domingo, 29 de setembro de 2013

                                Rua Teodoro Sampaio, 316, Ed. São Miguel Arcanjo, SP
A PRIMEIRA NAMORADA
Leony era o nome dela. Ela foi minha primeira namorada. O ano era 1955 e a cidade, São Paulo. Filha de franceses, ela estudava no DesOiseaux, um colégio de freiras, famosíssimo pela fina e sofisticada educação ali ministrada. E eu, pobretão, estudava no Ginásio Castro Alves, na própria Rua Teodoro Sampaio com Alves Guimarães, a três quadras, como dizem os paulistas, lá de casa.
Quando o Studbaker cinza-1948 subia a Rua Teodoro Sampaio, às cinco da tarde, eu sabia que ia namorar no fim-de-semana. Ansioso, ficava sentado na porta do prédio onde eu morava, esperando a passagem do carrão, que virava à esquerda na Rua Mapuera e deixava a linda Leony na casa das amigas Marisa e Marília.
Subia as escadas correndo para tomar banho antes que o papai chegasse da Faculdade de Higiene e a Lúcia do Banco Nacional, onde trabalhava. Era a conta certa, pois ambos sempre chegavam lá pelas cinco e meia. Papai vinha a pé - a Faculdade era a meio quarteirão lá de casa, ele cortava caminho pelos jardins -, e a Lúcia vinha de bonde, que pegava na Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Teatro Municipal, centrão da cidade, ao lado do Viaduto do Chá.
Era um namoro de adolescentes - os dois com quatorze anos - e se limitava a ficarmos de mãos dadas no portão da casa das amigas, contando as atividades da semana que passou. Esse “santo” namoro era controlado pelos pais das meninas que ficavam obrigados a fazer um relatório de todas as atividades dos namoradinhos aos pais da Leony. Ela me contava todos os detalhes da conversa: Aí, meu pai perguntava se ficávamos de mãos dadas, se tinham ouvido nossa conversa, se havíamos saído para umas voltas no quarteirão... Beijos? Nem no rosto. Leony tinha uma pele clarinha, tentadora, com as bochechinhas rosadas, uma legítima francesinha de raça pura.
A mãe da Marisa respondia que nosso comportamento era exemplar e que eu era um rapaz muito respeitador. Viva eu! Durante a semana, zoneiro e avacalhado; boêmio até a alma, tocador de violão e com um fã-clube enorme no ginásio. Mas, nos fins de semana, eu ficava comportadíssimo com a estrangeirinha charmosa.
Quando ouço a Carla Bruni ou a vejo nalguma revista ou TV, lembro-me imediatamente da Leony. Era o mesmo tipo. Gostaria muito de saber o paradeiro dela, mas não sei nem por onde começar.
Se fué, como diz o Luiz Eduardo Aute na música El Unicórnio azul.
Belo Horizonte, setembro/2013. 

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Os poetas nos ajudam a amar.
E só servem para isso.
Anatole France (1874-1922)

terça-feira, 24 de setembro de 2013

 
 MANHÃ DE AUTÓGRAFOS
Domingo, 22 de setembro de 2013, foi o dia em que tive a oportunidade de viver uma das maiores emoções da minha vida. Convidado pelo meu colega de livro - na antologia Novos Contistas Mineiros, publicada em 1997 -, o psiquiatra e escritor, Ronaldo Simões Coelho, para escrever um conto infantil, para a campanha Livro de Graça na Praça, a princípio fiquei assustado. Depois me animei com o novo desafio e topei a parada. E, nesta aventura, vivi um domingo de muita alegria e realização.
Talvez tenha autografado mais de duzentos livros para uma criançada animada com a leitura da forma tradicional: folheando o livro mesmo. Com os pais, avôs e avós, eles se postaram, pacientemente, numa fila que ia da Praça da Liberdade até o Palácio dos Despachos, das nove da manhã até às duas e meia da tarde. Que prêmio, que felicidade! - comentei com o Ronaldo.
Os meninos e meninas passavam pela mesa de autógrafos com seus livrinhos na mão, anunciando “Meu nome é...” Acho que o nome mais ouvido foi Gabriel. E muitos Pedros, Stephanis, Natálias (também com th), Daniéis, Rafaéis (também com ph), Marianas, Anas (com um ou dois enes), Isabelas (com s, com z, com um ou dois ll), Luísas (com s e com z), mas poucos Luíses, nenhum Ronald, e dezenas de nomes diferentes como Sthevam, Vasigton, Kevenn, dois únicos Josés, um Carlos e o Maria - meu colega da Epamig – e mais Juan, Valentim, Ethan. Nenhuma simplesmente Maria; uma Lúcia e ainda diversas Eduardas, Lívias, Níveas, Carolinas, Maíras, Thaíses (também sem th) e Jaquelines.
Eram momentos de glória quando os pequenos pediam o meu autógrafo. E eu aproveitava para instigá-los a ler e depois contar aos pais qual a melhor história daquela edição de autores diversos, a mais gozada, a mais doida, enfim eu ia dando qualquer outra sugestão para que lessem mesmo.
Num determinado momento, apareceu uma jornalista e me pediu uma entrevista. Claro, você quer saber o quê? Pergunta e resposta óbvias: O que o senhor acha da promoção Livro de Graça na Praça? Tudo, respondi. É a melhor maneira de levar essa meninada a buscar o livro e mantê-lo vivo, entendendo que folhear um livro é muito mais prazeroso do que teclar no computador. O livro é vivo, caminha com você. Abre e fecha quando você quer e, a cada página, traz uma surpresa e uma nova emoção.
Assim, não me canso de repetir, sem pieguice, que foi um dos melhores dias da minha vida.
Fico imaginando agora a criançada entretida com as belas histórias dos meus outros 23 companheiros do livro “Porcós, Pulgos e Fogo-Apagous”, a décima primeira edição da campanha do Livro de Graça na Praça.
Belo Horizonte, setembro/2013.
 
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
A mente que se abre para uma nova ideia jamais voltará ao tamanho original. Albert Einstein

terça-feira, 17 de setembro de 2013


EPITÁFIO A UM AMIGO ARTISTA
Quero falar hoje de um amigo, um artista, que se foi.
Lembro-me de que, por acaso, quando ainda advogava e tinha um pequeno escritório na Av. Afonso Pena, atravessei a avenida para procurar um alfaiate. A advocacia exigia, como até hoje exige, terno e gravata para o trabalho. Assim, cheguei ao Edifício Sulacap que, no térreo, tinha uma alfaiataria - Diniz & Verona. O Diniz, muito simpático me atendeu e contei-lhe sobre a minha necessidade. Ele falou: Hermano, tire as medidas deste jovem advogado, Vamos deixá-lo muito chique!
Ali, começava uma amizade feliz e verdadeira. O oficial ainda me ajudou a escolher o tecido, um Príncipe de Gales legítimo. Disse ele: Casimira inglesa, um dos nossos melhores panos.
Na verdade, o jovem advogado de 26 anos ficou muito bem vestido, no entanto, destoava dos sisudos colegas no Fórum Lafaiete e no Tribunal de Justiça, com ternos escuros e mal cortados, inclusive o do seu tio Hermeto, com quem ele dividia a banca advocatícia.
Daquele primeiro terno - vaidoso como sempre -, o advogado partiu para outros e foi acompanhando aquele oficial artista que o havia atendido tão bem. O seguinte já foi encomendado na salinha do Ed. Helena Passig, para onde o Hermano havia se mudado, iniciando carreira solo, com a plaquinha “Hermano Alfaiate”. Muitos anos no prédio e o “Tesoura de Ouro”, título que recebeu numa promoção jornalística, resolveu mudar-se para uma casa fora do centrão de Belo Horizonte. Aquela clientela aleatória estava muito fraquinha para o talento dele. Mudou-se para uma casa na Rua Santa Rita Durão, quando lhe ofereci uma placa que está lá até hoje, exibida na coluna da varanda da casa. Estava montado ali o atelier do melhor alfaiate mineiro de todos os tempos, competentemente assistido pelo Oswaldo, outro mestre do corte e da costura. Com bom humor incomparável e uma risada que cativava e inundava todo o quarteirão.
Estive lá por diversas vezes somente para ouvir seus comentários inteligentes sobre a política brasileira e saber de suas acrobacias com os aeromodelos que montava e os colocava no ar. Com aquelas acrobacias ele  arejava sua cabeça privilegiada e, naquelas visitas, eu me deliciava com suas risadas irreverentes.
Aqui, minha homenagem ao amigo e mestre da tesoura , que partiu para um voo mais longo.
Um dos herdeiros do mestre, o Marcelo, que vi nascer, está seguindo os passos do pai, com a Blade Runer, etiqueta de sucesso.
Belo Horizonte, setembro/2013.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
(Fernando Pessoa)