre diretor que logo percebemos ser o Manda-Chuva da empresa. Apresentou-nos, formalmente, a dois outros diretores, pediu licença e retirou-se. Expusemos nossas necessidades, tais e quais filtros, com as especificações técnicas queo Barbier, nosso laticinista francês que nos acompanhava na árdua missão e atestava a qualidade e uso correto do equipamento.
Fizemos uma visita à imensa fábrica, especializada em filtros em aço inox, que variavam de pequenos volumes até os de toneladas de litros. Nosso interesse era pelos maiores, pois o Jarjur havia planejado montar o maior laticínio mineiro, quiçá, o maior do Brasil. Ele não era de brincadeira!
Após a visita, outros dois holandeses assumiram as discussões do negócio, que corriam em inglês e francês, conduzidas por mim e pelo Barbier, com o acompanhamento direto do Jarjur, até que chegamos à discussão dos valores e pagamentos.  Aí, a coisa ferveu, pois havíamos pesquisado previamente e o preço final não poderia ultrapassar tantos milhões de  dólares. Não me lembro mais dos valores, mas os holandeses não  concordavam nem com a nossa oferta nem com o prazo de pagamento.
As conversações foram interrompidas para o almoço, que aconteceu na própria fábrica. No cardápio uma finíssima, e nunca provada por nós, sopa  de ostras, acompanhada de pães, manteiga e geleias.
Fomos, então, para uma terceira sala, com outros dois diferentes diretores,  encarregados de nos enfiar o preço e o prazo goela abaixo, mas nós permanecemos inflexíveis com o recurso que já estava alocado para aquela  finalidade.
Já estávamos esgotados quando, às sete horas da noite, reaparece o manda- chuva, banhado e escovado, senta-se à nossa frente e se dispõe a fechar o negócio. Não deu outra, negócio fechado. Assim, mandamo-nos para o hotel, com a nova proposta, a fim de refazer todas as contas do projeto mineiro. O orçamento inicial havia dobrado.
Vivendo e aprendendo!
Belo Horizonte, setembro/2014
rhbrandao@gmail.com

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Noventa por cento do que escrevo é invenção, o resto é mentira. Manoel de Barros