sábado, 29 de novembro de 2014




"COMETISSAGEM"
Em nossa reunião sabática na varanda da casa do Zuza,  antes do almoço, vagamos nossas mentes sobre curiosidades vividas, assuntos do momento e recordações das nossas prolíficas vidas mundo afora.

No último sábado, com uma carabina na mão, ele veio me desafiar a acertar o caule vermelho de uma árvore, na densa floresta do Ministério da Agricultura, em frente ao prédio onde mora, na Raja Gabaglia.
"Você está louco, Zuza? Ficar dando tiros em plena avenida? Não aceito este desafio de jeito nenhum. Que ideia maluca!"
“Você é bobo mesmo, hem, Roberto! Eu só queria comparar a sua pontaria com a dos cientistas da ESA - European Space Agency, que há dez anos dispararam o foguete-sonda Rosetta, para aterrissar num meteoro a 510 milhões de quilômetros da Terra. E eles acertaram na mosca!”
Rimos muito do inusitado desafio, ele guardou a carabina e voltamos a filosofar sobre o tema. Era um feito incrível para a ciência aeroespacial, pois aquela sonda vagou durante tantos anos pelo espaço e, na semana passada lançou, com sucesso, um robô batizado de Philae, sobre a superfície do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, de apenas quatro quilômetros de extensão.  A missão do robozinho - que tem uma massa de cerca de 100 quilos de peso na Terra e, no cometa, adquire um peso de apenas um grama pela pouca gravidade -, corria o risco de com um pequeno erro ou uma oscilação não "cometissar" e ser mandado espaço afora.
Entre outras coisas, o robozinho foi pesquisar se a química da superfície do cometa possui água semelhante à estrutura da água na Terra; se lá existem moléculas orgânicas no solo e na atmosfera, possibilidade de vida e, por fim, foi buscar explicações para a origem do sistema solar.
Uma semana após o extraordinário feito, é incrível como a notícia já está banalizada pelos noticiários locais, mas assim mesmo continua sendo o nosso assunto mais importante, pois já estamos até pensando em fazer uma reserva para o próximo voo tripulado para a Lua. Eita sabadão!

Em Belo Horizonte, novembro/2014
rhbranda@gmail.com

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Depressão é excesso de passado e ansiedade é excesso de futuro. Viva o presente! Anônimo.

sábado, 22 de novembro de 2014

                                         Foto Google
APRENDENDO NA HOLANDA

Hospedamo-nos no Schiphol Hotel, na área do aeroporto de mesmo nome em Amsterdã, na Holanda. Era uma noite fria de março e estávamos encarregados de comprar imensos filtros para um laticínio a ser inaugurado em Belo Horizonte. Tomamos uns drinques no bar do hotel e nos recolhemos para enfrentar uma jornada de negociações com os fabricantesdos filtros.
Viajava com um sobretudo que o Ronald havia me emprestado. Ele era verde exército, de pura lã e, por onde passava, tinha a sensação de que as pessoas queriam bater continência para mim. Isto porque talvez inspirasse uma patente de general de qualquer força militar. 
Saímos bem cedo, às sete da manhã para a fábrica, que distava alguns quilômetros do hotel.  Fomos recebidos por um alegre diretor que logo percebemos ser o Manda-Chuva da empresa. Apresentou-nos, formalmente, a dois outros diretores, pediu licença e retirou-se. Expusemos nossas necessidades, tais e quais filtros, com as especificações técnicas queo Barbier, nosso laticinista francês que nos acompanhava na árdua missão e atestava a qualidade e uso correto do equipamento.
Fizemos uma visita à imensa fábrica, especializada em filtros em aço inox, que variavam de pequenos volumes até os de toneladas de litros. Nosso interesse era pelos maiores, pois o Jarjur havia planejado montar o maior laticínio mineiro, quiçá, o maior do Brasil. Ele não era de brincadeira!
Após a visita, outros dois holandeses assumiram as discussões do negócio, que corriam em inglês e francês, conduzidas por mim e pelo Barbier, com o acompanhamento direto do Jarjur, até que chegamos à discussão dos valores e pagamentos.  Aí, a coisa ferveu, pois havíamos pesquisado previamente e o preço final não poderia ultrapassar tantos milhões de  dólares. Não me lembro mais dos valores, mas os holandeses não  concordavam nem com a nossa oferta nem com o prazo de pagamento.
As conversações foram interrompidas para o almoço, que aconteceu na própria fábrica. No cardápio uma finíssima, e nunca provada por nós, sopa  de ostras, acompanhada de pães, manteiga e geleias.
Fomos, então, para uma terceira sala, com outros dois diferentes diretores,  encarregados de nos enfiar o preço e o prazo goela abaixo, mas nós permanecemos inflexíveis com o recurso que já estava alocado para aquela  finalidade.
Já estávamos esgotados quando, às sete horas da noite, reaparece o manda- chuva, banhado e escovado, senta-se à nossa frente e se dispõe a fechar o negócio. Não deu outra, negócio fechado. Assim, mandamo-nos para o hotel, com a nova proposta, a fim de refazer todas as contas do projeto mineiro. O orçamento inicial havia dobrado.
Vivendo e aprendendo!
Belo Horizonte, setembro/2014
rhbrandao@gmail.com

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Noventa por cento do que escrevo é invenção, o resto é mentira. Manoel de Barros

sábado, 15 de novembro de 2014

BELO HORIZONTE INTERNACIONAL
Em Monteagle, no Tenessee-EUA, participei de um seminário sobre relacionamento internacional, onde pude viver exatamente como os moradores do país/colônia da Inglaterra, naquela região fortemente influenciada pelos imigrantes franceses.
Foi uma temporada ótima onde, levando o violão pra todo lado, relembrei um cem número de country & folk songs, amparado por um coral de gringos entusiasmados com as músicas lendárias das suas terras. O monitor do grupo, Jim Christie, também violonista, fazia os solos nas cordas de aço da sua potente guitar.
Monteagle é uma hospedagem próxima a Nashville, capital do estado, finamente restaurada e mantida nos padrões do final do século XIX por uma população de pouco mais de trezentas pessoas que cuidam da belíssima casa e da enorme área do seu entorno, com campos de pastagem para cavalos da raça quarter horse - em português: quarto de milha -, e com diversas nascentes de água pura e cristalina. Um lugar tranquilíssimo e reparador das energias para aqueles que vivem estressados com a vida nas grandes cidades. Para nós, bolsistas do grupo Fellows II, patrocinado pela Kellogg Foundation e organizado pelos Partners of the Americas, um excelente cenário para a prática da convivência internacional. Dos quarenta participantes, vinte eram americanos de diferentes estados e nós, latino-americanos,  estávamos representados por dois brasileiros - o Hélio e eu -, dois jamaicanos, Del Roy e Wilbert, um paraguaio, Flaviano, três mexicanos, Pilar, Fausto e Miguel, uma boliviana,  Martha, um costariquenho, Bernal, dois equatorianos, Eduardo e Gilda, uma salvadorenha, Helena Margarita, um de Belize, Victor, uma das ilhas St. Vincent, Nelcia e dois da Colômbia, Luis Carlos e Luis Alberto.
O projeto que apresentei para concorrer como bolsista era composto de uma série de ações necessárias ao lançamento de Belo Horizonte como local ideal para a realização de congressos e feiras. Primeiro, devido a sua ótima localização no centro do eixo Rio/São Paulo/Brasília; depois, devido ao clima temperado em grande parte do ano, e ainda a facilidade de hospedagem com bom volume numa rede hoteleira central e bem próxima do pioneiro Minascentro, o seu centro de convenções.
Esse projeto fazia parte das ações por mim desenvolvidas para a PROMINAS, que administrava o Minascentro e onde eu trabalhava.
Levei comigo um impresso trilíngue - português/inglês/espanhol, para distribuição e promovi uma palestra com o título “Belo Horizonte Internacional”. Tenho certeza de que aquela foi a primeira e ainda tímida manifestação com esse propósito, lançada por nós em 1986, mas que evoluiu e colocou a cidade posição muito bem cotada no mercado internacional, pois o Minascentro mantém até hoje um calendário de ocupação permanente, fechado para os próximos anos.
Belo Horizonte, novembro/2014.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

A poesia é o mel da palavra. Manoel de Barros

sábado, 8 de novembro de 2014

BELO HORIZONTE FLORIDA
Apesar do tempo seco, sem chuvas, a cidade está vivendo uma primavera exuberante. Chegou a vez dos flamboyants. Convivemos com eles no dia a dia sem notá-los, pois estão misturados entre as diversas espécies espalhadas pelas ruas e praças de Belo Horizonte. Eles só aparecem mesmo, poderosos, na primavera, em tons de rosa, laranja, amarelo e vermelho, como ilhas nesse imenso mar de árvores.  Acredito ser um privilégio de nossa cidade o florescimento dessa espécie em grande parte das ruas, no perímetro da Avenida do Contorno e nas grandes avenidas do seu entorno, onde um cem número de flamboyants ganham realce em meio às espatódias, sibipirunas, fícus, quaresmeiras também floridas, pinheiros, palmeiras, paineiras e muitas outras.

Na minha infância sempre andava de bonde, observando cada detalhe das ruas e avenidas, enquanto percorria a cidade. A Avenida Afonso Pena, sem dúvida, era a marca registrada e um cartão postal, com sua carreira de fícus australianos ao longo de toda sua extensão até a Praça ABC. Também a Avenida Bernardo Monteiro com seus fícus, à época cinquentenários, exibia uma exuberante massa verde, que abrigava nossas brincadeiras embaixo de suas sombras acolhedoras.  Já a Avenida do Contorno, limite convencional da área central, era então pouco arborizada, mas hoje forma literalmente um contorno verde, possível de ser observado ao sobrevoarmos a cidade nos aviões de carreira, quando também notamos, perfeitamente, o que foi concebido por Aarão Reis no plano urbanístico do final do Século IXX. A Raja Gabaglia, a meu ver, possui o mais expressivo conjunto de flamboyants que, na primavera, excede em beleza e aconchego.
Por sorte, podemos dizer que Belo Horizonte ainda pode se honrar com o slogan de "cidade jardim", a ela concedido há décadas.
 Belo Horizonte, novembro/2014
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Se você não consegue conviver com meus defeitos, jamais conseguirá com as minhas qualidades. Marilyn Monroe
Fotos: Samantha Mapa

sábado, 1 de novembro de 2014

O BRASIL DO FUTURO
Política, este não é o meu assunto preferido, até porque a única vez em que me candidatei a alguma coisa foi à vice-presidência do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito Laudo de Camargo, em Ribeirão Preto e, incrivelmente, fui eleito.
Hoje, acredito firmemente que estas eleições de 2014 marcaram a melhor fase da história republicana do país. Dois candidatos fortes, com ideias e projetos bem distintos, mas com objetivo único: melhorar o país. Assim, todos nós ganhamos. Não foi o partido do governo que ganhou, foi o país, foram os brasileiros. Ganhou a democracia.
Na dura contenda, foi montado um esquema partidário que dividiu o país em situação e oposição, apesar dos vinte e tantos partidos registrados, mas sem qualquer força unilateral, visto que os pequenos se juntaram às claras propostas dos partidos em final de disputa e concederam para nós uma única forma de atuação bipartidária em prol de um país melhor e mais justo.
Espero agora ver consolidada a grande democracia sul-americana de hoje, pois acredito que só no Brasil poderia acontecer isto. Nossos vizinhos - de sul a norte, leste a oeste - nunca tiveram a oportunidade de se digladiar em torno de uma ideia, um projeto, com tanta clareza e objetividade. E as armas - com as exceções conhecidas -, estavam distribuídas quase com igualdade, daí um resultado tão expressivo para ambas as partes. A essência da democracia, sem nenhuma pretensão didática, é a divisão de poderes, que é a sua mola mestra. O confronto de ideias, conceitos e dogmas levam sempre aos melhores resultados.
A oposição, no Brasil, nos últimos doze anos, sempre se manteve tímida e inexpressiva porque os resultados eleitorais assim determinavam. Nesse período, quem ganhou por aqui exerceu uma força política dominante, sem oposição. Já agora, nessas eleições de 2014 não, venceu o lado que se fortificou baseado em favores e gorjetas miseráveis, regionalizadas e discriminatórias, contra um programa de mudanças apresentado com clareza, competência e ideias modernas objetivando a afirmação de um país grande, genérico, total. Este é o grande tema de hoje: o Brasil, como as grandes civilizações modernas, dividido em dois partidos com ideias diferentes, muitas vezes antagônicas - como é a essência da democracia -, mas com amplos poderes de ambos os lados para discutirem e impor o melhor resultado.
Creio que chegou a hora e a vez do Brasil. Cada um com sua cor, os dois antagonistas vão nos proporcionar um país melhor, pois cada um vai buscar o melhor para atender aos seus correligionários e todos nós ganharemos com isto. Os dois são fortes, são expressivos e são opostos. É disto que o país precisava: duas forças equiparadas em poder para lutar por um Brasil livre e soberano.
Belo Horizonte, 29 de outubro de 2014.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
A diferença entre um estadista e um demagogo é que este decide pensando nas próximas eleições, enquanto aquele decide pensando nas próximas gerações. Winston Churchill 



                                         Sir Winston Churchill

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