quarta-feira, 24 de dezembro de 2014



PERIGO EM DENVER
Eram quase onze horas da manhã, véspera de Natal, eu estava em Denver, no Colorado, descendo a Avenida Broadway em direção à Larimer Street para comprar umas lembrancinhas quando, ao dobrar uma esquina, deparei com uns caras muito esquisitos - roupas misturadas de maltrapilhos e índios -, figuras muito suspeitas.
Meu amigo José Gonçalves já havia me prevenido sobre esses estranhos personagens. São índios errantes que vão de um lugar a outro, esperando a chance de furtar algum dinheiro, para comer, ou de levar alguma coisa vendável para fazer dinheiro.
Eles eram três, mas não me intimidei. Enchi o peito e pensei, de dois eu dou conta, pois eram franzinos. Dou um chute por baixo num deles e, enquanto ele grita dou um murro na cara do baixinho e fico pronto para enfrentar o grandão. De mim eles não vão levar nada, só o cadáver!
Continuei meu caminho na rua deserta. Eu de um lado e eles do outro, encarando-me ameaçadoramente.
Naquele momento, em segundos, pensei em tanta coisa: já corri de uma prostituta em New York até me esconder numa galeria de lojas; já despistei pixotes no Rio, em pleno calçadão de Copacabana; já me escondi de uma turba que lutava por direitos civis, em Paris, e eu no meio; já saí correndo de um bar em Ribeirão Preto, o “Três Garçons”, às cinco da manhã, quando os cafetões foram buscar, a tiros, as suas preferidas, que jantavam conosco, depois de uma noitada feliz; já coloquei uma máscara de coiote para ir a um baile em São Paulo, onde só aos sócios era permitida a entrada. De lá, também, saímos corridos, depois de um entrevero com namorados ciumentos.
Assim, depois de tantas peripécias, não seria naquele domingo, em Denver, que eu encerraria minha vida aventureira. Enchi de novo o peito e continuei no meu caminho, quando os suspeitos atravessaram a rua vindo em minha direção.
Por pura sorte, naquele exato momento, estaciona um ônibus de turistas em frente ao Brown Palace Hotel, que descem em barulhenta algazzarra. Meti-me entre eles e fui empurrado hotel adentro, de onde, através da porta rolante, fiquei de olho nos delinquentes.
Desisti de ficar zanzando na rua, sentei-me no aconchegante Captain`s Bar e tomei, de um gole, o Jack Daniels straight. Aí, entrou alguém com um violão, meio desanimado, tocou algumas canções americanas e, a meu pedido, cedeu o violão para que eu tocasse umas músicas brasileiras...e foi um arraso. Ufa!

Belo Horizonte, dezembro/2014.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

 “ Desta vida a gente só leva a alma. Cuide bem da sua !!! ” – Anônimo

sábado, 20 de dezembro de 2014

O HOMEM DAS “NUVENS AZUIS”
Com este título, só poderia tratar nesta crônica sobre a vida de um sonhador. E ele era.
Nascido de uma família pobre no Serro, então distrito de Diamantina, Redelvim saiu de casa para entregar mulas e acabou encontrando os cristais que povoaram a vida dele de alegrias e lhe proporcionaram amealhar uma das maiores fortunas de Minas Gerais.
Morando em Belo Horizonte e com a família formada, entrou num DC-4 da Pan-American. Sozinho e sem falar uma palavra em inglês aportou em Nova York com umas pedrinhas no bolso do colete para tentar vendê-las a empresários americanos. Começava ali a história do "Rei do Cristal", apelido que recebeu da grande elite industrial brasileira ao montar uma exportadora das pedras mineiras. Isto, em plena Segunda Guerra Mundial, quando o cristal se prestava a inúmeras utilidades para os sofisticados aparelhos projetados pelo MIT - Massachusets Institute os Technology, em Cambridge.
Mas ele não parou por aí. Continuou sonhando e no velho alambique da Fazenda Boa Esperança, em Santa Luzia, destilou a primeira garrafa da aguardente que batizaria de “Nuvens Azuis”.
Esta é uma pequena introdução à história que estou escrevendo sobre o Redelvim Andrade que, na foto gentilmente remetida pelo seu primeiro neto Henrique Oswaldo, aparece ao lado do primeiro alambique da “Nuvens Azuis”.
Aos leitores, parentes e amigos do produtor da famosa cachaça, que queiram colaborar, peço a gentileza de me enviarem histórias, fatos e acontecimentos relativos à vida dessa extraordinária figura. Muito obrigado.
Belo Horizonte, dezembro de 2014.
rhbrandao@gmail.com


FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Não se acostume com o que não o faz feliz. Fernando Pessoa


sábado, 13 de dezembro de 2014

A PRIMEIRA NOITE COM JULIE
Já nos conhecíamos há algum tempo, mas nunca havíamos tido qualquer compromisso. Era mais um flerte, que evoluiu até ela passar uns dias comigo, lá na Toca. Àquela época, ela estava com a prima Brisa e não houve clima para nada mais sério.
Agora, alguns anos depois, fiquei sabendo, pelo pessoal dela, que à simples menção do meu nome, sua fisionomia se alterava com algum interesse. Pensei logo, aquele nosso encontro havia sido muito bom mesmo e, naquela ocasião, a prima ciumenta não deixou que ela se aproximasse mais de mim. Ciúme de prima é fogo!
Depois dessa conversa, manifestei vontade de revê-la. Eles ficaram muito satisfeitos, pois iriam passar uma semana num resort na Bahia e ela não iria. Ainda estava muito triste com a morte prematura da prima, no ano passado.
Combinamos tudo e, no fim da tarde, antes de tomarem o rumo do aeroporto, eles deixaram-na lá em casa. 
Coloquei um CD mais moderninho na vitrola, ofereci-lhe uma bebidinha e, como da outra vez, ela preferiu água. Ofereci-lhe uns tira-gostos, mas ela também recusou, preferindo uns bolinhos que mais pareciam ração. Ela estava meio desambientada e decidi não incomodá-la, afinal, vaidosa como poucas, poderia estar fazendo algum regime. Melhor não insistir.
Ficamos por ali sem muito papo. A Toca é muito pequena. Não tem jardim com um banquinho romântico, não tem quintal para um passeio na horta, enfim, há muito pouco o que fazer por lá. E, sem qualquer clima, resolvi encerrar a noite e ir pra cama, quem sabe isto não melhoraria o humor dela?
Na cama, até foi carinhosa e aconchegante, enroscou-se nos meus braços, lambeu minhas mãos e preferiu acomodar-se aos pés da cama, entre minhas pernas. Cada qual com sua mania, pensei.
No meio da noite, Julie saiu da cama rosnando e foi dormir debaixo da cadeira, numa almofada que havia caído no chão. Vá entender a raça feminina!
Belo Horizonte, dezembro 2014.
rhbrandao@gmail.com
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Não se acostume com o que não o faz feliz. Fernando Pessoa
Foto Google.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Foto Google.
RESTAURANTE FILOMENA, NA CAPITAL AMERICANA
Era tarde da noite. Depois de um dia apertadíssimo de seminários, palestras e encontros nos escritórios do POA, Margarita e eu pegamos o subway em Washington/DC, em busca de um restaurante ainda aberto. Ressalte-se que os trens na capital americana são muito chiques e as estações limpas como as salas das nossas casas, nem uma poeirinha no chão.
Descemos na estação Georgetown, bairro famoso pelo comércio e vida noturna intensa, e nos embrenhamos pela Wisconsin Ave, aonde topamos com o restaurante Filomena. Grata surpresa, pois logo percebemos tratar-se de uma cantina famosa da região.
Sem reservas, conseguimos uma boa mesa e ficamos curtindo a descontraída decoração, repleta de adornos: quadros de todos os tamanhos e formas,  estatuetas de vidro, madeira e barro, bandeiras, pratinhos, panôs e uma parafernália de objetos tipicamente italianos, como os muranos, e mais outros produtos da terra.  Ambiente muito aconchegante, sem dúvida.
Deliciamo-nos com fartos pratos da saborosa comida, especialmente o fagotini ao molho pesto, que repetimos até raspar os pratos. A pasta veio acompanhada de um excelente vinho italiano, com a uva San Giovese, uma das minhas preferidas.
Depois do lauto jantar,  curtindo um friozinho de oito graus no rosto, decidimos voltar a pé até o Centro de Convenções, aonde estávamos hospedados.  Durante a caminhada, começamos a fazer os planos para as próximas etapas do programa Fellows, que previa uma estada no Equador - Guaquil, Cuenca e Quito; uma no Brasil - Fortaleza e Brasília; uma em Monteagle, no Tennessee/USA – sobre a qual já comentei aqui -; e uma última  na Jamaica, em Ocho Rios, também já registrada. Bons tempos, aqueles!
Belo Horizonte, 2014.
rhbrandao@gmail.com
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Para que o mal triunfe, basta que os bons fiquem de braços cruzados”, do político e filósofo irlandês Edmund Burke