domingo, 30 de outubro de 2011

RABBIT HUNTING



Num dia de janeiro de 1977, partimos para uma viagem curiosa e marcante a Lund, na Suécia, com escalas em Paris, Hanover, Kopenhagen e Malmo. Éramos dois brasileiros, o Jarjour e eu, mais o laticinista nascido em Lyon, na França, o Barbier.
Arrumamos nossas malas com roupas bem pesadas, pois sabíamos do frio naquela região do planeta. As vestes tropicais seriam incapazes de agasalhar naquelas temperaturas sempre abaixo de zero. Assim, cachecol inglês, blusa de lã, carinhosamente tricotada pela mamãe, meias mais grossas, calça de sarja grossa, luvas de couro americanas, sem forro, e mais umas bobagens pretensiosamente aquecedoras. Como eu, meus companheiros também estavam despreparados. Partimos, então, com todo o ânimo e a honrosa missão de comprar uma empacotadeira, para lançamento do Leite BIG em Belo Horizonte, pioneiro no país, com os famosos “leites de caixinha”.
A primeira classe da Varig era realmente um luxo. Champagne e caviar logo no embarque; um lauto jantar quente com sopa de aspargos, lagosta à belle meuniére, acompanhada de um maravilhoso riesling alemão, rigorosamente a 11º C; cassata e expressos, licores, bombons, etc. E um sono tranquilo, em seguida, para atravessar o Atlântico em paz.
Com o avião vazio, o Jarjour pediu ao Barbier, ao seu lado, que trocasse de lugar, pois ele preferia dormir sem o desagradável cheiro das meias do francês, que já tinha chutado a botina para debaixo da poltrona.
Depois das escalas, sem qualquer atropelo, desembarcamos na belíssima Kopenhagen, cuja temperatura era de –10º C. Empacotamo-nos com os casaquinhos mineiros e iniciamos o primeiro dos quinze dias gelados da missão. Para minha sorte, o Ronald havia me emprestado um casacão de lã verde militar, que me rendeu o apelido de Her General.
Passamos o dia conhecendo um pouco da cidade, onde nos informaram que deveríamos tomar um ferry-boat com destino a Malmo, na Suécia, do outro lado do Mar Báltico e, de lá, pegar um trem até a pequena cidade de Lund, bem ao sul, onde ficava a fábrica e os escritórios da Tetra-Pak.
À custa de muita vodca, atravessamos o mar gelado e desembarcamos numa estação ferroviária, onde um velho trem a vapor aguardava para levar os trabalhadores para casa, depois de um longo dia de trabalho no país vizinho. Parecia um daqueles trens-cargueiros com passageiros de olhares curiosos e cansados, barba meio crescida e semblante abatido, carregando umas sacolinhas que deviam ser suas marmitas. Uns liam jornais amarelados, outros jogavam com pedrinhas plásticas um jogo diferente, desconhecido para nós; alguns ficavam recostados nas janelas, tirando uma soneca, enfim, um legítimo trem suburbano com sua exótica população. Nossos companheiros de viagem nos contaram que muitos suecos fazem diariamente esse trajeto, pois trabalham na Dinamarca e moram na Suécia. Sentimo-nos  totalmente avulsos no meio daquela gente mas, com bastante fair-play,  tentamos nos misturar como se fizéssemos parte daquela turma de trabalhadores fatigados. A viagem foi curta, uma hora e meia, e chegamos em Lund. Na estação, já nos aguardavam o presidente e o vice da Tetra-Pak, que nos levaram, num carro só, pois estavam praticando o transporte solidário, em pleno início da crise do petróleo. Apertamo-nos para caber na van e rumamos para o Hotel Lundia. O presidente nos deu uns minutos para descarregar a bagagem e descemos para jantar no restaurante do hotel. Comidas diferentes regadas com bom vinho francês e um convite inusitado: no dia seguinte, um sábado, ele havia combinado com os amigos para uma caçada aos coelhos e, gentilmente, nos convidava para acompanhá-lo. Espertos, Jarjour e eu agradecemos, desculpando-nos por não termos as roupas apropriadas, mas o Barbier, corajosamente, aceitou.  
Na manhã seguinte, tomávamos o café, quando o Barbier apareceu para narrar a caçada. Parecia um pinguim. Depois de um whisky duplo puro, contou-nos que o presidente e os amigos haviam chegado às cinco da manhã para buscá-lo, vestidos com uniforme de inverno sueco. Calça justa sobre ceroula de lã, botas até o joelho, blusa de tricô com gola rolê, tapa orelhas, óculos de neve, gorro russo de pele, um over-coat até o calcanhar, enfim, armas e munições para exterminar um exército de coelhos. E ele, coitado, com a roupinha de Minas: camisa de algodão, suéter e meias normais, sapatos comuns, luvas finas, enfim, um sério candidato a uma pneumonia tripla. Com pena, emprestaram-lhe uma capa, entregaram-lhe a carabina e se embrenharam no mato. Depois de um fôlego e um segundo cow-boy, considerou que tinha sido um péssimo programa, pois todos haviam se escondido numa moita - eram quatro -, onde ficaram aguardando os coelhos. Ele embrulhou-se na capa cobrindo até a cabeça, escondendo o rosto e as orelhas e sem enxergar nada, pois não tinha os óculos apropriados.
Uma tragédia! Com os pés e as mãos congelados, tremendo, fizeram um plantão durante umas duas horas - ele calculava -, pois havia perdido a noção do tempo. Disse ainda que, apoiado na espingarda enorme, dormiu e só acordou com um estrondo quando todos dispararam ao mesmo tempo. Havia aparecido um único exemplar do inocente pequeno mamífero leporídeo, que foi estraçalhado pelo tiroteio ao pé de uma árvore.
Havia acabado a caçada a – 45º. C.
Belo Horizonte, abril de 1980 e outubro de 2011.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Antes, todos os caminhos iam, hoje, todos os caminhos vêm. Mário Quintana

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

OS SÓSIAS

Parece que hoje, 20/10/2011, livrei-me de um sósia incômodo, há muito tempo citado por amigos - ou inimigos, não sei -, como de incrível semelhança física comigo, especialmente a partir de uma antiga capa da Veja, que exibia um close do ditador, assassino, torturador, tirano, o então presidente da Líbia, Muammar Al Kadafi. Parece que hoje ele se foi, para o bem da sofrida população Líbia. 
É um risco a menos nas minhas viagens internacionais, visto que, vestido como gente normal, estava sujeito a voltar a ser confundido com o extravagante títere africano e sofrer alguma represália ou atentado.
Por outro lado, fico somente com as lembranças de outros sósias ao longo da minha vida, que me deixaram feliz e envaidecido com semelhança mais descontraída, alegre e até elogiosa. Numa feita, em 1965, tomando sol na piscina de um hotel em Miami/Flórida, fui confundido com um príncipe árabe, de cujo nome não me lembro. Recebi um tratamento soberano, por garçons e toda a equipe de serviço do hotel, pois mantive a dúvida e a postura de monarca, comendo e bebendo do bom e do melhor, como um príncipe mesmo, despistado em viagem turística. 
Há um tempo, surgiu no universo internacional uma figura que até eu mesmo vejo alguma semelhança física: o grande tenor espanhol Plácido Domingo, que atua até hoje nos mais famosos palcos do mundo. Em diversas ocasiões e ambientes completamente díspares, fui confundido nessa semelhança.
Numa festa organizada para a da entrega do título de Cidadão Honorário de Belo Horizonte ao meu amigo Dr. José Carlos Lassi Caldeira, há uns dez ou quinze anos, fui flertado, no saguão da Câmara Municipal, pela filha, a mãe e a tia de uma das famílias dos convidados. Fiquei tão intrigado pela “olhação” das três mulheres bonitas de idades variadas que, depois de algumas cervejas, resolvi pedir ajuda ao José Carlos para perguntar por que me olhavam tanto. Ao constatarem que eu não era quem elas pensavam, as três vieram a mim, desapontadas e uníssonas: “Desculpe-nos, mas você é a cara do tenor Plácido Domingo. Estávamos aguardando ansiosas a sua apresentação aqui hoje. Nós o adoramos.”  Tomei mais um copo de cerveja e fui embora.
Numa outra situação, parado num sinal, me encontro com um velho amigo que, puxando minha cabeça pra fora da janela do carro, falou: “Puxa, Roberto, como você está novo e bonito. E como você se parece com o Plácido Domingo!” Infelizmente, não pude retribuir a gentileza. Recentemente, numa comemoração de “bodas de diamante”, uma senhora bem velhinha, nonagenária talvez, se adiantou e me cumprimentou dizendo: “Gostei muito da sua atuação.” Dei um sorriso amarelo, agradeci, sem saber a que ela se referia.  Perguntei a uma convidada se a conhecia e se podia apurar sobre o entusiasmo da simpática senhora. Uma das anfitriãs da festa, que viu a manifestação daquela que era sua tia, foi logo chutando: “Ela deve ter te confundido com o Plácido Domingo” – e, levantando a taça de champagne, brindou comigo: “Muito bem, Plácido, a que horas você entra em cena?”   
Ainda no ano passado, numa festinha de família, uma concunhada me falou: “Roberto, minhas irmãs te acham muito parecido com o Marcelo Mastroianni, sempre elegante.” Esta semelhança já havia acontecido algumas vezes no passado, quando ambos éramos mais jovens. Aliás, tive uma namoradinha que me falava que, no inverno, eu ficava com a cara do super ator italiano. Especialmente, por causa da capa de gabardine.
Para mim, não podia ser melhor.
E o Felipe ainda me chama de Roberto Banderas. Será?
Belo Horizonte, 20 de outubro de 2011.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos a um elogio. Sigmund Freud


 

domingo, 16 de outubro de 2011




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Eis o primeiro revisor da Imprensa Oficial, vovô Pedrinho, passeando com os netos Lúcia e Roberto na
Av. Afonso Pena, em frente à Igreja de São José, em 1947.

A HISTÓRIA SE REPETE

De vez em quando, nestas crônicas, cito meu avô Pedro Jorge Brandão Júnior, figura importante na minha vida, visto que morei com ele durante curto período quando papai, mamãe e Lúcia foram morar em Ribeirão Preto, em 1963. Durante seis meses habitamos juntos a casa dele na Rua Piauí, 1972, bairro Cruzeiro, em Belo Horizonte.
Morávamos, ele, 65, meu tio Heraldo, uns 32 e eu, 21. Quase três gerações num ambiente confortável e feliz.
O Heraldo, curiosamente, criava pombos e bichos da seda. Desenhista de traço perfeito cuidava dos bichinhos e cumpria seu expediente de examinador aos aspirantes à Carteira Nacional de Habilitação no Departamento Estadual do Trânsito. Sobre o Heraldo, ainda, quero falar muito mais, porém, nesta crônica, vou comentar sobre uma tremenda coincidência com a minha vida de hoje e a do meu querido avô.
Num instante, tornei-me revisor dos textos da AUDI, auditoria da EPAMIG, onde trabalho. Pela sensibilidade do chefe Márcio Matos, que, atento observador, descobriu um colega, escritor iniciante, que poderia ajudar na padronização dos escritos daquele departamento. Atualmente, a maioria das grandes empresas vêm mantendo em seus quadros um profissional dessa especialidade para oferecer aos leitores de seus documentos uma leitura mais fluida e agradável de documentos muitas vezes pesados e, porque não dizer, de leitura difícil pelo conteúdo indispensável de seus textos.
Coincidentemente, na década de 1930, meu avô Pedrinho, foi o primeiro revisor da Imprensa Oficial de Minas Gerais, emprego que atendia das oito da noite às quatro da madrugada, conferindo os textos do Diário Oficial, leitura enfadonha e cansativa de leis, decretos, portarias e circulares emitidas pelo Governo.
Tudo para compor uma renda suficiente para manter e alimentar uma prole de oito filhos, numa jornada que começava às sete da manhã nos Correios, como eles falavam.
São as voltas que a vida dá. Aliás, tenho feito revisões ao longo de toda minha vida, como diretor da Randrade e da Promar, agências de propaganda, onde não só criava os textos como também os copidescava para não passar nenhuma falha.
Digo isto porque, nesta nova função, muito me orgulho do trabalho a ser feito com prazer e desenvoltura, num ambiente francamente agradável com meus amigos da AUDI.
Muito obrigado, Márcio. Vamos em frente!
BH, outubro de 2011.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
"Mal por mal, é melhor ter o de Alzheimer que o de Parkinson, pois é melhor
esquecer de pagar a cerveja do que derramar tudo no chão."
Anônimo

domingo, 9 de outubro de 2011

SARAIVADA DE POMBOS


Da varanda de um apartamento na Avenida Raja Gabaglia, num feriado de aniversário da apelidada Cidade Jardim, assisti a um espetáculo grandioso. E, não sei por que, naquela hora lembrei-me de certo Presidente da República que talvez dissesse estar vendo uma saraivada de pombos, ao entardecer.
Os pombos voavam em formação sobre casas e árvores floridas naquele recanto da cidade, que continua mais verde do que nunca, apesar dos radicais ambientalistas dizerem que não.
A saraivada subia e descia sobre os centenários fícus australianos que, ao longo do tempo, pareciam não ter perdido uma só folha, de tão exuberantes. Quaresmeiras e flamboyants floridos também compunham o maravilhoso sítio para o voo sincopado dos pássaros. Era uma cena única, tendo ao fundo a majestosa Serra do Curral, perfeitamente delineada como um gigante protetor dos felizes moradores do lugar.
Fascinado pela revoada, notei que os pombos voavam como numa esquadrilha, seguindo seu chefe. Começavam o exercício aéreo bem no alto, flechados num trajeto que quase sempre era o mesmo. Subiam bastante e davam rasantes sobre os telhados e árvores, como se buscassem um refúgio para a noite. Alguns dos ases se acomodando a cada mergulho. Na subida seguinte, outros sumiam, repentinamente. Não estavam mais na formação. Deviam ser os que já tinham encontrado um pouso seguro. Percebi um pequeno grupo continuara voando, voando, sem lugar para pousar. Aí, pensei: devem ser os do movimento dos sem árvore, conhecido como MSA. E eles voaram, voaram até desaparecer na escuridão da noite. 
Belo Horizonte, agosto de 2004.

Cenas como aquela me fizeram pensar na beleza de Belo Horizonte, no seu clima agradável com a leve brisa no final do dia, depois de uma chuvinha fria e refrescante. Para mim, então, o lugar ideal para se viver! Naquela minha visão de 2004, talvez fosse muito inocente somente descrever a paisagem.
Hoje, já pensamos com uma consciência muito mais objetiva sobre o meio ambiente e sua conservação. A chuvinha de anteontem ainda não conseguiu trazer de volta o emocionante verde belo-horizontino: constatação deste sábado, neste outubro de 2011, ainda há pouco na mesma varanda da casa do Zuza. Ele me esclareceu, com seus conhecimentos de piloto interrompido, que só o vento sul traz chuva boa e o de agora é vento leste.  Nada de chuva pra hoje. Pobres de nós!
Apesar de tudo, BH continua sendo a minha preferida para viver.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

Ao contrário dos maridos, os cavalos gostam de voltar para casa. (R.Manso Neto)

domingo, 2 de outubro de 2011

BONS TEMPOS AQUELES ( II )



Ainda sobre a Coordenação de Crédito Rural, nossa conhecida de crônicas anteriores, lembro-me do Roberto Carlos de Paiva Carvalho, que só me tratava de xará. Uma figura excêntrica que, com uma certa falta de controle emocional, nos brindava com diversos perdigotos numa conversa mais próxima e  não passava por uma cadeira sem dar uma tropeçada. Na verdade, era um pouco estabanado, mas era um grande amigo e tinha um coração de ouro. Na origem de uma família de grandes latifundiários e sem nenhuma propensão à vida no campo, fez o Curso de Economia e se estabeleceu na Capital. O Robertão, como o chamávamos, estava sempre de paletó, mas não era considerado muito cuidadoso com a roupa, como nós outros, colegas da Coordenação. Com a gravata sempre folgada e meio torta sobre a barriga exposta pela camisa aberta e mal abotoada, os paletós um pouco amarrotados, sapatos desamarrados e calças e meias sem combinar muito, discutia com o Lourenço, quase que diariamente, sobre a vida folgada do colega que, aos domingos, comparecia às piscinas do Iate Clube com a namorada, apelidada de “boneca”.
Nunca entendi a origem da implicância dele com o Lourenço Menicucci, outro figuraça e nem a contratação daquele dentista. De família de italianos ricos do Sul de Minas, havia se mudado de Lavras para Belo Horizonte para estudar Odontologia e acabou trabalhando na Coordenação, um dentista com ares de psicólogo. Alto, bonitão, olhos verdes e uma conversa pra boi dormir realmente eficiente.
Já o José Roberto Martins, meio pária naquela relação de jovens bonitinhos e promissores, foi logo apelidado de “barango”, pelo Maurício.  Nós sabíamos que era também pela falta de cuidado com a vestimenta e o desleixo consigo próprio. Ele saiu da Coordenação para trilhar caminhos mais promissores na profissão de economista e deve ter dado certo. Era muito competente e dedicado.
O Cláudio Luiz de Paula de Carvalho, já pelo próprio nome, talvez a pessoa mais prolixa que já conheci, também economista, tinha planos maiores. Talvez mudar-se do Brasil para um lugar onde pudesse se esconder do mundo. Soube que aposentou-se e foi  morar em Paris e acho que por lá ficou. Nunca mais o vi. 
E o Raul Octávio Amaral do Valle, óculos grossos, autêntico intelectual, também dedicado às ciências econômicas era radical e não se misturava nas nossas farras de muita cerveja e muita música. Era um introspectivo! Chegava pontualmente, ria discretamente das nossas conversas e saía sem muita prosa. Ele não se misturava conosco.
O Maurício Moreira, se recebesse um apelido seria de “o sorriso”, pois não me lembro de vê-lo aborrecido ou reclamando de alguma coisa. Estava sempre sorrindo! God bless him.
Já a área jurídica, era composta por um poeta e um músico, absolutamente frustrados nas suas aptidões e dedicados a pareceres de alto valor teórico. O Aloísio Ferreira Filho ainda entendia um pouco a prática forense, herdada do pai, advogado bem sucedido em Visconde do Rio Branco e eu, o outro jurista, só queria cantar e compor em longas noitadas no Maletta.
Uma vez nos metemos a fazer uma música para o I Festival Internacional da Canção, promovido pela Rede Globo, a realizar-se no final do ano. Perguntei ao Aló: Alguma poesia escondida ou pronta pra sair do forno? Ele falou que tinha um tema interessante, que era a comparação do curso de um rio com a própria vida, bem filosófico que, com uma melodia também fluida, talvez ficasse bom. Naquela época estavam em moda esses temas filosóficos. Vejam só as concorrentes: a belíssima canção do Fernando Brant e do Bituca, Travessia, e as não menos lindas, Arrastão, do Edu Lobo e Vinícius de Morais, e Sabiá, do Tom Jobim e do Chico, para citar apenas algumas.
Trabalhamos muitas horas no tema sugerido: eu compondo a melodia e o Aloísio, a letra. Classificados para a primeira etapa do concurso, viajamos para Juiz de Fora, palco decisivo para escolher as melhores de Minas. Abastecemos nossos respectivos Volks e Gordinis e nos mandamos para a Manchester Mineira onde, em tese, eu cantaria e meus cunhados, o José Carlos e o Célio, me acompanhariam nos violões. Bem ensaiados, nos apresentamos para a grande noite, mas fui surpreendido pelo organizador do concurso, o escritor/promotor de eventos, André Carvalho, que não permitiu que eu cantasse. Dizia ele que, pelo fato de eu não ser cantor profissional, devia dar chance para um novo cantor, que precisava lançar-se no mercado fonográfico e aquela seria a grande oportunidade dele. Se a música vencesse a parte mineira, ele a apresentaria no Maracanãzinho e daí para a glória seria um passo. O rapaz devia ser uma cria dele. Humildemente, cedi meu posto para o candidato sem ensaios, que desafinava um pouco  e era meio “esquisito”. Acabou afundando com o nosso sonho de compositores. Perdemos na classificação geral e voltamos frustrados para Belo Horizonte a fim de continuar nossa rotina de assessores jurídicos da Coordenação de Crédito Rural. Nossa carreira está interrompida até hoje, mas, carinhosamente, ganhei dos colegas da Coordenação, o apelido de “pinho-brandão”, devido à minha intimidade com o violão. Valeu, colegas!
Belo Horizonte, 30 de agosto de 2011.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Perdoe seus inimigos, mas não esqueça os seus nomes. John F. Kennedy
Forgive your enemies but never forget their names.