domingo, 27 de novembro de 2016

ADEUS, FIDEL! JÁ VAI TARDE.
Infelizmente, o saldo desse grande líder nas Américas não é positivo. 
É interessante como o bem e o mal se confundem na formação de um reverenciado líder.
Neste final de semana, morreu uma das figuras humanas mais emblemáticas do século XX e muitos o estão reverenciando como um grande herói. Que nada! Quem manda enfileirar num muro (El Paredón) um grupo de pessoas, compatriotas contrários às suas ideias, e mete-lhes balas no coração não pode ser considerado herói. Ele foi sim um ditador duro e cruel.
É verdade que ele criou uma nova geração de gente alfabetizada gozando de boa saúde e uma equipe de esportistas de alta eficiência, mas tudo isto para viver numa ilha infecta e quase que totalmente destruída pela incapacidade de atuação de sua população fiel e subjugada.  Seria, então, um “comandante” que negociou com a saúde e a educação para dominar seu povo? Em termos de mundo, a União Soviética já havia tentado a mesma tese e o fracasso foi notório. 
O assunto não merece mais do que isto. 
Adeus, Fidel, você já vai tarde!
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
O preço da liberdade é a eterna vigilância. Camile de Moulain
Foto Google





domingo, 20 de novembro de 2016

Ijuí, 1945
Numa manhã Lúcia e eu acordamos loucos pra pegar nossos velocípedes e correr pelo quintal da casinha que morávamos em Ijuí, no Rio Grande do Sul. Passamos pela cozinha e a mamãe lá estava coando o café para o papai tomar e ir para o quartel bem alimentado: café com pão e manteiga, e um copo de leite. Enquanto ela preparava a mesa, ele vestia a farda com todos os seus botões e talabartes, para ajudar na montaria no cavalo Guri, um Pecheron que o Exército Brasileiro adotara para os Regimentos de Cavalaria. Era um cavalo branco, grande, muito fogoso, inteiro. A raça, de origem francesa, lhe atribuía características bem próprias para o serviço militar: macio de sela, muito forte e resistente e com boa tração. O Guri era um belo exemplar! 
Naquela vidinha simples, o padeiro deixava na porta de cada casa na Vila do quartel, uma ração de pães para o dia - um pãozinho para cada morador, e um litro de leite, que vinha naquelas garrafas típicas. Mamãe mantinha uma pequena horta com alfaces, espinafres, couve, salsinha, cebolinha e tomates. Assim, nossas refeições eram simples e saudáveis, com arroz, feijão, frango e ovo do próprio galinheiro, complementadas com as folhas. O cardápio era único, variando, de vez em quando, com batatas fritas, cozidas ou puré, e muito raro, raríssimo mesmo, um bife frito. Curioso, não me lembro de comer macarrão naquela época.
Naquele dia, saímos de casa atrás dos velocípedes e não os encontramos. Voltamos desapontados e murchos, quando o papai falou: “Os ciganos devem ter roubado os velocípedes. Quando eu cheguei, ontem à noite, eles estavam começando a armar o acampamento ali no campo de futebol.” 
Quando o papai saiu, furiosos e curiosos, demos as mãos para a mamãe e fomos até o quintal para dar uma olhada no acampamento. Vizinho ao muro de fundo do nosso quintal havia um campo gramado onde a soldadesca jogava futebol nos fins de semana. 
Naquele dia, havia lá um bando de umas mil pessoas, com duas barracas enormes em volta de uma tenda, onde havia dois fogões, com a lenha espalhada por todo canto. Parecia um hotel rústico. Numa das barracas dormiam os homens solteiros, e na outra, as donzelas, rodeados por diversas barraquinhas, onde ficavam os casais com os filhos menores. E a lenha servia, ainda, para as grandes fogueiras noturnas, pois o frio era bravo. Banheiros não havia. De acordo com a lenda, as necessidades eram feitas no espesso mato ao redor. “E o banho, mamãe?” perguntou a Lúcia. “Ah, minha filha, eles devem se lavar naquele rio que passa lá do lado do quartel do seu pai.”
De longe, fomos vasculhando com os olhos para todo canto e não vimos os velocípedes. Eles haviam sumido para nunca mais.
Belo Horizonte, dezembro, 2013.
 
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS 
É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do que falar e acabar com a dúvida. Abraham Lincoln, 1809-1865

domingo, 13 de novembro de 2016

PERDIDO NUMA TARDE FRIA
Os dias nublados são sombrios e tristes para nós que vivemos neste glorioso país tropical de sol e abundância de claridade. E foi num dia assim que eu me sentia, num domingo de outono em Denver, no Colorado. Sozinho e a pé caminhava meio sem rumo no centro da cidade, quando me encontrei com um grupo de índios.
O meu amigo José Gonçalves, à época presidente do Partners Colorado, já me havia alertado para esses grupos de índios que perambulam pela cidade, aos domingos, para levantar algum trocado com algum estrangeiro perdido. Naquela época, os assaltantes não buscavam celulares, só dinheiro vivo mesmo. E eu, duro como sempre, andava por ali para chegar até à Larimer Street, onde encontraria   outros perdidos naquela tarde fria.
Não me intimidei, continuei firme na minha trajetória, quando um deles se aproximou e me perguntou: Wher` you going, latino? Não respondi e ele continuou a me seguir com aquela catinga de quem não toma banho há meses. Apressei o passo e ele veio firme, com os comparsas do outro lado da rua me olhando fixo. Mais um pouco e percebi que ele mexia nos bolsos. Pensei: buscando uma faca ou qualquer arma para me atacar. Fiz uma análise rápida. Ele era bem menor do que eu, franzino, mas estava em vantagem com os outros três do outro lado da rua.  Naquele momento, por sorte, vi que um ônibus se aproximava. Fui em sua direção e entrei para ir até qualquer lugar. Por coincidência, ele passaria pela Larimer St. Ufa, que alivio!
Uma informação: aos domingos, numa cidade média americana como Denver, os coletivos são raros aos domingos. Só mesmo um raríssimo para salvar um perdido nas suas ruas frias e desertas.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Aquilo que você imagina é aquilo que você sabe. Mallarmé


                     Downtown Denver - Foto Google


terça-feira, 1 de novembro de 2016


ALDEIA GLOBAL
No princípio foi um susto. Depois, fui me acostumando e comecei a vasculhar nas minhas coisas para ver se encontrava algo relacionado àquela época e que pudesse reavivar as adoráveis lembranças de uma viagem aos Estados Unidos, em 1965, patrocinada pelo programa Experiment in International Living.
O programa oferecia passagens de ida e volta e estadia em casas de família, cujo titular, profissional estabelecido, abria uma vaga no seu escritório/consultório para o estudante que se classificasse, a fim de cumprir um estágio que seria validado como regulamentar para o encerramento do curso. As vagas, oito, eram abertas somente para estudantes que estivessem cursando o último ano em suas faculdades e, naquele ano, eram oferecidas, somente, para o estado de São Paulo.
Preparei-me para a entrevista, que seria realizada nas dependências de um curso de inglês, em Campinas. De ônibus, me mandei pra lá.  No horário aprazado, apresentaram-se 62 estudantes, inclusive dois amigos meus de Ribeirão Preto, onde morávamos - o Ronaldo e o Manoel, estudantes de Medicina - e eu, da faculdade de Direito. Fizemos as provas e entrevistas e nós três fomos classificados. 
Em janeiro de 1965, viajamos para Highland Park, cidade da Região Metropolitana de Chicago, Ill, nos Estados Unidos, onde fomos recebidos no aeroporto pelas famílias que nos acolheriam.
Ainda faziam parte do grupo cinco estudantes de outras escolas paulistas, sob o comando do também estudante Renato Craide Cury, escolhido devido à sua vasta experiência em intercâmbios estudantis como líder de grupos. 
Na pequena cidade viramos a atração da temporada e nos enturmamos com os estudantes locais - alguns filhos dos casais onde estávamos hospedados - e fomos formando um grupo que se encontrava para diversos programas em Chicago: churrascos, passeios e atrações como teatro, cinema, música, galerias etc. 
Quanto ao susto, refiro-me à aparição no Facebook de uma amiga daquele tempo, Judith Koenigsberg - a Judy, da qual não tinha notícia há 48 anos -, solicitando minha amizade. 
Foi uma surpresa e tanto e aqui vale uma divagação! O mundo virou mesmo aquela aldeia global sugerida, em 1964, pelo filósofo canadense Marshal McLuhan, no livro Understanding Media, traduzido para o português como Os meios de Comunicação. Como poderíamos supor naquela época que um de nós, quarenta e oito anos depois, através de um programa de computador, pudesse localizar alguém completamente desconhecido, digo, sem nenhuma notoriedade, no interior do Brasil, com quem nunca mais se relacionou ou teve qualquer notícia? Aquela menina, hoje uma senhora, me contou que viu minha foto no Facebook, tocando violão, e lembrou-se de mim naquela época, cantando bossa nova, em Highland Park. Queloucura! E hoje, estamos nos entendendo como se fôssemos vizinhos e em contato pela vida toda. 
Belo Horizonte, dezembro 2013
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS 

A vida necessita de ilusões ...
Então, para viver, necessitamos da arte a cada momento.
F. Nietzche