A PRIMEIRA NAMORADA
Leony era o nome dela. Ela foi minha primeira namorada. O ano era
1955 e a cidade, São Paulo. Filha de franceses, ela estudava no DesOiseaux, um
colégio de freiras, famosíssimo pela fina e sofisticada educação ali
ministrada. E eu, pobretão, estudava no Ginásio Castro Alves, na própria Rua
Teodoro Sampaio com Alves Guimarães, a três quadras, como dizem os paulistas,
lá de casa. Quando o Studbaker cinza-1948 subia a Rua Teodoro Sampaio, às cinco da tarde, eu sabia que ia namorar no fim-de-semana. Ansioso, ficava sentado na porta do prédio onde eu morava, esperando a passagem do carrão, que virava à esquerda na Rua Mapuera e deixava a linda Leony na casa das amigas Marisa e Marília.
Subia as escadas correndo para tomar banho antes que o papai chegasse da Faculdade de Higiene e a Lúcia do Banco Nacional, onde trabalhava. Era a conta certa, pois ambos sempre chegavam lá pelas cinco e meia. Papai vinha a pé - a Faculdade era a meio quarteirão lá de casa, ele cortava caminho pelos jardins -, e a Lúcia vinha de bonde, que pegava na Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Teatro Municipal, centrão da cidade, ao lado do Viaduto do Chá.
Era um namoro de adolescentes - os dois com quatorze anos - e se limitava a ficarmos de mãos dadas no portão da casa das amigas, contando as atividades da semana que passou. Esse “santo” namoro era controlado pelos pais das meninas que ficavam obrigados a fazer um relatório de todas as atividades dos namoradinhos aos pais da Leony. Ela me contava todos os detalhes da conversa: Aí, meu pai perguntava se ficávamos de mãos dadas, se tinham ouvido nossa conversa, se havíamos saído para umas voltas no quarteirão... Beijos? Nem no rosto. Leony tinha uma pele clarinha, tentadora, com as bochechinhas rosadas, uma legítima francesinha de raça pura.
A mãe da Marisa respondia que nosso comportamento era exemplar e que eu era um rapaz muito respeitador. Viva eu! Durante a semana, zoneiro e avacalhado; boêmio até a alma, tocador de violão e com um fã-clube enorme no ginásio. Mas, nos fins de semana, eu ficava comportadíssimo com a estrangeirinha charmosa.
Quando ouço a Carla Bruni ou a vejo nalguma revista ou TV, lembro-me imediatamente da Leony. Era o mesmo tipo. Gostaria muito de saber o paradeiro dela, mas não sei nem por onde começar.
Se fué, como diz o Luiz Eduardo Aute na música El Unicórnio azul.
Belo Horizonte, setembro/2013.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Os
poetas nos ajudam a amar.E só servem para isso.
Anatole France (1874-1922)