BENDITO AUTÓGRAFO
Andava meio
perdido numa rua em Washington/DC, nos Estados Unidos, violão nas costas,
quando vi um letreiro na porta da boate Rainbow
Grill, que dizia: Tonight Charlie
Bird from 9 to 12. Free entrance.
Uau! pensei - Ele
é um dos maiores violonistas do mundo! Não perco essa, por nada. Na verdade, lá
no Tio Sam eles chamam esses violonistas de guitar
players. Questão da língua. Guitar
em inglês é o nosso violão e todas as outras variações de violões elétricos.
Mas eu sabia que Mr. Bird tocava violão com cordas de nylon, como o que eu
levava nas minhas costas,
brasileiríssimo, feito sob encomenda à Giannini pelo Cantinho da Música, loja
especializada em Ribeirão Preto/SP.
Cheguei ao
apartamento, que havíamos alugado num bairro simples da cidade, e falei aos
meus amigos: Para hoje, temos programa. Vamos ouvir o maior violonista
americano de jazz no momento, vocês topam? Mas, quanto custa? perguntaram; pois
vivíamos numa dureza danada. Gritei pra eles: Entrada free!
Às oito e meia,
estávamos à porta da boate, quando recomendei aos meus amigos, por favor, não
falem que eu toco violão; viemos aqui para ouvir o mestre, ok? Todos
concordaram e entramos. O Rainbow Grill
era uma boate simples, de jazzistas, portanto, somente para apreciadores da boa
música, que se supunha, seriam ouvintes comportados e silenciosos a cada música
apresentada.
Mas, alguns
whiskies depois, o Manoel levantou-se e, apontando para mim falou: Mr. Bird, our friend here is a brazilian
guitar player. Fiz aquela cara de imbecil e aquiesci com a cabeça. Mr. Bird
levantou-se e me convidou a acompanhá-lo até a cozinha; ele, com o violão na
mão: Which songs do you play? Please
do it. Encabulado, peguei o violão e toquei algumas canções em solo: Berimbau, Canto de Ossanha, O Astronauta, do Baden e do Vinícius, e
Garota de Ipanema, do Tom Jobim/Vinícius, que faziam parte do meu melhor
repertório. Eram as canções brasileiras do momento, nos Estados Unidos. Mr.
Bird sorriu e disse: I`ll have a break
now, could you please go back to the stage and play some?
Resultado: toquei
por meia hora, quando então Mr. Bird voltou empunhando um outro violão e improvisamos uma dupla até
à meia-noite, com bateria e baixo nos acompanhando.
Foi, para mim,
uma noite de glória total, pois, conservo até hoje o autógrafo de Mr. Bird com
os seguintes dizeres: Thanks Roberto for
your music.
Belo Horizonte,
setembro/2015.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“Tudo que não
puder contar como fez, não faça.”
Immanuel Kant