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APRENDENDO NA HOLANDA
Hospedamo-nos no Schiphol Hotel, na área do aeroporto de
mesmo nome em Amsterdã, na Holanda. Era uma noite fria de março e
estávamos encarregados de comprar imensos filtros para um laticínio a
ser inaugurado em Belo Horizonte. Tomamos uns drinques no bar do hotel e
nos recolhemos para enfrentar uma jornada de negociações com os
fabricantesdos filtros.
Viajava com um sobretudo que o Ronald havia me emprestado.
Ele era verde exército, de pura lã e, por onde passava, tinha a
sensação de que as pessoas queriam bater continência para mim. Isto porque
talvez inspirasse uma patente de general de qualquer força militar.
Saímos bem cedo, às sete da manhã para a fábrica, que
distava alguns quilômetros do hotel.
Fomos recebidos por um alegre diretor que logo percebemos ser o Manda-Chuva da empresa. Apresentou-nos, formalmente, a dois outros diretores, pediu licença e
retirou-se. Expusemos nossas necessidades, tais e quais filtros, com as
especificações técnicas queo Barbier, nosso laticinista francês que nos acompanhava na
árdua missão e atestava a qualidade e uso correto do equipamento.
Fizemos uma visita à imensa fábrica, especializada em
filtros em aço inox, que variavam de pequenos volumes até os de toneladas de
litros. Nosso interesse era pelos maiores, pois o Jarjur havia planejado
montar o maior laticínio mineiro, quiçá, o maior do Brasil. Ele não era de
brincadeira!
Após a visita, outros dois holandeses assumiram as
discussões do negócio, que corriam em inglês e francês, conduzidas por mim e pelo
Barbier, com o acompanhamento direto do Jarjur, até que chegamos à
discussão dos valores e pagamentos.
Aí, a coisa ferveu, pois havíamos pesquisado previamente e o preço final não poderia ultrapassar tantos
milhões de dólares. Não me lembro mais dos valores, mas os holandeses
não concordavam nem com a nossa oferta nem com o prazo de
pagamento.
As conversações foram interrompidas para o almoço, que
aconteceu na própria fábrica. No cardápio uma finíssima, e nunca provada
por nós, sopa de ostras, acompanhada de pães, manteiga e geleias.
Fomos, então, para uma terceira sala, com outros dois
diferentes diretores, encarregados de nos enfiar o preço e o prazo goela abaixo,
mas nós permanecemos inflexíveis com o recurso que já estava alocado
para aquela finalidade.
Já estávamos esgotados quando, às sete horas da noite,
reaparece o manda- chuva, banhado e escovado, senta-se à nossa frente e se
dispõe a fechar o negócio. Não deu outra, negócio fechado. Assim, mandamo-nos
para o hotel, com a nova proposta, a fim de refazer todas as contas
do projeto mineiro. O orçamento inicial havia dobrado.
Vivendo e aprendendo!
Belo Horizonte, setembro/2014
rhbrandao@gmail.com
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Noventa por cento do que escrevo é invenção, o resto é mentira. Manoel de Barros