Um grupo de pseudo-intelectuais dos anos 1960
Esta casa, aliás, havia sido a moradia de uma parenta do papai que chamavam de vovó
Petronília, que não conheci. O sugestivo nome do rústico bar justificava-se porque fora montado no porão da casa, que ficava ao rés da rua. Era um porão alto, de porta pesada de madeira. Está lá até hoje onde funciona uma clínica de fisioterapia.
Cerveja farta e conversa solta, passamos a discutir o filme, cada um com uma interpretação mais esdrúxula e o Luís, professor de cinema no Curso Comunicação da UFMG, era o moderador/coordenador dos debates.
Particularmente, eu estava muito confuso pois, recentemente, havia começado a
freqüentar as missas da igreja católica, por influência do meu namoro com a Carminha.
Aos domingos toda a família dela ia à missa na capela do Colégio Loyola e eu também embarquei nessa. Não largava a namorada por nada!
No entanto, minha formação religiosa pregressa havia passado por fases absolutamente distintas e variadas. Mamãe me contou que fui batizado na igreja e a partir dali, nunca mais havia frequentado qualquer igreja mas havia sido induzido a fazer minha primeira comunhão em São Paulo , por costume da época.
Logo depois, nos mudamos para Belo Horizonte onde fui morar com um tio solteirão, espírita praticante, onde toda quarta-feira participava dos cultos inclusive cantando os “pontos” dos espíritos que baixavam nas sessões lá em casa. Para quem não sabe, os “pontos” são as músicas dos espíritos que, cantadas pelos presentes, atraem as almas para virem baixar nas sessões espíritas. E atraem mesmo. Lembro-me de que numa das sessões cantamos o ponto de um espírito, o índio Guarani, que baixou e falou que era meu protetor. Perguntou se eu tinha algum pedido a fazer e respondi que queria que ele acompanhasse a mamãe, que estava viajando sozinha naquele dia para os Estados Unidos. Acreditem! Uma semana depois ele voltou à sessão e contou que o avião da mamãe, um Douglas DC-6, havia parado um dos motores, em cima do Mar do Caribe e ele o havia segurado até fazerem um pouso de emergência em Trinidad&Tobago, mudando o curso que era para Miami.
Mamãe confirmou por carta o episódio, um mês depois. Naquele tempo, este era o tempo dos Correios para as correspondências internacionais.
E mais este acontecimento favoreceu minha confusão religiosa.
Voltando ao Porão, confuso com a ideia da existência de Deus y otras cositas,
resolvi escrever para Sua Santidade para obter uns esclarecimentos. E assim fiz, com a absoluta perplexidade dos companheiros de mesa.
No dia seguinte, coloquei no Correio uma carta com o seguinte destinatário:
Vossa Reverendíssima Papa João Paulo II
VATICANO II - Itália.
Algum tempo depois recebi, também por carta, uma resposta, através do Bispo Dom João de Araújo Costa, que me informou que o Santo Padre havia recebido minha singela missiva e que me recomendava a leitura dos anais do Concílio Vaticano II, à disposição na biblioteca da Capela Sistina.
Lógico que lá estive, no entanto, em Latim, não consegui entender as respostas
às minhas dúvidas religiosas que persistem até hoje.
Belo Horizonte, 1º. De setembro de 2011.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Julgue um homem pelas suas perguntas, não pelas suas respostas.Voltaire