sábado, 26 de março de 2016




DIVONE, le jeux son faites
Aterrissamos no aeroporto de Genebra numa noite escura de janeiro de 1980. O nevoeiro cobria totalmente o salão de desembarque e ainda não havia fingers, aqueles túneis que ligam os aviões aos salões para recolhimento de bagagens. Pegamos nossas malas, o Jarjour, o Barbier e eu e embarcamos num ônibus/limousine, que nos transportou até o Hotel Meliá, bem no centro da cidade.
Ajeitamos-nos e descemos para um uisquinho reconfortante no restaurante do hotel. Experimentamos um goulash  húngaro forrado de batatas, pelando, com arroz branco e um vinho Bordeaux da fronteira próxima.
Vou levá-los a Divone - falou o Jarjour -, cidade francesa bem na fronteira, onde o cassino funciona a noite toda. Vocês gostam de um joguinho? Poker, Bacarat, Chemin de fer e roletas à vontade?
Vamos lá.
Alugamos um carro e partimos pela bela estrada, com uma temperatura abaixo de zero e alguma neve.
Eu só conhecia cassinos de Montevidéu e Buenos Aires e alguns clandestinos em São Paulo, mas nunca havia visto nada tão suntuoso, como aqueles de filmes hollywoodianos. 
Nos caixas, espalhados por todo o salão, compramos algumas fichas e nos aventuramos na jogatina.
Ficamos nas roletas, pois nas mesas o risco seria enorme.                  Elas são conduzidas por profissionais do baralho que se dispõem a lhe proporcionar todas as emoções possíveis num carteado eletrizante. Os croupiers, elegantérrimos, de smoking ou summer jacket, convidam os milionários presentes para arriscarem suas fortunas num carteado profissional. Eles dominam o manuseio dos baralhos com uma agilidade e velocidade impressionantes.
Os jogos de baralhos são trocados, sistematicamente, não sei a qual intervalo, pois estão sempre disponibilizados pelas centenas de atendentes do cassino, que ficam passeando pelos salões.
Já bem tarde voltamos para Genebra com os bolsos vazios, mas felizes com a aventura nas roletas.
Foto: Google 
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

A felicidade está nas pequenas coisas: uma pequena mansão, um  pequeno iate e uma pequena fortuna...Anônimo

terça-feira, 22 de março de 2016



BAR, BOLIXO E BOTEQUIM
Para o meu gosto, esse é o melhor ambiente no mundo, pois sempre fui botequineiro. No Rio Grande do Sul, apesar de muito pequeno - menininho mesmo - vivia pedindo à mamãe para me levar àqueles lugares nas esquinas, que cheiravam a cigarro, chão imundo e sempre com gente muito alegre, cantando e sorrindo. Não existe ambiente melhor: alegria, cantoria e bebedeira.
Para os gaúchos, o “bolixo” não é lugar de arruaça. Geralmente são limpos e organizados, mais até que os bares de São Paulo, por exemplo, onde os tiradores de chope ficam sem parar limpando os balcões, quase sempre de um mármore encardido e gasto. Em Sampa, seus principais frequentadores são gente ordeira, geralmente da própria vizinhança, que conhece o dono do bar desde que ele se mudou para o bairro. São todos seus amigos e não buscam sofisticação. Ele se contenta em faturar de manhã, com a média e o pão com manteiga para os diversos operários, que por ali passam diariamente a caminho do trabalho. À tarde, mais alguns fregueses para o pedaço de pizza e um copo de refrigerante morno e, à noitinha, aparecem os assíduos tomadores de cerveja e cachaça, que vão ficando até ter de convidá-los a se retirar porque no dia seguinte vai começar tudo de novo.
Em Belo Horizonte os botequins fazem sucesso. Ficam
abertos a partir das oito da manhã, com cafezinho no balcão.  
Das seis em diante, a coisa ferve com muita gente. Butiquim é coisa de mineiro. São famosos por aqui o Tavares, o Barbazul,  a Cervejaria Brasil, o Tip-top e o mais famoso de todos, o Pelicano, instalado no Edifício Maleta que, durante mais de cinquenta anos abrigou a nata da boemia da cidade. E eu era um deles, felizmente.
De vez em quando eu brinco Vou tomar um chope no Maleta, mas, se não chego até lá fisicamente, fico aqui na Toca com a lembrança da alegria, da cantoria e da bebedeira. Adoro o Maleta!  
Foto Google
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“As leis devem ser obedecidas não porque são justas, mas, porque são leis.”

Montaigne

domingo, 13 de março de 2016

MGB-GT 1968: UMA PAIXÃO
No final de 1970, troquei com o Julianete Cabral um Karman-Ghia GT, branco, muito novo, por um MGB-GT 1968, azul-marinho metálico. Um clássico inglês. Nascia ali uma paixão irresistível. Só os amantes por automóveis conseguem entender este sentimento tão forte.
Carro esporte, dois lugares, que já fazia, à época, de 0 a 100 em menos de 5 segundos. O carrinho era uma bala e estava muito bem conservado. Usei-o durante anos até que fui abalroado, como dizem os peritos de trânsito, por um Fusca desgovernado em frente ao Colégio Estadual. Fiquei desolado! Sentei-me ao lado do carro e fiquei alisando a lataria dianteira toda amarrotada. O rapaz que me abalroou, gentilmente, foi me pedir desculpas,   dizendo-se um motorista novato, que se encantou com o meu carro e não conseguiu desviar... foi chegando, chegando, até bater.
Comprometeu-se, então, a pagar o conserto, o que cumpriu religiosamente, e ainda me ajudou a chamar o guincho para levar a joia até uma oficina no Carlos Prates, onde um funileiro amigo dele ficaria encarregado dos desamassos. Mas, o pintor, eu ponderei, seria um da minha confiança, o Joaquim.
Aproveitei para pesquisar sobre o carro e descobri outras cores, também de fábrica, para a mudança da pintura. Gostei do amarelo e mandei fazer o serviço. O MG ficou lindo, clarinho, uma joia renovada.
E foi mais uma temporada de viagens pelo Brasil afora com aquela máquina maravilhosa. Muitas horas de prazer ao volante do MGB-GT 1968.
Um viva à vida motorizada!
Fotos P&B: Ronald Andrade
Foto colour: Google
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

“Pobre do Estado que precisa de soldados e magistrados.” Anônimo

domingo, 6 de março de 2016

PALÁCIO DAS ARTES
Num determinado dia, o meu chefe, Dr. Roberto Lúcio Rocha Brant, então secretário-adjunto de Planejamento e Coordenação Geral do Governo do Estado de Minas Gerais, encarregou-me de criar juridicamente uma empresa que seria a responsável pela instalação e funcionamento de um espaço cultural, então, recém-construído no Parque Municipal de Belo Horizonte. O responsável pelo briefing seria o Dr. Pery Rocha França, que, em seguida, assumiria a gestão daquele centro cultural. Estava nascendo ali, a empresa que ficaria encarregada da gestão do Palácio das Artes.
Como assessor-jurídico daquela Secretaria e muito honrado com a missão, dediquei-me ao estudo e conhecimento do assunto do que havia no Brasil referente ao assunto. Não eram muitos os exemplos: o Teatro Amazonas, os Teatros Municipais de São Paulo, Rio de Janeiro e Ribeirão Preto/SP, cujas estruturas se encaixavam de alguma forma naquele extraordinário projeto arquitetônico do mestre Oscar Niemeyer.
Programei uma visita àqueles lugares para conhecer suas origens, seu embasamento jurídico, suas instalações, equipamentos e pessoal encarregado dos serviços.
Daquele conjunto de informações, montei um projeto de lei para criação de uma fundação, que seria, então, encaminhado para aprovação na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, denominado Fundação Clóvis Salgado, em reconhecimento a um tradicional promotor da cultura mineira durante anos.
E lá se vão quarenta e cinco anos, como divulga hoje a propaganda daquele formidável espaço no coração de Belo Horizonte.
Vida longa à Fundação Clóvis Salgado!  
Foto Google
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“Só os canalhas precisam de uma ideologia que os absolva na justiça.” Nelson Rodrigues